quarta-feira, 23 de abril de 2014

Captain America: The Winter Soldier




Realização: Anthony Russo e Joe Russo
Argumento: Christopher Markus e Stephen McFeely
Elenco: Chris Evans, Samuel L. Jackson, Scarlett Johansson, Robert Redford, Sebastian Stan, Anthony Mackie

Ponto prévio inicial: não vi o primeiro Captain America, de 2011, pelo que não posso entrar em análise comparativa ou até de sucessão.
Novo ponto prévio: a saga de Captain America não é uma comic que conheça por aí além ou nutra grande simpatia, assim como a S.H.I.E.L.D. e o desinteressante Nick Fury.

Dito isto, e falando do “filme pelo filme”, a verdade é que tem pontos fortes e pontos fracos mas no cômputo geral acabei por gostar. Entretém, não é maçador e os irmãos Russo conseguem durante mais de duas horas gerir algo que se tem revelado complicado em filmes mais recentes inspirados em comics: as expectativas, a soberba e o preciosismo.
Ou seja, limitam-se a contar a história duma forma enérgica, divertida, intensa, mas aguentando-se bem na linha ténue entre alguma infantilidade aparvalhada – que evitam, gerindo bem as expectativas dos fãs mais incondicionais –, tiros, explosões e orgias de acção desproporcionadas – que também evitam, não vacilando perante uma certa soberba cataclísmica como acontece, recordo-me, nos falhados Hulk's da década anterior –, e a resistência a um preciosismo de mensagem profunda, dum significado paralelo entre o divino e o metafísico, que depois não passa de argamassa balofa (vide o Man of Steel do ano passado…calma, Duarte!).
Este filme tem uma história e quem o fez prestou-se a contá-la da melhor forma que pôde e soube. Ponto. É só isso. Por vezes é positivo que seja só isso. Não o torna genial, nem sequer muito bom, mas também evita que seja opaco, vazio e pseudo-brilhante.

Se tem algo menos bom? Claro. A personagem do Falcon tem pouca graça, alguns diálogos entre o Captain America e a Black Widow são fracos e sem química, alguns mauzões têm um ar só estúpido e o Chris Evans, apesar de parecer uma escultura, é meio goofy, sim. Mas não é menos verdade que o Steve Rogers é um tipo cheio de princípios éticos e morais, que pauta o seu comportamento pela rigidez do que é certo e errado, pela defesa dos fracos e oprimidos, bla, bla, bla.
Isto é, não podemos querer o estilo dum Bale ou dum Downey Jr. num super-herói que não tem essa história, não tem esses contornos, não têm essa mística. Ainda assim admita-se que não sendo adorável, Evans também não faz a tristíssima figura do Henry Cavill nessa pérola que é o já referido Man of Steel, fazendo um paralelismo entre super-heróis meio amorfos, com pouco nervo e ironia (caaalmaa, Duarte!).

Por outro lado a trama é engraçada, bem montada e com uma interligação que começa a fluir duma forma escorrida e no momento exacto – o ressurgimento de Zola (um demente Toby Jones!) e da HYDRA, a identidade do Winter Soldier, o verdadeiro Alexander Pierce (óptimo Redford!) –, como disse anteriormente as cenas de acção são relativamente contidas dentro do género e nada confusas, os vilões são excelentes, tanto os actores como a história de cada personagem, e a Scarlett, ruiva e naquele fato, é uma escandaleira.

Golpes Altos: A humildade de querer filmar uma película de super-heróis sem pretensiosismos de algibeira. Os vilões, sobretudo a cena do aparecimento de Zola na cave. A pinta do Winter Soldier. Já disse que a Scarlett está incrível?

Golpes Baixos: Alguns diálogos e piadas demasiado básicos. O ar de panhonha e o tronco do Chris Evans andam par a par. Samuel L. Jackson, se estás a ouvir-me: foste grande mas já chega. Dá-nos uma pausa.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Noah



Realizador: Darren Aronofsky
Argumento: Darren Aronofsky, Ari Handel
Actores: Russell CroweJennifer ConnellyAnthony Hopkins, Ray Winstone, Emma Watson, Logan Lerman, Douglas Booth

Nota prévia: é um crime ser o 1º filme do Aronofsky que é falado neste espaço. É criminoso porque além de ser claramente o pior, ele tem no CV uma panóplia de obras marcantes que fazem dele um dos melhores Realizadores "novos", e que me fazem ir ver um Filme como este.

Noah é um filme com momentos interessantes onde o autor decide cruzar pólos opostos como o criacionismo e o darwinismo. Isto por si só podia ser conteúdo para alimentar um Filme, mas na verdade não é. Noah conta a nossa história misturada com a que ainda é leccionada nalguns estados dos EUA, uma história baseada na natural evolução das espécies com um "criador" por trás de tudo.

Sem dúvida uma abordagem arriscada que deve ter criado algum burburinho naquelas bandas, mas que não é de todo suficiente para tornar este Filme em algo mais.

Todos conhecemos a arca, a água, os animais, o Noé e tudo e tudo... Com um bocado de pimenta aqui e sal ali, conta-se a história e coloca-se em causa a presença do homem na Terra com uma visão introspectiva, algo em que já pensámos várias vezes e que sabemos não poder ser o caminho "natural".

O Homem que corrompe o planeta, que suga os recursos, que tal como um vírus esgota o que o rodeia até que nada lhe resta... Resultado? O castigo... Castigo H2O que cria quase um micro-cosmos onde a família de Noé representa de tudo um pouco... Desde a devoção ao criador, a vingança, o amor, o risco da repetição do pecado, a ambição, a revolta, tudo... Tudo no meio de animais adormecidos que passam ao lado da história, porque ela baseia-se na culpa do ser-humano, culpa à qual os animais são totalmente alheios.

Interpretações cuidadas e "profissionais", a maioria vinda de actores de qualidade inegável e lá no meio um jovem Douglas Booth que embora muito giro é um pesadelo. Está longe de todos os outros mesmo os do seu campeonato.

O Aronofsky sabe filmar como poucos e sabe usar efeitos especiais sem os colocar no epicentro do filme, nisso não falha e o épico tem todos os habituais ingredientes de um filme "grande".


Golpes Altos: Qualidade técnica, provocação do criacionismo.

Golpes Baixos: Pouca ambição, pouca surpresa e algum desperdício de talento do mais alto nível.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Le Week-End



Realizador: Roger Michell
Argumento: Hanif Kureishi
Actores: Lindsay DuncanJim BroadbentJeff Goldblum 

Imaginem que pegavam no Before Midnight e o transpunham para 30 anos mais tarde. Penso que o resultado havia de andar perto do que vemos neste Fim-de-Semana em Paris.

Um Filme sobre o futuro da vida real, uma história que mexe com todos os nossos medos do que possa vir aí, do que é o amadurecimento de uma relação, do que é o desgaste, do que são belos momentos em miradouros e horríveis discussões envolvidas em nada, apenas e só para magoar o outro.

Um casal de 3ª idade repete a sua lua de mel mas apenas geograficamente. Fazem uma mala cheia de problemas "lá de casa" e embarcam numa terapia pessoal que tem tudo para correr mal. Entre encontros e desencontros, zangas, paixões, desespero e até algum humor, vão-se reencontrando um no outro, na vida um do outro e na forma como pretendem ver o seu futuro.

A mulher é ácida, bruta e tem a corda da relação na mão, o homem é meigo, sarcástico e também um pouco soturno, ora não fosse um bom escritor alguém com cicatrizes nas palavras.
Uma relação com pitadas de charme e zonas extremamente escuras, momentos que nos deixam sem ar. Tudo é colocado em causa e não interessa a idade e a comodidade, aqui interessa o que ainda há para viver e como o queremos fazer.

Um filme que resume alguns problemas de fundo de uma relação, visto pelos olhos de um casal que certamente já vimos por aí, na nossa família ou entre amigos.
Um casal que se pudesse escolher, simplesmente dançava espantando os males que o rodeia.


Golpes Altos: Enormes interpretações, diálogos fantásticos e o discurso do personagem interpretado pelo Broadbent à mesa no jantar de amigos (já disse que ADORO boas cenas de jantares?).

Golpes Baixos: Nenhum que consiga destacar. Talvez a escolha da cidade... é SEMPRE Paris pah...