quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Golpes de Génio - I'm Not There

Realização: Todd Haynes
Argumento: Todd Haynes
Elenco: Cate Blanchett, Christian Bale, Heath Leger, Richard Gere, Ben Wishaw, Marcus Carl Franklin

'There he lay: poet, prophet, outlaw, fake.. star of electricity. God rest his soul and his rudness.'

Contamos histórias. Falamos de homens, de vidas e, no fim, parece sempre faltar algo. I'm Not There não é um filme biográfico, é uma viagem pelas muitas vidas de Bob Dylan - do que foi, do que se tornou e do que gostaria de ter sido. É uma viagem pela alma de um dos artistas mais importantes do último século - e feito com tanto amor, com tanta inspiração que acabamos por admirar Dylan não como um todo, mas como uma soma das suas partes.

A viagem começa num comboio. Dylan é um rapazinho negro (Marcus Carl Franklin) cuja fala e música carregam em si o peso da idade - 'Live your own time child. Sing about your own time'. Salta de comboio em comboio, de família em família e visita o seu velho herói Woodie Guthrie no hospital (algo que Dylan nunca teve oportunidade de fazer). Dylan é um músico folk (Christian Bale) tornado padre. Passa à frente. Vimos uma mulher a chorar em frente à televisão - a guerra do Vietname acabou, e com ela a sua relação. É a primeira mulher de Dylan (Heath Ledger). Os tempos mudam, e Dylan (Cate Blanchet) muda com eles. Traiu o seu público. Abandonou o folk. É uma estrela de rock. Não. Agora é um bandido a cavalo (Richard Gere) que vai errando pelas estradas perdidas da memória, esquecido do caminho para casa.

A idade, a cor da pele, o cenário ou a época não são importantes. Bob Dylan foi todas estas pessoas e não foi nenhuma. Enquanto espectadores, somos transportados pelas músicas e pelas histórias - mas não nos é permitido interferir. Acabamos o filme um pouco mais perto do homem, mas sem nunca saber o que ele fez. Alguém há pouco tempo me disse que 'se nos esforçarmos muito para sermos uma coisa, mais cedo ou mais tarde não conseguimos fugir dela'. Ao longo da nossa vida não somos um, somos muitos. E os muitos que somos não se medem pelo que fazemos mas pelo que sentimos, pelo que sonhamos.

Se algum dia falarem de nós, que nos falem por dentro. Que nos mostrem pelos vários que somos. Que contem das nossas falhas, dos nossos erros, das nossas inconsistências. Que contem as vezes que falámos sem sentir, que sentimos sem falar. Que nos façam justiça, para bem ou para mal. Mas para ser: que seja a preto e branco, e com Dylan a tocar por trás!


'A poem is like a naked person... but a song is something that walks by itself'

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Take This Waltz


Realizadora: Sarah Polley
Argumento: Sarah Polley
Actores: Michelle Williams, Seth Rogen, Sarah Silverman

Como é que se percebe que a maior parte da carreira da Sarah Polley foi feita como actriz? Pela importância que dá aos actores neste filme... A narrativa centra-se a 100% nos personagens que ela própria criou e o filme é deles. Que dizer sobre isso? Ainda bem que assim é...

Um filme que se percebe logo de início ser diferente. Um filme sobre casamento, um filme sobre presente e futuro, um filme que coloca tudo em causa e que não resiste a dar-nos uma bela lição de vida. Podia ser presunçoso mas é lógico demais para o acharmos.

Na verdade a história é simples... Um casamento brincalhão onde 2 grandes amigos se amam é ameaçado por uma 3ª pessoa que personaliza aquilo que normalmente cria problemas nas relações: a novidade. Margot (Michelle Williams) sente-se atraída pela novidade e decide descobrir um pouco mais enquanto o seu marido Lou (Seth Rogen, que está fortíssimo!) continua envolvido nas suas receitas de frango.

O filme desenrola-se com momentos previsíveis e outros não tanto, o cuidado da realização da Sarah Polley toma por vezes proporções mais artísticas onde ela se "perde" em estética. Mas guess what? Nunca é presunçosa, nunca se esquece da história e, acima de tudo, nunca se esquece que a narrativa vive dos actores. 

A aparição da Sarah Silverman é fantástica e o diálogo que tem com a Margot na sua última cena, é o mais importante do filme, como disse, uma excelente comparação que nos serve de lição.

Este filme é mesmo uma excelente surpresa, das melhores que tive ultimamente.


"New things are shinny"
"New things get old..."


Golpes Altos: Actores, Realização, Narrativa simples e a facilidade com que nos identificamos com momentos da história.

Golpes Baixos: Full-Frontal excessivo principalmente da Sarah Silverman que tem um corpo mais feio que o de um homem! 


PS: A cena à mesa da Margot com o Luke Kirby (a novidade) é histórica! 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Óscares 2013



Melhor Filme: Argo
Embora fosse o favorito, não é de todo o melhor filme do ano. Para mim seria o Amour. Difícil de ver? Sim, mas tem uma dimensão única. Não me lembrarei do Argo daqui a 2 meses. Ainda antes

Melhor Realizador: Ang-Lee
Gostei do óscar. Gosto muito do Life Of Pi e gosto muito do Ang-Lee. Se merecia de caras? Não me parece... Mas os meus favoritos (dos nomeados) eram ele e o Haneke.
A academia deixou de fora o Tarantino, o P.T. Anderson e o Ben Affleck, nenhuma destas ausências se justifica minimamente.
O melhor Realizador do ano para mim, de longe, foi o P.T. Anderson.

Melhor Argumento Original: Django Unchained
Entre este e o Moonrise Kingdom, venha alguém e escolha. Assim foi. Ao menos vimos o Tarantino ganhar alguma coisa.

Melhor Argumento Adaptado: Argo
Bom argumento de facto. Muito bem adaptado. Não é estrondoso mas é coeso. Menos coeso mas mais brilhante foi o Life of Pi.

Melhor Fotografia: Life Of Pi
Quem mais?

Melhor Edição: Argo
Um óscar bem entregue. Tudo bem cortadinho, tudo bem feito. O filme mais profissional do ano merecia até mais óscares técnicos. No entanto, o meu favorito era o Zero Dark Thirty.

Melhor Actor: Daniel Day-Lewis
Continuo a achar que o Joaquin Phoenix no The Master faz o melhor papel do ano. Mas se este óscar servir para destacar o Day-Lewis como o melhor de sempre... Estou de acordo! O único actor da história a vencer 3 óscares de melhor actor principal é, de facto, Top 2 dos melhores de sempre junto do Marlon Brando.

Melhor Actriz: Jennifer Lawrence
O óscar mais ridículo da noite. Se o Argo é um filme muito profissional e uma história bem contada e realizada, o papel da boazona da Jennifer não é nada disto. É meio dark/divertido mas... hey... é um papel que até a Sandra Bullock fazia.
Se a isto juntarmos o facto da Emmanuelle Riva estar nomeada... Então passa a ser um prémio anedótico. Quem conseguia fazer o papel da Riva? Poucas... tão poucas...

Melhor Actor Secundário: Christoph Waltz 
Era o óscar mais difícil. Excelentes nomeações (tirando o De Niro... Trocava-se bem pelo Di Caprio) e tinha de haver um vencedor. Entre Waltz, Tommy Lee Jones e Hoffman, o boneco dourado ficava bem entregue. Ganhou o mais "en vogue".

Melhor Actriz Secundária: Anne Athaway
Mais um óscar parvo. Gosto muito da Anne Athaway, não necessariamente por ser uma grande actriz. A minha preferida para este prémio era a Helen Hunt no 6 Sessions, sendo que se ele caísse nas mãos da Amy Adams (The Master) ou até da Sally Filed (Lincoln) não ficaria muito aborrecido. Agora... Na Anne só porque rapou o cabelo? Mas isto é o The Accused?

Melhor Filme Estrangeiro: Amour
Era o mínimo e foi o mínimo. O filme mais poderoso do ano leva uma estatueta para casa.

Melhor Filme de Animação: Brave
Sei lá... Não vi nenhum... Que dizem vocês?

Nota final bastante positiva para o Seth MacFarlane, um bom host. Com piadas em modo Ricky Gervais soft. Gostei do que vi (não vi tudo, um gajo tem que dormir).


PS: Mia Farrow no Twitter: You can tell who's doing coke.

Hitchcock



Realização: Sasha Gervasi
Argumento: John J. McLaughlin
Actores: Anthony Hopkins, Helen Mirren, Scarlett Johansson

Um dos maiores realizadores da história do cinema, um dos artistas mais consistentes da nossa história, merecia uma Biografia / Homenagem bem melhor.

Neste filme podemos acompanhar Alfred Hitchcock entre a busca pela próxima história para filmar, até à estreia do seu Psycho.
Em pouco mais de 90 minutos tentam "enfiar à pedrada" todas as velhas histórias do génio. A pancada pelas loiras que escolhia para os seus filmes, a importância do papel da sua mulher, os problemas com os estúdios e a censura, a obsessão pela morte, pelo sexo, pelos problemas que os homens têm e que ele adora trazer cá para fora pervertendo-os ainda mais. No entanto... toda esta suposta biografia é muito duvidosa, cada um com o seu registo mas não é propriamente um filme que retrate uma realidade dogmática.

O Anthony Hopkins está tecnicamente muito bem, mas é um papel cheio de matéria prima para ser trabalhado, ora não se tratasse de uma das figuras mais mediáticas de sempre. Bom resultado final? Claro que sim, o velhote continua muito coeso, mas não achei de todo estrondoso. Nota-se muito que os tiques e as expressões são excessivamente trabalhados, não vi naturalidade nenhuma.
A Helen Mirren está muito bem. Muito bem mesmo. Um papel mais simples, menos trabalhado mas sem deixar dúvida alguma do papel que a mulher teve na vida do tarado do seu marido.
A Scarlett devia ter mais importância no filme, porque as suas loiras eram de facto a maior obsessão do Hitchcock. Mas não... Rabo, mamas e lábios...

A realização tem detalhes bastante interessantes. Tenta utilizar um pouco na técnica do sósia do Churchill (sempre achei isto do Hitchcock), traz suspense em cenas relativamente simples, sugere situações que não estamos a ver mas que imaginamos, mostra muito o lado voyeur do Hitchcock, enfim, gostei do quase bom humor com que o realizador pegou nisto.

No que toca ao formato da história, a quase "vivência" que tentam criar entre o Hitchcock e o suposto assassino do Psycho é interessante e dá algum sumo à história, no entanto peca na concretização. Parece mais um pormenor colocado à "pedrada". Gosto de boas ideias, mas por favor concretizem-nas bem senão não passam de um rasgo pouco coerente.

Um dia que façam o filme do Kubrick, não o façam à pressa nem por fazer... Homenagens merecem todo o tempo do mundo. É que parecendo que não, um realizador que nunca fez nada...dificilmente pegará neste Touro pelos cornos.

Golpes Altos: Homenagem técnica do realizador em detalhes, papéis dos actores principais.

Golpes Baixos: Um filme muito fraco comparando com o que o personagem central merecia.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Gangster Squad

Realização: Ruben Fleischer
Argumento: Não existe. Não há.
Elenco: Josh Brolin, Sean Penn, Emma Stone e Ryan Gosling

Eis que chega o maior flop do ano. Ele tem cenas de acção horríveis! BAM! Diálogos absurdos! BAM! Filmagens em slow motion! BAM! Imagem TÃO digital que parece que estamos dentro dum jogo de vídeo! BAM! E claro... Ryan Gosling mega engatatão! BAM! BAM! BAM!

Gangster Squad é um filme à prova de atrasados mentais. Não, mentira. Gangster Squad é um filme para atrasados mentais. Assim é que é. Este é sem dúvida um dos piores filmes que vi este ano, com a agravante de estragar bons actores e fazer-me odiar o Ryan Gosling (já me tinha irritado em Crazy Stupid Love, mas aqui foi longe demais).

Confesso que não percebo se estes actores se venderam pelo dinheiro, ou se estão com problemas de ego e precisam de filmes que os façam parecer uns durões saídos dum clip da MTV. O Sean Penn é um atrasado mental na vida real, disso ninguém tem dúvidas. Mas e o Josh Brolin? É a crise? Não entendo...

O "argumento" deste filme - reparem nas aspas - é decalcado d'Os Intocáveis de Brian de Palma, mas em versão merda! O filme diz-se baseado em factos verídicos, mas é tão absurdo que só mesmo a base é que pode ser verídica. O realizador tem uma carreira dedicada a filmes cómicos, e isso explica as gargalhadas que dei ao longo do filme - mas pelas razões erradas. A piada do filme deriva única e exclusivamente da sua falta de qualidade - como dizia aquele cantor brasileiro: "é rir pra não chorar".

Os personagens são brilhantes. Seguem o molde super-herói, em que cada um é identificável por uma - e apenas uma - característica. Josh Brolin o incorruptível; Ryan Gosling o engatatão (e que vozinha é aquela?); Sean Penn o labrego progressivo ("eu sou o progresso" é a frase mais repetida pela personagem); depois temos um que é bom com facas, outro com pistolas, outro com cabos eléctricos e um que claramente é homossexual e namorado do gajo das pistolas.

Sinceramente... não sei que mais dizer. É triste que ainda se façam filmes assim, e é triste vivermos num mundo onde existem pessoas que gostam deles. Por outro lado, pode funcionar como o tal factor de diferenciação. Mas não se preocupem, não é preciso ser-se um génio para se perceber a mediocridade deste filme - é de caras. BAM!


Golpes Altos: Errr... O guarda-roupa é fixe! Ah e o Ryan Gosling leva um soco no nariz para parar de falar pelo rabo.

Golpes Baixos: Não sei por onde começar...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Golpes Indie - Jeff, Who Lives At Home

Realização: Irmãos Duplass
Argumento: Irmãos Duplass
Elenco: Jason Segel, Ed Helms e Susan Sarandon

Jeff vive em casa da mãe. Jeff fuma ganzas. Jeff tem 30 anos e é solteiro. Jeff vê e revê o filme Signs, à espera que um dia a coincidência dos copos de água se repita - mas desta vez com ele, e não com a filha de Mel Gibson. Jeff acredita piamente que tudo o que acontece na vida, acontece por uma razão e que todos temos um papel a desempenhar neste mundo. Esse papel, segundo Jeff, é determinado pelo nosso próprio percurso, pelas escolhas que fazemos, e é nossa obrigação andarmos atentos aos sinais do universo. Jeff fuma mesmo muitas ganzas.

Esta é a história de Jeff (Jason Segel), do seu irmão (Ed Helms) e da sua mãe (Susan Sarandon). São três pessoas em status-quo, à espera que algo lhes aconteça na vida, mas sem perceberem bem o quê. É a história da importância da família, e da importância da inocência e da boa-vontade, do espírito aberto, do amor e da compreensão. Sinceramente, a mensagem deste filme é das mais bonitas e profundas que tenho visto, mesmo que a forma escolhida não tenha sido brilhante.

Os irmãos Duplass (Jay e Mark) são duas figuras de relevo no panorama indie, sendo este já o seu quarto filme. Jay é o mais introvertido dos dois, mas aquele que mais contribui para a escrita dos guiões. Mark expõe-se mais - tocou numa banda de indie-rock, foi protagonista dos filmes Safety Not GuaranteedYour Sister's Sister e da série The League. Juntos funcionam bem, com as suas diferenças e idiossincrasias. Um pouco como as duas personagens principais deste filme, estes irmãos entreajudam-se de forma a conseguirem uma maior compreensão do universo e daquilo que lhes reserva.

Jeff, Who Lives at Home começa por satirizar os losers deste mundo - os parasitas, os infelizes, os frustrados, os traídos, os coitadinhos - "You spend your whole life waiting to find out what your destiny is. And when you do, it just isn't that exciting.". Mas de repente curva, e dá-lhes uma esperança. É uma chapada de luva branca às mentes mais racionais - pede-lhes que parem, não pensem, se mantenham puros de coração e atentos aos sinais do universo. Quando derem por si, deixaram uma pegada no mundo e, se tiverem sorte, uma que nem o tempo consegue apagar.


Golpes Altos: Os três actores principais. O guião.

Golpes Baixos: A realização não é brilhante, como aliás não é a de nenhum filme dos irmãos. Falta-lhe uma melhor banda-sonora.


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

The Perks of Being a Wallflower

Realização: Steven Chbosky
Argumento: Steven Chbosky, baseado no livro de... Steven Chbosky
Elenco: Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller e Paul Rudd

Já aqui falámos de filmes que nos entretêm, filmes que nos fazem rir, filmes que nos mostram o pior e o melhor de nós, filmes que nos dão a conhecer mundos diferentes do nosso e ainda aqueles que nos deixam avançar uns anos no tempo e espreitar para o que o futuro nos reserva. Mas há um outro tipo de filme. Um tipo de filme que não acrescenta ou antecipa nada, mas apenas nos recorda aquilo que já fomos ou aquilo que poderíamos ter sido.

The Perks of Being a Wallflower é um filme de adolescentes, não vos vou enganar. E não é para qualquer tipo de adolescentes. É só para aquela fina nata que conseguiu passar despercebida durante os anos do liceu, e mais tarde acabou por vir à tona e superar os insuperáveis. Mas, se o filme se resumisse a isto, seria precisamente o tipo de filme para o qual eu não teria paciência. Mas não, este filme é mais que isso. É a história dum puto incrível, com todos os ingredientes para se tornar um homem incrível - mas é uma fina linha aquela que divide uma personalidade extraordinária, de mais um talento desperdiçado.

Pessoalmente, começa a irritar-me o que resultou da "vingança dos nerds" - se antes eram os jogadores de futebol e os surfistas que sacavam as miúdas, agora os fixes são os que passaram a adolescência a ouvir The Smiths e a cortar os pulsos. Isto criou o que normalmente todas as modas criam - os hipsters. De repente, os surfistas cortaram o cabelo, deixaram crescer o bigode e começaram a ler Kerouac; os jogadores de futebol trocaram as chuteiras pelos óculos de massa e as discotecas pelos festivais de Jazz ao vivo. Agora temos que olhar com mais atenção para distinguir as pessoas especiais.

Isto para dizer que não aguento nem mais um filme sobre losers do liceu a vencerem crises de identidade. Mas este filme não é sobre isso. É um filme honesto, pessoal e muito bem escrito, sobre uma altura em que ainda era diferente ser diferente.

Eu cresci no final dos anos 90 e ainda conheço aquela gente, aquela música, aqueles livros e aqueles filmes. Conheço os professores que tentam fazer alguma coisa de nós e a dificuldade em perceber o que nós somos. Conheço as paixões arrebatadoras, as miúdas que brilham no meio da multidão e os beijos que nos fazem desejar que o tempo pare e que aquele momento dure para sempre.

No fundo somos uma soma do que fomos, e este filme relembra-nos disso.


Golpes Altos: É um projecto único. Um livro, que deu um guião, que deu um filme - tudo feito pelo mesmo homem. Interpretações maravilhosas de três novos talentos. Banda-sonora saudosista dos anos '90.

Golpes Baixos: Emma Watson, pára de fazer natação. És uma miúda muita louca, mas 'tás a mandar dum trapézio exagerado e dum pescoço à Jiu-Jitsu.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

This Is 40

Realização: Judd Apatow
Argumento: Judd Apatow
Elenco: Paul Rudd, Leslie Mann, Jason Segel, Megan Fox

Lembram-se do Knocked Up, em que um gordinho judeu se aproveita de uma boazona bêbeda e acaba com um filho nas mãos? Lembram-se da irmã da boazona e do seu pacato marido? Pronto, aqui estão eles de volta. Paul Rudd e Leslie Mann são Pete e Debbie e, desta vez, o filme é sobre eles.

O título é bastante auto-explicativo. Pete e Debbie são um casal que chega aos 40 anos e, de repente, se depara com todas as complicações, neuras e frustrações de uma relação que já foi mais apaixonada, já teve mais privacidade e certamente mais mistério. Debbie mente constantemente na sua data de nascimento e Pete refugia-se na casa-de-banho para conseguir alguma privacidade - privacidade essa que utiliza exclusivamente para jogar Bejewled no iPad. Ambos têm problemas com os pais, vizinhos, filhos, colegas dos filhos e pais dos colegas dos filhos, mas adoptam a postura de quem vai em sentido contrário na auto-estrada e acredita ser o único na direcção certa.

Esta é mais uma comédia de Judd Apatow, e todos sabemos que ele não é gajo de grandes mudanças. Descobriu um molde praticamente perfeito de comédia romântica, e utiliza-o de forma limpa e infalível. Desta vez, Apatow torna a coisa ainda mais pessoal, e utiliza a sua própria mulher (Leslie Mann) e as suas duas filhas para protagonizarem o filme. Apatow está na casa dos 40, e isto leva-me a acreditar que a personagem de Paul Rudd é auto-biográfica, e a crise de Pete e Debbie é a crise de Judd e Leslie, mas com mais piada.

No fundo, este é um filme fixe - em certos momentos mesmo hilariante - com profundidade de assunto e de resolução fácil. Mas ninguém quer uma comédia romântica de resolução difícil, e Apatow sabe-o. Dito isto, a mais valia do filme é sem dúvida o elenco, liderado por um casal que é impossível não se gostar. Rudd e Mann são dois dos actores cómicos mais carismáticos cá da praça, e participações de clássicos como Albert Brooks e John Lithgow, e canhões como a Megan Fox e a Megan Fox, fazem deste filme uma agradável forma de se passar tempo, e de nos mostrar que o pior ainda está para vir.


Golpes Altos: Construção de personagens. Sentido de humor com bom gosto. Comédia para todas as idades, apesar do título restritivo. Leslie Mann a tocar e abanar as mamas da Megan Fox (sim, isto acontece).

Golpes Baixos: Podia ser mais curto. Não conhecia a vontade de Apatow realizar um filme de 2 horas e tal, e devo confessar que não faz grande sentido.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Guilty Pleasures - Point Break



Realizadora: Kathryn Bigelow
Argumento: Rick King, W. Peter Iliff
Actores: Keanu Reeves, Patrick Swayze, Gary Busey

Estreio esta rubrica esclarecendo que vamos falar de filmes que por vezes são péssimos. No entanto, quem não gosta de um bocadinho de merda de vez em quando? Uns mais que outros, a verdade é que todos temos os nossos Guilty Pleasures, daqueles filmes que vemos e revemos e se estiverem a dar pela 2ª vez na mesma semana no Hollywood, vemos novamente.

100% Pure Adrenaline!

O Point Break é um filme que adoro. Não só é a prova de que podemos ver o Gary Busey quase sóbrio, ao contrário do que temos visto recentemente, como é também um hino à adrenalina adolescente e pós-adolescente.

A história é básica... Johnny Utah, um polícia novato (Keanu Reeves) começa a perseguir pela mão do polícia mais experiente Angelo Pappas (Gary Busey) um grupo de assaltantes de bancos que actuam apenas meio ano e que têm o rabo branco mas o resto do corpo bronzeado. Atacam mascarados de Presidentes dos EUA. Isto é suficiente para colocar a hipótese de serem surfistas e o nosso novato infiltra-se no grupo mais radical da zona para confirmar a teoria do experiente. 
Teoria confirmada, começa o envolvimento emocional do novato com o grupo e especialmente com uma miúda do grupo (quem diria...). Com isto, tudo fica complicado e acima de tudo meio descontrolado acabando com algum sangue e uma onda gigante, a aclamada "Big Kahuna".

O resto? O resto é boa onda, adrenalina, queda livre, rock & roll, drogas, gajas, sexo, assaltos, dinheiro, porrada, polícias bons, polícias maus, perseguições a pé, perseguições de carro, tiros, sangue enfim... uma panóplia de ingredientes que estão sempre presentes num bom filme de ação.

Espera... eu disse "bom filme de ação"? Disse... Disse porque acho mesmo. A história é irrepreensível e o filme desenrola-se com uma naturalidade assinalável. Pouco se pode apontar ao filme no que toca a estrutura e no que toca a narrativa... Tecnicamente? Claro que terá falhas... Mas quero lá saber da realização deste filme ou da fotografia... Quero é ver o que se vai passar a seguir e a seguir mesmo que seja previsível. Quero é ver as ondas, os momentos de adrenalina, a interessante tensão quando o Bodhi (Patrick Swayze) já sabe que o Utah é Polícia, quero é perceber como é que vão resolver isto!

Keanu Reeves é bom actor? Não, não é e nunca foi. Não tem UM grande papel na carreira embora tenha alguns bons filmes (coisas diferentes). Na verdade, o melhor papel dele para mim até é no quase desconhecido Thumbsucker
Patrick Swayze era bom actor? Claro que não... As mulheres muito por culpa do Dirty Dancing não devem concordar comigo, no entanto era um rapaz bastante limitado. 
Ainda assim, fazem uma excelente dupla neste filme.

"If you want the ultimate, you've got to be wiling to pay the ultimate price. It's not tragic to die doing what you love."

Fucking Shakespeare! 

Golpes Altos: História, Adrenalina, "Coolness", Ondas e Piadas do Angelo Pappas (Gary Busey).

Golpes Baixos: Actores e roupas dos anos 90.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A Good Day to Die Hard

Realização: John Moore
Argumento: Skip Woods
Elenco: Bruce Willis, Mongo que faz de filho do Bruce Willis, Gaja óptima que faz de mázona

John Moore, meu grande filho da puta. Eu sabia que tu eras uma merda, um gordo seboso que nunca fez um filme bom na puta da vida. Também sabia que o atrasado mental que escolheste para escrever o guião é uma nódoa de Hollywood responsável por desastres como X-Men Origins: Wolverine e Hitman. Sei que os anos dourados de Die Hard já vão longe, e que aparentemente é pedir muito que se faça um filme de acção à antiga, com argumentos envolventes, anti-heróis e vilões geniais. Mas isto, John Moore, isto superou todas as minhas expectativas. O que ontem me aconteceu no cinema foi uma das experiências mais traumatizantes da minha vida.

Até tu, Bruce? Então que caia César! Oh traição, oh amarga e cruel traição! Tu Bruce, com as tuas dicas de merda, a tua postura de parvalhão e a tua nova maneira de fechar a boquinha à Zoolander - reparem na foto, ele passa o filme TODO assim. Tu eras um herói para mim, ajudaste na minha educação desde tenra idade. Tu eras o que todo o homem devia ser, e eu segui-te de olhos fechados e coração aberto, confiando em cada explosão, copiando cada manga-cava. Mas deixaste-me. Já não és o Bruce que eu conheci.

Gajo que faz de filho do Bruce, és uma merda.

E os vilões? QUE VILÕES SÃO AQUELES DEUS?! Ah são Russos que querem Urânio para armamento de Chernobyl e têm uma cena que afasta as radiações em 10 minutos e estão envolvidos no governo e mandam matar gajos e comem cenouras e fazem sapateado e PORQUÊ DEUS?!  Porque é que não ficaram em New Jersey? Porque é que se foram enfiar na Rússia? A Rússia não é fixe e principalmente não é fixe quando os Russos falam em Russo entre si durante parte do filme e Inglês noutra parte. E MUDAM SEM QUALQUER TIPO DE EXPLICAÇÃO. É isto: ненавижу американцев and launch the missiles!

E quando tudo é mau a este ponto, qual é a última esperança no coração do fã de Joh McClane? Que o Yippee Ki Yay seja incrível e nos faça levantar os braços ao céu em jeito de glória! Mas não, John Moore decidiu desperdiçar um Yippe Ki Yay numa das piores cenas dum filme que é todo feito por cenas horríveis.

Estou deprimido, e hoje não tenciono sair de casa o resto do dia. Resta-me apenas a esperança de que o 6º e último filme da saga seja realizado pelo John McTiernan e volte a dar alegria aos corações despedaçados de quem, como eu, nasceu num mundo onde terroristas de cabelo comprido louro e sotaque nórdico não levam a sua avante.


Golpes Altos: Homenagem ao 1º filme - queda do vilão em câmara lenta, cena do elevador e cena em que o vilão finge ser a vítima. A gaja que faz de má é óptima!

Golpes Baixos: Realização, elenco, argumento, sonoplastia, cinematografia, fotografia, guarda-roupa, efeitos especiais, TUDO!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Lincoln


Realização: Steven Spielberg
Argumento: Tony Kushner
Elenco: Daniel Day-Lewis, Sally Field, Tommy Lee Jones, John Hawkes, James Spader e David Strathairn


Não foi fácil formar uma opinião relevante sobre Lincoln. Dei de caras com um dos melhores elencos de sempre, com um guião brilhantemente trabalhado e com uma realização sóbria mas nem por isso menos perfeita. O que o filme me disse - essa é outra história.

Não posso deixar de me mostrar mais cativado pelo filme do que pelo homem. Abraham Lincoln foi um autodidacta, um homem com uma bússola moral perfeitamente afinada e um sentido de justiça acima do que se pedia naqueles tempos. No entanto, Lincoln não foi o líder forte que eu imaginava, o gigante de cartola que impunha respeito e cujo carisma era seguido pelas massas. Lincoln não era esse tipo de líder. Era calmo, paciente, modesto e a voz tendia a fugir-lhe para o rabo. Não fosse pela altura e o semblante cadavérico, não sei que tipo de carisma se podia esperar de um homem destes.  Mas a realidade é que o teve, e utilizou-o de uma forma ultra-racional para satisfazer a sua percepção de "bem maior".

A temática do filme é circunscrita a um determinado período histórico, de um determinado povo, num determinado contexto. Isto para dizer que é obviamente mais significativo para os EUA do que para nós - que na realidade não temos memória colectiva de escravatura, por ser um assunto há tanto deixado por terra. Por esta razão, a primeira hora de filme atingiu-me como um tanto aborrecida, e os monólogos de Lincoln referentes a uma realidade que não era a minha - o filme não estava a falar comigo, e isso adormeceu-me. Mas eis que entra a personagem de Tommy Lee Jones, Thadeus Stevens.

Stevens é, na minha opinião, a personagem mais interessante do filme (incluindo o próprio Lincoln) e aquela que mais nos prende pelo dilema que é obrigado a enfrentar, e o que resulta dele. O comic-relief vem-nos dos três Senate Whips - responsáveis pela angariação de votos democratas e republicanos - interpretados por James Spader, John Hawkes e Tim Blake Nelson. A personagem de Joseph Gordon-Levitt considero-a não só irrelevante, como despropositada, porque o filme não lhe dedica tempo suficiente para que faça sentido a sua suposta profundidade.

No fundo, não considero Lincoln um filme biográfico, mas antes um filme histórico, referente a uma situação muito concreta da história dos EUA - a abolição legal da escravatura. O interessante é a abordagem do filme no que toca à igualdade. Pessoalmente, abomino a ideia de igualdade. Considero-a não só errada como perigosa, e acho que o melhor preconceito que podemos ter é que todos os homens nascem desiguais. Dito isto, acho que todos devem ser iguais legalmente, e a todos devem ser oferecidas iguais oportunidades de vida. O que retirei deste filme é que, no direito assim como na matemática, "se duas coisas são iguais a outra coisa, então essas duas coisas são também iguais uma à outra". Mas no fundo, essa premissa foi apenas utilizado por Lincoln para conseguir algo muito concreto e prático - a abolição da escravatura - e não para publicitar uma reflexão teológica acerca da origem do homem.
E respeito o filme por isso. Por não pretender ser mais profundo do que é. É um filme histórico perfeito - Igual a tantos outros na forma, mas único pelo conteúdo.


Golpes Altos: Interpretações, argumento, guarda-roupa e cenografia.

Golpes Baixos: Discurso final fraco e péssima montagem final da vela a ser substituída pela figura de Lincoln. O que mais uma vez me prova que Spielberg é bom porque se rodeia de gajos bons - quem escreveu este argumento maravilhoso, por exemplo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Golpes de Génio - Die Hard


Realização: John McTiernan, Renny Harlin e Len Wiseman
Argumento: Roderick Thorp (baseado no livro)
Elenco: Bruce Willis, Alan Rickman, Bonnie Bedelia, Jeremy Irons, Samuel L. Jackson, Timothy Olyphant

John McClane nasceu a 23 de Maio de 1955 em Plainfield, New Jersey e, a partir desse dia, o mundo tornou-se um lugar melhor. Um lugar onde terroristas, assaltantes - ou assaltantes que se fazem passar por terroristas - não têm qualquer hipótese de sucesso. Mas McClane não é um herói comum, é só "o tipo errado, no sitio errado, à hora errada" - e é por isso que eu gosto dele.

O primeiro filme da saga Die Hard saiu em 1988 e amanhã, 25 anos depois, vai estrear o quinto. Não se preocupem, ser-lhe-á dada a devida atenção quando estrear. Mas hoje, estou aqui para falar dos outros quatro.

Ninguém pode defender que esta seja a saga mais coerente de sempre. Os únicos filmes que parecem estar minimamente ligados são o primeiro e o terceiro - pelo grau de parentesco dos vilões - e apenas os dois primeiros são passados durante a época natalícia. No entanto, é McClane que liga os filmes uns aos outros e todos são, de facto, acerca dele. Os vilões do segundo e quarto filmes são completamente irrelevantes, e Bonnie Bedelia (actriz que faz o papel da mulher de McClane) parece ter desistido de aparecer nos restantes filmes da saga. Pior ainda, no quarto filme parece existir um total desrespeito pela personalidade de McClane. Subitamente, o homem que sempre teve medo de voar é visto a guiar um helicóptero, o "herói acidental" é retratado como um badass implacável - mas a realidade é que todos os filmes funcionam, isoladamente ou como um todo. O quarto talvez menos, mas não deixa de ser um filme de acção espectacular.

E Bruce Willis criou a personagem de John McClane juntamente com o resto da equipa técnica. Quem mais poderia matar 500 000 mauzões por filme e ter sempre uma piada na ponta da língua? Willis criou o herói relutante que fala ao imaginário masculino como mais ninguém. É a eterna crise de masculinidade retratada na perfeição. O homem tem problemas com álcool, é viciado no trabalho, adora westerns antigos, tem medo de voar, é um charmoso irremediável, não aguenta o casamento mas nunca mais consegue amar outra mulher, tem problemas de relacionamento com o filho e com os namorados da filha. McClane é o que todos somos com o acréscimo de, no fim, ser sempre o herói. O que mais pode um homem ser?

Isto é tudo verdade, e nem referi o facto de estes filmes virem com uma das maiores ofertas de acção de sempre da história do cinema. É acção para todos os gostos, diálogos para todos os gostos, McClane faz-nos rir, gritar e levantar os braços bem alto quando larga um "Yippee Kai Yay" em jeito de conclusão.

Mas acima de tudo, Die Hard é um daqueles produtos que nos aquece o coração na noite de Natal, que nos faz sentir em casa mesmo quando estamos longe. Die Hard faz uso do cinema para entreter, cria laços inquebráveis entre amigos e faz-nos sentir um bocado menos sozinhos num mundo com falta de heróis a sério. E enquanto tudo na minha vida vai mudando, McClane permanece o mesmo e, por isso, estou-lhe eternamente grato.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Holy Motors


Realização: Leos Carax
Argumento: Leos Carax
Elenco: Denis Lavant, Edith Scob, Eva Mendes e Kylie Minogue

Numa crítica ao novo filme de Leos Carax, Philip French (o pedante e intelectualmente débil crítico de cinema do The Observer) escreveu: "O filme pode ser um pouco irritante para espectadores programados para filmes anglo-saxónicos". Em resposta a este comentário estúpido e condescendente, eu retribuo da seguinte forma: "Para Philip French, Leos Carax e toda a elite pseudo-intelectual que insiste em manter o cinema europeu dentro dos moldes da nouvelle vague - mesmo 50 anos depois de ter acabado - digo-lhes respeitosamente que arrumem as malas e vão pró caralho!".

'Tou farto. 'Tou farto das cenas longas demais, das críticas sociais pouco discretas, dos planos artísticos esmifrados, dos diálogos que não dizem nada mas querem dizer tudo, dos silêncios que supostamente são mais ricos que diálogos mas na realidade só revelam que não se conseguiu escrever nada decente - ESTOU FARTO!

Holy Motors não é todo horrível, não me interpretem mal. O actor principal e companheiro geracional de Carax, Denis Lavant, tem um desempenho extraordinário, a cinematografia tem um toque Lynchiano e funciona bem no ambiente do filme e a certa altura consegue ver-se um mamilo inteiro da Eva Mendes (à semelhança do que me aconteceu com o Melancholia do Lars Von Trier, aguentei 2 horas de filme para ver mamas - e valeu a pena).

A história do filme não é bem uma história, mas mais uma sequência de sketchs que pretendem funcionar como uma alegoria da vida. O personagem principal, Monsieur Oscar, é um estranho homenzinho que passeia de limousine de manhã até à noite, vestindo várias personagens ao longo do dia, e saindo para as "representar" nas ruas de Paris. O que acontece no fundo é... nada. Nada acontece, porque Monsieur Oscar não é, de facto, um personagem - mas um conjunto deles. Ou seja, o que o filme nos apresenta são segmentos de vida de vários personagens, em que nenhum deles tem grandes diálogos, profundidade ou até interesse - limitam-se a ser bizarros.

O filme aborreceu-me, irritou-me e voltou a aborrecer-me. Não senti absolutamente nada a não ser a tal irritação - será que é esse o objectivo? - não chorei, não ri, não aprendi absolutamente nada. Reconheci todos aqueles clichés do cinema europeu dos anos 60 (o doppelganger, a frustração sexual, o culto da beleza), combinados com cenas terríveis em que a Kylie Minogue desata a cantar, e cenas nojentas em que sou obrigado a olhar para o pénis erecto de Denis Lavant.

Dito isto, houve duas cenas que gostei no filme. A cena de abertura em que vimos o próprio realizador, num quarto de hotel, a descobrir uma porta entre o papel de parede a imitar uma floresta; e uma cena a meio do filme em que Monsieur Oscar pergunta à sua motorista se tem algum trabalho para ele na floresta e, quando ela lhe responde que não, ele deixa escapar um suspiro - "désolé.. me manque la forêt". Achei bonito e percebi a intenção. É simultaneamente um actor que perdeu o seu espaço, e um velho que perdeu o seu lugar no mundo.

Mas estas mensagens podem ser transmitidas num filme com diálogos ricos, com acção narrativa e, sobretudo, dirigida ao público. Este não é um filme para o público. É um filme para os cagões que vão aos festivais de cinema com um copo de vinho branco na mão. A culpa do cinema europeu não evoluir é desses merdas. Mas felizmente este ano saíram filmes como o Amour e o Tabu, para mostrar que ainda vale a pena apostar em nós.


Golpes Altos: Cinematografia, fotografia, interpretação de Denis Lavant, mamilo da Eva Mendes.

Golpes Baixos: Argumento conceptual vazio e demasiado enigmático - o Cronenberg mostrou este ano que é possível fazer um filme com uma limousine e crítica social sem se ser aborrecido.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Golpes de Génio - Apocalypse Now


Realização: Francis Ford Coppola
Argumento: John Milius e Francis Ford Coppola
Elenco: Martin Sheen, Marlon Brando e Robert Duvall

"Going up that river was like travelling back to the earliest beginnings of the world, when vegetation rioted on the earth and the trees were kings".

O livro precede o filme, mas o horror mantém-se. Apocalypse Now é a versão cinematográfica do clássico de Joseph Conrad de 1899 Heart of Darkness. No livro, Willard é Marlow, o Vietname é o Congo, mas Kurtz é Kurtz - e não podia deixar de ser. Kurtz destaca-se entre os grandes personagens da ficção universal - lado a lado com Jay Gatsby e o Grande e Poderoso Oz - porque é mais que uma personagem, é um ideal.

No filme, Willard (Martin Sheen) sobe o Mekong numa missão para matar o Tenente Coronel Walter E. Kurtz (Marlon Brando) - um condecorado militar que desertou durante a Guerra do Vietname e que, tal como no livro, se estabeleceu nas trevas da selva como um deus. Willard alimenta ao longo do filme um crescente fascínio por Kurtz, pelo seu percurso e pelo momento em que se libertou das amarras do mundo moderno e das hipocrisias e fraquezas do mundo militar.

Se esta fosse a história, Apocalypse Now seria um filme de guerra - ainda que provavelmente o melhor de sempre - mas a história é muito mais que isto. Porque a viagem de Willard é uma viagem de auto-descoberta. De certa forma, não é Kurtz que o espera no final do rio, mas o lado negro da sua própria humanidade.

A meu ver, a personagem de Kurtz difere um pouco do livro para o filme, especificamente no que toca aos seus motivos. Ambos os personagens assumem a necessidade de se apresentarem aos nativos - sejam congoleses ou vietcongs - como deuses, para que possam dominar e não apenas sobreviver. Mas enquanto Mr. Kurtz é um homem guiado pela ambição e pelo marfim, o Coronel Walter E. Kurtz é um idealista. Vê-se a si próprio como alguém que teve o privilégio de ver o mundo fora do conforto e segurança da civilização ocidental e que, como consequência disso, encontrou uma humanidade perdida - em que nada resta senão o horror. Por isso não considero Kurtz louco. O homem permanece inteligente, racionalmente lúcido - foi a sua alma que se perdeu e as suas acções são reflexo disso. Porque, no fundo, o que Kurtz faz é abraçar a imoralidade do mundo, tornando-se o seu Rei e mais cruel representante.

Mas, mais uma vez, resumir o filme a estas premissas é insuficiente. Apocalypse Now é um filme exímio na sua concepção, em que cada cena e cada episódio narrativo estão perfeitamente combinados, de forma a que não reste dúvida da sua genialidade. Podia aqui escrutinar exaustivamente cena a cena, mas corria sérios riscos de os aborrecer para sempre. Por isso, basta dizer que o considero um dos três melhores filmes de sempre - lado a lado com os dois principais do Fellini.

Com o passar dos anos, vi e revi o filme, li e reli o livro, e a minha concepção da personagem de Kurtz foi-se transformando à medida que fui conhecendo o mundo onde vivemos. Percebo-o agora melhor que nunca, e questiono-me se, naquele contexto, Kurtz não era de facto um homem iluminado, que viu mais do que os outros, e se os loucos não somos nós, que confrontamos o horror enquanto tomamos o pequeno-almoço, escolhendo não ver as trevas do nosso próprio coração.

Golpes Altos: Interpretações, realização personalizada (a forma como Kurtz é filmado, com metade da sua cara escondida pela sombra), melhor argumento adaptado de sempre, grande banda-sonora, grande cinematografia.

Golpes Baixos: Apesar de perceber a intenção de encurtar a experiência cara-a-cara entre Willard e Kurtz, faz-me falta pelo menos mais uma hora de filme.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Golpes Indie - Nobody Walks

Realização: Ry Russo-Young
Argumento: Lena Dunham e Ry Russo-Young
Elenco: John Krasinski, Olivia Thirlby e Rosemarie DeWitt

Em 1895, William Dickson conseguiu, pela primeira vez na história do cinema, gravar som e imagem simultaneamente. Dickson contou com a ajuda - suponho, preciosa - de Thomas Edison, e ambos inventaram o Kinetofone. O Kinetofone é uma variação do anterior Kinetoscópio (uma grande caixa de madeira, com um buraco para o qual se espreitava para se ver reproduzido um filme) mas, desta vez, com som. Em Nobody Walks, mais de um século depois, vimos o som a ser explorado mas desta vez como catarse, ou como uma imitação da vida.

Nobody Walks é uma curiosa abordagem ao som e às relações humanas. No seu terceiro filme, Ry Russo-Young consegue convencer-me um bocadinho mais das suas capacidades como realizadora. Os outros dois eram demasiado experimentais, amadores, e francamente fracos. Nobody Walks está longe de ser um golpe de génio, mas é um filme bem construído e desconcertante.

Conta a história de uma aspirante a artista que nunca usa sutiã, e dos problemas que isso lhe pode causar. Olivia Thirlby é uma hipster que está a trabalhar no seu primeiro filme experimental - qualquer coisa com formigas, escorpiões, mamilos e sons estranhos - e pede ajuda a um sonoplasta amigo da sua família (John Krasinski) para a ajudar. Ora esse sonoplasta é casado, pai adoptivo de uma rapariga adolescente com os seus próprios problemas sexuais, e obviamente não resiste ao balançar sedutor das mamas de Thirlby que passam o filme todo a picar-lhe a vista. Eu percebo-o, não sei quem resistiria.

O resultado é uma complicação dos diabos. Uma casa cheia de infidelidades, problemas matrimoniais, desabrochares precoces, paixões a roçar a pedofilia e a rapariga hipster de phones no centro disso tudo. No fundo, é um filme sobre o que um bom par de mamas pode fazer, e  como um som pode não ser aquilo que parece - basta fechar os olhos.

Como disse, não é um filme brilhante, mas vale a pena ser visto. É agradável e, se escutarmos com atenção, pode ser que nos ensine alguma coisa.


Golpes Altos: Sonoplastia (what else), boas interpretações, e boas mamas.

Golpes Baixos: Alguma imaturidade na exploração do argumento - às vezes gratuito e inconsequente. 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

The Master



Realizador: PT Anderson
Argumento: PT Anderson
Actores: Joaquin Phoenix, Philip Seymor Hoffman, Amy Adams

Para mim o PT Anderson é dos realizadores mais fortes que o cinema tem hoje em dia. 
Agarrou-me com o Boogie Nights, apaixonou-me com o Magnolia (onde podemos ver o melhor papel de SEMPRE do anão dos aliens chamado Tom Cruise), trouxe-me a uma realidade bem interessante com o Punch Drunk Love e... claro... foi autor da maior obra feita para cinema nos últimos 20 anos... There Will Be Blood onde vemos o melhor actor vivo (e claramente dos melhores de sempre) no seu auge.

Agora traz-nos o The Master e... que filme poderoso novamente.

Estamos perante uma obra com uma intensidade dramática muito relevante logo de início. É um filme que percebemos ser especial logo aí. A intensidade que ele nos transmite quando nos dá a conhecer um personagem seu é uma imagem de marca e aqui isso nunca falha. 

Dá-nos a conhecer o alcoólico incorrigível interpretado de forma magistral pelo Joaquin Phoenix (e que actor que ele se tem revelado...) e pensamos que a personagem central do filme vai gerir os picos dramáticos do mesmo... Ora, quando nos apresenta o Mentor também interpretado de forma soberba pelo Philip Seymor Hoffman (o melhor actor secundário de sempre?) apercebemo-nos que não é bem assim e esse início de 2º acto dá uma volta ao texto que nos agarra completamente.

Por vezes quase me senti perdido com o caminho que o filme estava a levar, tinha zero feedback da história (vi no festival de cinema de Lisboa e Estoril) e assustei-me, pensei que talvez pudesse vir a quebrar no que toca a linha de raciocínio ou até da narrativa. Mas não passou disso mesmo, de um susto... o sacana do PTA prende-nos com os detalhes e quando damos por nós já estamos completamente dentro daquela história baseada em crenças (que todos temos), em líderes bem falantes (que todos conhecemos e alguns até seguimos) e em experiências novas de entrega total (que muitos de nós não teria sequer coragem de viver).

Eu sou herege... Daqueles que eram queimados noutros tempos ou apedrejados hoje em dia noutros países. Este filme parece que de uma forma ou de outra vem reforçar essa minha descrença em líderes/crenças absolutos/as sejam eles/as imaginários/as ou vestidos/as de robe vermelho.

Esta história mostra que o alimento que "enche" qualquer crença ou religião é de facto o desespero, um mau momento, um momento em que alguém se sente perdido e encontra ali uma solução, um penso rápido, algo que o protege e de certa forma o faz ver que há um mundo melhor ou alguém que o diz compreender. Mas não há! O mundo é o mesmo, as pessoas são as mesmas e depende sempre só de nós... O caminho? Não vai ser o gajo de robe ou de barbas brancas que te vai indicar... 

Enfim, estou-me a perder numa discussão que no fundo até vai para além do filme, filme esse que tem a particularidade de viver plenamente sem sequer pensarmos nessa mesma discussão. Ele vive por si e a história está tão bem contada que conseguimos perceber todos os momentos em que ela decide mudar de direcção.

Tudo bem feito naquele que é para mim o filme do ano. Ainda não vi o Amour (preciso de tempo para me preparar) mas até agora é este.


Golpes Altos: Interpretações completamente fabulosas. Realização de um Senhor do cinema moderno.
Golpes Baixos: O cartaz é péssimo... Outro golpe baixo é o facto de não poder ser eu a andar naquelas motas naquelas pistas de sal.
Golpes Coiso e Tal: A Amy Adams é mesmo muito boa actriz.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Django Unchained

Realizador: Quentin Tarantino
Argumento: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Kerry Washington e Leonardo DiCaprio

Não sou um fã de Tarantino, confesso. Para mim, tudo o que ele fez entre o Pulp Fiction e o Inglourious Basterds foi lixo - pura e simplesmente lixo. Jackie Brown é um mau filme de domingo à tarde - com a agravante de ter a Pam Grier como actriz principal - os Kill Bills são exercícios estéticos para nerds de anime sem qualquer valor cinematográfico, e prefiro não falar no Death Proof (para mim, não há nada mais irritante do que o conceito "é tão mau que é bom").

Dito isto, Django Unchained é uma obra-prima. Se é verdade que desisti de esperar pelo regresso do Tarantino de Reservoir Dogs e Pulp Fiction, também é verdade que estou a ver crescer um novo Tarantino - reinventado, mas sempre fiel a si mesmo.

O novo mote de Tarantino é "vingança, com estilo". Em Inglourious Basterds vimos um grupo de Judeus a encher a mala a Nazis e, imagine-se, a matar o próprio Fuhrer. "The Revenge of the Giant Head" foi o último capítulo desse filme, e aquele utilizado por Tarantino para re-escrever a História. É giro isso. Gosto da ideia! E agora vimo-lo a açoitar os cabrões dos fazendeiros sulistas que escravizaram milhares de negros antes da Guerra da Secessão. A meu ver, isto é uma premissa perfeitamente legítima para se fazer um filme. E fazê-lo com esta qualidade de diálogos, de realização, de banda-sonora, de actores, de tudo. Isto é cinema.

Desvalorizo categoricamente (como dizem os nossos políticos) toda e qualquer polémica levantada. Seja o excesso de violência que hipoteticamente resulta nos massacres de Columbine e Colorado, seja o uso constante da palavra nigger (desculpa Spike Lee, prometo que não repito) que provavelmente até está fiel à época social retratada. Desvalorizo tudo. Tarantino tem razão: arte é arte, e não deve ser misturada com política, religião, moral ou puritanismos de trazer por casa. Se for bem feita, eu gosto.

Para além de tudo isso, é óbvia a intenção de Tarantino ridicularizar os fazendeiros do Sul - ignorantes mas de "tendências francófonas" -, demonizar os negros traficantes de escravos - 'worst kinda nigger there is' - e, por outro lado, fazer as pazes com os alemães tão massacrados no seu último filme. É engraçado perceber isto. Se Christoph Waltz foi um alemão detestável nos Basterds, agora é o alemão adjuvante, sem o qual Django nunca poderia ter salvo a sua Broomhilda. Será isto por acaso? Não me parece. Tal como não é por acaso o nome Broomhilda Von Shaft estar associado a uma negra escrava. Ou Django ser comparado a Siegfried, o herói dos Nibelungos outrora utilizado para enaltecer o 3ºReich - Wagner ficaria para sempre manchado pelos Nazis, mas Tarantino salvou-o?!

Reparei ainda noutra cena de relevante ressalve. Lembram-se quando a cavalaria do KKK desce a colina gloriosamente para emboscar Django e Schultz? Ora bem, essa cena é decalcada de uma das cenas mais controversas da história do cinema. Passo a explicar. D W Griffith é considerado o pai do cinema, mas na realidade era um racista nojento do Kentucky, cuja principal obra é uma autêntica ode ao Ku Klux Klan. O que Tarantino faz, é uma cavalgada igual à de Griffith, interrompida a meio (numa espécie de "corte cómico"), e intercalada com uma das cenas mais cómicas do filme, em que os membros do KKK discutem os buracos mal-cortados nas suas máscaras. Brilhante!

E agora vou-me deixar de conteúdo político, e vou ao que interessa. É um spaghetti western reinventado. Tem Franco Nero (o primeiro Django do cinema), tem muitos tiros, muitos durões de barba rija, muita música country e, imagine-se, muito hip-hop. Com este filme, Tarantino mostrou-me que se pode fazer um grande filme, com muita piada, muito sangue e muito exagero. Basicamente, Django Unchained tem muito tudo, e não lhe falta nada.

Destaco ainda as interpretações incríveis de Leonardo DiCaprio (para quem dizia que ele fazia sempre o mesmo papel), Samuel L. Jackson (também para quem dizia que fazia sempre o mesmo papel) e Walton Goggins (parece que é um dos actores mais requisitados de 2012, e justamente).

Django Unchained é para se ver no cinema, com muitas pipocas e alguma resistência a sangue. Mas aguentem-se, porque vale a pena.

Golpes Altos: Argumento de um western clássico com um toque de autor. Kerry Washington é definitivamente um dos amores da minha vida. Banda-sonora espectacular.

Golpes Baixos: Não adoro o Jamie Foxx, mas confesso que aqui não está mal. Um bocadinho menos de sangue? Não, caga nisso. 'Tá bom assim.

Golpes Curiosos: O actor que faz de Butch é o mesmo que faz de um dos irmãos Speck (parece que o Tarantino gosta tanto dele que não o quis matar logo no início)



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

The Paperboy

Realizador: Lee Daniels
Argumento: Lee Daniels e Pete Dexter (baseado no romance Paris Trout)
Elenco: Matthew Mcconaughey, John Cusack, Nicole Kidman e Zac Efron


Sangue, suor e sexo. E lama. E mijo. É um filme pouco convencional, não tenho qualquer dúvida. É um caso de "primeiro estranha-se, depois entranha-se" - e este entranha-se de forma visceral, asquerosa. É o bayou tal como o imaginamos: cheio de crocodilos, pântanos onde andam crocodilos e homens que matam e esfolam crocodilos. É uma história de homens que não são muito diferentes dos rastejantes que caçam, e a mulher que os acompanha.

Quando comecei a ver o filme, fiz cara feia. A tonalidade saturou-me, era tudo demasiado estilizado. As personagens todas vestidas ao estilo dos anos '60, mas sujas, suadas e reles. O filme cheira mal, mas é todo cor-de-rosa - 'tou-me a fazer entender? Bem, a questão é que ao princípio não gostei, mas acabei rendido.
A história é sórdida, e ninguém acaba sem cicatrizes - nem eles, nem nós.

As interpretações são, na minha opinião, as melhores do ano (colectivamente falando). Mcconaughey dedicou este último ano a mostrar-nos que é um grande actor, só nunca 'teve para se chatear - aqui, tal como em Killer Joe, está em casa. Cusack é um caçador de crocodilos e de homens, um monstro que encontrou neste filme o papel da sua vida. Kidman está gigante! É ela a revelação deste elenco de underdogs. Basta dizer que há uma cena de 10 minutos em que está sentada em frente a Cusack, de boca aberta e língua para fora, a arfar (literalmente) enquanto Cusack tem um orgasmo só a olhar para ela. Estão desconfortáveis a ler? Imaginem a ver.
Então e também não entrava aquele puto ridículo que fazia o High School Musical? Entra sim senhora, e está impecável. Efron é uma espécie de Nabokov para uma Lolita envelhecida (Kidman), e não é por acaso que o livro lhe aparece na mão a meio do filme.

Resumindo, o filme tem cenas fortíssimas, é muito mais perturbador e violento que qualquer coisa que o Tarantino tenha feito, e tem dividido as opiniões nos festivais por onde passa. Em Cannes foi criticado por muitos, mas recebeu a maior ovação de pé desde o filme Drive (16 minutos de aplausos). Outros disseram que o filme não tinha classe suficiente para lá estar. Confesso que isso ainda me faz gostar mais. The Paperboy é um must-see, mesmo que implique um bom banho a seguir.


Golpes Altos: Elenco improvável extraordinário, bom argumento, grande dose de audácia.

Golpes Baixos: Ultra-estilização. Faz lembrar Bret Easton Ellis versão trailer park trash.

Golpes Curiosos (spoiler): A última frase do filme funciona como uma espécie de redenção pelo lixo todo que o precede: "He became a writer of some renown. And he never did forget his first true love". 

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Golpes Indie - Celeste and Jesse Forever

Realização: Lee Toland Krieger
Argumento: Rashida Jones
Elenco: Rashida Jones, Andy Samberg, Elijah Wood, Chris Messina, Emma Roberts

Gostava de começar este texto com a premissa de que "este foi um ano especialmente bom para o cinema independente". Era uma boa maneira de introduzir este filme (e esta rubrica), mas não me parece legítimo. A verdade é que não me lembro do último ano em que os box office superaram os filmes indie.

Eu até desenvolvi um sistema. Utilizo anualmente o cinema independente para colmatar as frustrações e desilusões causadas pelos Óscares. Este ano não foi diferente.

Celeste and Jesse Forever é uma comédia romântica independente que sai quase totalmente do bolso de Rashida Jones. Quem é fã da série Office deve lembrar-se do seu début como "a gaja gira e fixe que ia estragando a série", mas quem tem acompanhado mais de perto a sua carreira está em riscos de se apaixonar pela mulher, e pela artista. Ela não se limita a protagonizar este filme, escreve-o também - uma comédia romântica, escrita por uma mulher para uma mulher, corre sérios riscos de se tornar uma comédia romântica para mulheres. Mas não. Rashida superou-se.

Celeste and Jesse parte de uma longa tradição de filmes de melhores amigos que se tornam namorados, mas inverte-a, e toca num ponto desconfortável. E namorados que se tornam melhores amigos? Pode parecer um lugar comum, mas é um daqueles que ninguém faz questão de explorar. É um assunto sórdido, e vai ser difícil mexer-lhe sem sujar as mãos.

Talvez por isso Celeste and Jesse não seja um filme cómico, nem um filme romântico. É um filme realista, e até demasiado duro para o formato que o envolve. E assim se torna uma boa ideia num bom argumento, junta-se uma boa realização - com um filtro de cores que fará os amantes do independente sentirem-se em casa -, um excelente elenco, escolhido a dedo, e uma banda-sonora tão alternativa quanto o filme, e temos a melhor comédia romântica do ano - mesmo que não tão cómica, e muito pouco romântica.

Para quem gostar do filme, aconselho espreitarem outro do mesmo realizador. Chama-se The Vicious Kind, e não os desiludirá. Só não esperem de Celeste and Jesse um filme leve e fixe, para ver com a namorada(o). Vai deixar-vos melancólicos, com um travo amargo na garganta - mas se o cinema é feito de memórias e sonhos, então Celeste and Jesse são seus dignos representantes.

Golpes Altos: Argumento, elenco secundário, banda-sonora, realização.
Golpes Baixos: Andy Samberg não é um excelente actor, mas neste filme também não precisa - a Rashida trata do resto.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Les Misérables


Realizador: Tom Hooper
Argumento: William Nicholson
Actores: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Helena Bonham Carter


Queríamos deixar claro que os escribas deste blogue não vão ver este Musical.
Queríamos deixar claro que, de forma extremamente arrogante, assumimos à partida que o filme é uma valente m* (acho que não vale a pena estarmos a dizer "merda" num blogue tão nobre) e não merece 3h do nosso tempo... Com esse tempo podemos fazer imensas coisas mais interessantes como, por exemplo, rever todos os filmes que tenham essa duração... TODOS! Menos este.

Recusamo-nos a ver o Russell Crowe (um actor que respeitamos muito) a perder a dignidade, recusamo-nos a ver a belíssima Hathaway a estragar a sua postura neste musical e recusamo-nos a ver o Hugh Jackman a fazer qualquer coisa diferente de um Wolverine, muito menos uma interpretação que se assemelha a um anúncio da Lipton de 3h.

Obrigado pelo tempo e pedimos desculpa pela arrogânica.