quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

American Hustle



Realizador: David O. Russel
Argumento: Eric Warren SingerDavid O. Russell
Actores: Christian BaleAmy AdamsBradley Cooper, Jeremy Renner, Jennifer Lawrence, Louis C.K.

Imaginem o David O. Russel a tentar desde a escolha da capa do Filme fazer um "Scorsese", mas acabou por ficar quanto muito perto de um "Soderbergh" aprendiz. E reparem: O Filme é bastante porreiro, mas não é mais que isso... É um filme que entretém bastante mas que daqui a 2 semanas já não nos lembramos muito bem dele...

O Filme traz-nos uma "Trama" à Americana, um filme de golpadas, de negociatas, de "espionices" com FBI ao barulho, criminosos ao barulho, casinos, mulheres bonitas e semi-despidas, homens de charuto, roupas estilosas e cenários bem trabalhados. Um Filme que, e aqui o O. Russel nunca falha, tem diálogos muito bem trabalhados e nos quais se baseia para os reflexos de humor e para envolver o espectador numa teia comum a este tipo de "policial-cool-com-cenas-porreiras". 

Ora... Onde falha? Falha no quanto é previsível, falha no quanto se prende aos bons diálogos sem perceber que nestes filmes o fulgor estético é tão ou mais importante, falha na falta de risco em mostrar mais cenas cruas, mais cenas de desconforto. Torna-se assim um filme muito parecido a coisas já vistas por aí, vindo de um talentoso Realizador e Escritor pedia-se mais... 

Christian Bale: ASPIRA qualquer cena onde entra, tudo à volta dele desaparece e enche sem qualquer dose de histerismo o ecrã, mostra que ali é ele que tem de ter a luz por cima, é ele que tem de conduzir a cena, é ele que tem de mostrar a todos os talentos (maiores ou menores) que o rodeiam que estão perante um dos de topo. Um papel gigante e mais uma transformação física arrepiante. Depois de no Maquinista ter chegado aos 55Kg, neste filme engordou 20Kg... É só parvo, mas isto mostra dedicação e trabalho, além dos 20Kg herdou ainda 2 hérnias pela má postura. Enfim, fait-divers à parte é mais um papel monstruoso. 

Christian Bale é claramente uma boa pancada do David O. Russel que tem outras não tão boas mas competentes: A linda Lawrence e o estiloso Cooper. Ninguém dava nada por eles há uns anos e estão-se a tornar actores que devemos pelo menos respeitar e até ter esperança em vê-los "maiores" dentro de alguns anos. 

A belíssima Amy Adams está muito bem, mas ela já nos habituou a ser das melhores Actrizes da "praça". Penso que o pico dela no filme é antes de começar a "surtar", a fase mais contida dela é muito potente precisamente por percebermos que ela está a esconder constantemente um turbilhão de sentimentos e emoções, uma contenção sempre prestes a explodir. 

Notas finais para a aparição rápida do velhinho De Niro que foi dos maiores de sempre e hoje em dia faz cenas para amigos, e para o Louis CK que faz um papel quase irrelevante mas gosto tanto dele que não podia deixar de o mencionar. Faz mas é mais uma série do Louie porque morro de saudades. 


Golpes Altos: Christian Bale, Christian Bale, Christian Bale, Christian Bale, Christian Bale... Banda Sonora, Caracterização e diálogos.

Golpes Baixos: Com mais força da próxima vez O. Russel... com mais força...

Hypster Psycho


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Her



Realizador: Spike Jonze
Argumento: Spike Jonze
Actores: Joaquin PhoenixAmy AdamsScarlett Johansson

Hoje em dia sabemos lá ao certo o que é o mundo real... andamos em cima de pedras e de alcatrão a maior parte do tempo, já não sentimos a terra debaixo dos pés no nosso dia-a-dia. Andamos atracados a telemóveis que nos facilitam a vida, que nos fazem acelerar processos, que nos fornecem informação a todo o segundo, que nos mantêm contactáveis em qualquer ponto do mundo, que nos deixam partilhar tempos, espaços, pessoas, relações, tudo... Mas...

Até onde vai tudo isto? Qual a fronteira?

O Spike Jonze neste filme ataca ferozmente essa fronteira, mete tudo a nu, mexe na ferida caricaturando-a mas sendo assustadoramente assertivo e credível. Sim, ainda mal começámos a ver o filme e já aceitamos a história como se fosse real e por vezes até como se pudesse ser nossa... É uma história de amor (o nome em Português faz todo o sentido, até mais que o original) contada com uma mestria inabalável e deixando-nos completamente fora da nossa realidade. 

Não há nada que goste mais em Cinema do que precisar de tempo no final de um filme para regressar ao meu mundo, ao meu sofá, às ruas que tão bem conheço, às pessoas que tanto amo... É daqueles filmes que nos obrigam a repensar por momentos a nossa vida, a colocar muitas coisas em causa e a fazer-nos querer viver o que podemos não ter feito ultimamente... 

Aqui há uns dias fui jantar fora com a C. e não levei o meu telemóvel, que para quem me conhece é muito raro. Ela a brincar perguntou-me no final do jantar a caminho do carro se me estava a sentir bem. Eu simplesmente respondi que estava a ver o mundo em que vivia com uma atenção que não lhe dava há já algum tempo... Haverá algo mais triste de desabafar, mais a mais quando se vive numa das cidades mais bonitas do mundo?

Um filme extremamente emocional com um Argumento que não preciso ver os restantes candidatos para querer a todo o custo que ganhe todos os prémios do mundo...

Sem sombra de dúvidas, até agora, o meu filme preferido do ano. Se é o melhor? Não quero saber...

O Spike Jonze filma muito bem e é dos Realizadores que melhor domina a "hora perfeita", filmando de forma infalível as cores que o nascer do dia ou o final do mesmo nos proporcionam...
A banda sonora acompanha o filme como se de uma dupla em plena valsa se tratasse... Que maravilha.

Há filmes destes... que me fazem querer escrever e escrever sem estar a tentar ler ao mesmo tempo, sem querer ler depois... quero que vos passe o mais puro retrato possível, quero que leiam o que disse a quente, não quero reflectir nem quero racionalizar, foi assim que o vi, é assim que vos transmito.


Golpes Altos: Argumento, Facilidade com que nos "vende" esta realidade, Phoenix e fazer-me esquecer que estou numa sala.

Golpes Baixos: Vão vocês buscá-los, certamente encontrarão.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Captain Phillips



Realizador: Paul Greengrass
Argumento: Billy Ray (adaptação)
Actores:  Tom HanksBarkhad AbdiBarkhad Abdirahman

Todas as nossas percepções e avaliações de entretenimento ou mesmo artísticas têm como base uma expectativa. A minha para este filme era muito baixa, o que o protegeu e de que maneira... 

Fui ver um filme de um Realizador de enorme qualidade a filmar especialmente cenas de Acção, sobre uma história conhecida de um dos dramas modernos de quem navega os oceanos do nosso planeta, com aquele que é provavelmente o actor mais mainstream do Cinema moderno e que arrisco dizer ser dos mais Profissionais que já vi. É claramente daqueles homens que sabendo não ter um talento especial muito acima da média, substituiu-o por trabalho árduo e constante, a prova de que o sucesso vem do trabalho é a carreira do Tom Hanks que bem a merece. Há melhor que ele? Claro... muito melhor! Mas ele é um trabalhador que merece tudo o que teve sem peneiras. 

O filme conta a história verídica do Captain Philips que vê a sua embarcação ser invadida por piratas somalis. Todo o drama envolvido, as negociações e o momento chave em que se vê preso num salva-vidas com esses mesmos piratas. 

O que me surpreendeu no filme (e a ajuda do Greengrass foi preciosa aqui) foi a simplicidade da narrativa sem grandes necessidades de exagerar no drama, tendo o cuidado de mostrar a realidade dos piratas que não fogem ao papel de maus da fita mas deixando claro as suas "queixas" em relação aos americanos. Não é comum sequer haver esta hipótese de perceber o outro lado da moeda materializado aqui na necessidade de ir para o oceano correr riscos de vida em busca de tesouros chorudos.

A tensão típica de um resgate está lá toda, com picos muito interessantes sempre liderados pelo fantástico Muse (interpretado por Barkhad Abdi) que é claramente o ponto mais alto do filme. Uma interpretação de uma vida de um total desconhecido e que nos arrasta no filme para um mundo frágil, sem esperança e ao mesmo tempo muito humano. Este homem é a maior surpresa do ano até agora...

Penso que a negociação final do filme é já demasiado "herói americano" e "no final vencemos a todo o custo" e aí já quase me esqueci que até estava muito surpreendido com a qualidade do filme, ainda assim não o consegue estragar e desafio quem não gosta de Cinema mainstream a ir ver um bom exemplo de que esse Cinema constrói muitas vezes obras de qualidade.

O Tom Hanks está como sempre muito bem, sem rasgos de genialidade (que nem é costume tê-los excepto na cena clássica da Maria Callas no Philadelphia) mas muito profissional e a carregar a pequena parte do filme que o Barkhad Abdi não carrega.

Nunca na vida seria filme para prémios, mas o Barkhad Abdi merece todos e mais alguns.


Golpes Altos: A realização irrequieta do Greengrass serve este filme na perfeição e claro: Barkhad Abdi.

Golpes Baixos: Os últimos 15% do filme.

domingo, 19 de janeiro de 2014

The Wolf of Wall Street



Realizador: Martin Scorcese
Argumento: Terence Winter (adaptação)
Actores:  Leonardo DiCaprioJonah Hill, Margot Robbie, Matthew McConaughey, Kyle Chandler, Rob Reiner, Jean Dujardin.

Imaginem a forma (ou fórmula) do Goodfellas, esse "Rise and Fall" fantástico com um turbilhão de momentos cheios de adernalina e tensões constantes. Imaginem tudo isso mas com 2 ingredientes novos ou muito mais intensos: Charme e Entretenimento. O resultado é este Wolf of Wall Street.

Como disse um amigo meu: "Um filme que começa com o arremesso de anões, tem de ser um grande filme". Touché. 

Sou suspeito porque sou um apaixonado pelo Scorcese, mas adorei o filme... Claro que não é tão bom como o Goodfellas, mas a delícia para mim é que nem tenta ser... É um filme de barrigada, um filme de entretenimento cheio de cenas debochadas, diálogos incríveis e actores de enorme qualidade. 

O Jordan Belfort (interpretado pelo Di Caprio) existiu mesmo, escreveu um livro com a sua história e o Scorcese a pedido do Di Caprio pegou nisto e fez a magia do costume. Quem vir este filme e não gostar, ou é um embirrento ou não tem qualquer sensibilidade de entretenimento (sim, já disse esta palavra muitas vezes). O personagem é tão forte e está tão bem trabalhado que os satélites que andam à volta dele só têm de preencher o bolo e fazer disto um filme poderoso. O gajo era um bicho de ambição, testosterona, deboche, luxo, boa vida, exageros, mais exageros e ainda mais exageros. 

Uma comédia com um ritmo alucinante mesmo num filme de 180min... Queremos mais e mais, o filme funciona como as drogas que circulam na tela e ainda nem acabámos uma cena e queremos outra, e mais outra e mais outra... é viciante! O segredo do Scorcese é que no meio disto tudo NUNCA se esquece que está a contar uma história, uma boa história e que a tem de contar muito bem contada... Nunca falha neste ponto e este é só mais um bom exemplo. 

O Di Caprio é um monstro e um actor de topo. Não sei se é desta que leva o Óscar mas começa a ser absurdo não ter nenhum. 
O Jonah Hill é fantástico, hilariante e cresce a olhos vistos como actor. 
O pequeno papel do McConaughey mostra também que já há muito que deixou de ser um mero menino bonito. Em ano de o papel de uma vida com o filme Dallas Buyers Club, ainda faz uma perninha neste deboche de 3 horas. 
Os Secundários assistentes do Di Caprio são também eles uns "Comic Reliefs" de grande nível.
A mulher (a 2ª) é belíssima e é uma surpresa... penso que melhora muito na 2ª metade do filme embora seja claramente o elo mais fraco. 
Jean Dujardin é Jean Dujardin no seu estado mais puro... 

O Scorcese nunca soube fazer maus filmes e sempre soube entreter o seu público mesmo nos momentos mais "Dark". Filma como poucos, tem um bom gosto e uma sensibilidade quase únicos e é um dos grandes Cineastas de sempre. Respect. 


Golpes Altos - O entusiasmo com que estamos durante o filme todo, a vontade de querer mais e mais mesmo com 180min de filme. Ritmo alucinante. 

Golpes Baixos - Não aponto nada relevante... talvez a Margot Robbie, mas é tão bonita... ok, não aponto mesmo nada! 

sábado, 18 de janeiro de 2014

12 Years a Slave



Realizador: Steve McQueen
Argumento: John Ridley (Adaptação)
Actores: Chiwetel EjioforMichael K. WilliamsMichael Fassbender, Paul Giamatti, Paul Dano, Sarah Paulson, Brad Pitt, Benedict Cumberbatch.

O McQueen depois de 2 filmes duríssimos e pouco Mainstream, tentou com este Filme chegar às massas. Quando há qualidade no nosso trabalho (que é o caso), é difícil dar um passo em falso, este 12 Years a Slave é um caso de sucesso com algumas notas que vão poder espreitar mais à frente. 

O filme baseado numa história verídica leva-nos à sala sabendo quase tudo o que vai acontecer. Provavelmente por já estarmos condicionados parece ser bastante previsível, mas este tipo de história não vive da surpresa, vive de como é ou não bem contada. 

Um tema já abordado "N" vezes é sempre arriscado, até porque há muitas abordagens de sucesso e sendo assim é gritante não falhar. O primeiro ponto menos bom que consigo destacar deste filme é que realmente não falha em quase nada mas...também não nos traz rigorosamente nada de novo. Vemos a brutidão de alguns "Lords", vemos a luta interna e externa dos escravos, vemos a revolta constante de quem está sentado na cadeira de cinema, vemos as agressões, o desespero, as mortes, as salvações, vemos tudo o que já vimos sem tirar nem por... 
Entrei na sala de cinema com a expectativa bem lá em cima e saí de lá com o copo 2/3 cheio... 

Muitos lugares comuns disparados com uma realização de enorme qualidade. Temos planos completamente fantásticos que contam uma história ou dá-nos uma percepção de tudo em segundos... Destaco o plano quando o Solomon está pendurado com os pés na lama e a "vida" daquela quinta se começa a desenrolar nas costas dele normalmente... Achei brilhante. McQueen sabe perfeitamente o que faz e como estava a trabalhar para massas assumiu uma posição de risco quase zero, penso que lhe garantiu o sucesso dos 100% de unanimidade, mas não o deixou chegar aos 170% de um filme que podia de facto rasgar a história deste tema. Ficou entre outros de enorme relevo e também eles ambiciosos, que no entanto podiam ser ultrapassados com um pouco mais de risco assumido. 

A história penso que merecia mais tempo para respirar. É um filme de 135min mas podia ser de 180... Há momentos do filme (não li o livro) que mereciam ser aprofundados, que mereciam dar-nos mais tempos para levar o soco no estômago ou para sentirmo-nos aliviados gradualmente... Destaco aqui a relação com o personagem interpretado pelo Pitt que podia ser melhor trabalhada. 

O Ejiofor está para o filme como o filme está para o Cinema... Chegou aos 100% com uma qualidade constante e sem comprometer minimamente, mas também podia ter assumido um risco maior. Risco esse assumido pelo Fassbender que se explica pelos próprios contornos do personagem e pela qualidade do actor que provavelmente ficará a meio da carreira perto do Olimpo.
Nas pequenas aparições destaco o Giamatti que está fantástico, o Pitt que está coeso e sem grande aparato devido ao personagem que interpreta e o Paul Dano que parece um pouco parvo demais... adoro o actor, tem-me surpreendido em quase tudo o que faz e especialmente na carreira que tem escolhido, mas penso que aqui é mesmo demasiado pateta, o que, mais uma vez, parece cumprir e na perfeição o que era pedido.

É claramente um filme de Óscar, um filme que ao ser premiado ninguém vai dizer que é um escândalo ou que é mal entregue. É muito unânime e atenção: Acho mesmo que é um muito bom filme, mas esperava que fosse um daqueles filmes que aparecem 1x de 10 em 10 anos e não foi o caso... 


Golpes Altos: Realização, coesão do filme, todas as interpretações também elas muito responsáveis e novamente a Realização. É para mim o maior destaque. Outro momento alto é a relação do Fassbender com a Pats.

Golpes Baixos: Ausência de risco assumido pelo Realizador e até pelo Actor Principal. Lugares comuns em demasia (difícil de fugir aos mesmos, aceito).

A pedido de... 2 famílias?

Estou por aqui e quero dizer que uma das resoluções de ano novo passa precisamente por voltar a debitar o que me vem à cabeça sobre os filmes que vou vendo.

Com as entregas dos Globos de Ouro, com as nomeações (previsíveis) dos Óscares, com uma dose de cinema considerável que tenho "papado", sinto-me na obrigação de vos condenar com as minhas ideias sobre esse mesmo cinema.

O meu companheiro amigo palhaço vai fazer um esforço extra, logo ele que era o protagonista deste espaço sempre com a língua afiada pronta a dizer, muitas vezes, merda.

Com isto, vamos ao trabalho!