domingo, 27 de outubro de 2013

Frances Ha


Realizador:  Noah Baumbach
Argumento:  Noah BaumbachGreta Gerwig
Actores: Greta Gerwig, Mickey Sumner, 

Referências e mais referências.
Gosto de filmes que me levem a outros e a mais outros mas que mantenham personalidade. Filmes que não escondem as suas referências mas mostram que têm algo a acrescentar.
Neste filme vi imenso o À Bout de Souffle, pedra basilar da Nouvelle Vague nos seus impulsos bem como, obviamente, o velhinho Woody Allen e as suas conversetas por Nova Iorque. 

Duas referências ambiciosas que se cruzam com grande eficácia neste filme muito bem trabalhado. Aqui temos uma história romântica de mulheres libertinas cheias de sonhos e ambições, rodeadas por pessoas muito diferentes e estados de espírito instintivos. 

O filme transmite uma proximidade grande com a personagem principal. Essa proximidade é mais eficaz também porque a mesma escreveu o Guião com o Realizador, sabemos que é uma fórmula com algum sucesso desde que o talento exista, e existe. Esta actriz meio "destrambulhada" é uma agradável surpresa e cria uma empatia imediata, quase paternal, com quem a está a ver... Queremos que a vida lhe corra bem porque ela mostra ser transparente de uma forma muito inocente. 

Uma história de procura, de ambição e de desejos por vezes simples mas que fazem toda a diferença na nossa vida. Uma miúda simples que se procura na grande cidade, uma miúda que não tem medo de batalhar à sua maneira, com deambulações sentimentais quase constantes e uma forma de estar no mínimo peculiar. 

Esta sonhadora consegue-nos conquistar e aconselho-vos a seguirem-na neste filme muito bem conseguido que nos deixa com a sensação que ainda é possível reinventar estas histórias simples.


Golpes Altos: Referências muito assumidas e bem trabalhadas, banda sonora, charme em muitos momentos, trabalho dos actores. 

Golpes Baixos: Resolução final demasiado instantânea.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Monsieur Lazhar



Realizador: Philippe Falardeau
Argumento: Philippe Falardeau (guião), Evelyne de la Chenelière (play)
Actores: Mohamed FellagSophie NélisseÉmilien Néron

É na escola que construímos o nosso início, é por lá que apanhamos os primeiros traumas, sustos, amores, desamores, paixões, relações, tudo... Quando somos putos somos uma esponja e absorvemos mais do que devíamos, mas é bom porque tudo serve de experiência.

Isto funciona assim menos quando essa experiência é de facto desnecessária... Numa Escola Canadiana uma professora suicida-se em plena sala de aula e 2 dos seus alunos vêm a mesma pendurada pelo pescoço. Imagem que os vai perseguir num curto espaço de tempo de forma muito intensa e que vai criar muitas dificuldades no que toca a relação com Professores, Pais, colegas, tudo...

Com a saída da Professora entra em cena um Argelino que ficou sensibilizado pela perda e quer ajudar. Torna-se então o Professor substituto da turma e cria ligações fortes principalmente com os miúdos mais afectados pelo trauma. Este Professor identifica-se com a história e é uma grande ajuda para esses mesmos miúdos.

Um filme que aborda vários temas de forma muito cautelosa, desde o "drama" dos Professores que não podem tocar nas crianças, aos problemas com os Pais, as divergências entre Professores, as divergências entre alunos, a ligação ao trauma, a força dos boatos num meio como uma Escola, etc.
Penso que tudo isto são temas extremamente actuais e que deviam ser vistos e revistos por quem realmente pode fazer alguma coisa nesse sentido, é que hoje em dia a protecção excessiva das crianças acaba por criar fendas gigantes de personalidade e até de afecto.

Fellag faz um papelão e os 2 miúdos principais são incríveis... O puto (Émilien que faz de Simon) tem uma cena na sala de aula que poucos graúdos conseguiriam fazer com tamanho estrondo. É impressionante.

Frase da noite de um Professor no filme: "Hoje em dia trabalhar com crianças é como trabalhar com Resíduos Radioactivos" -> e penso que todos estamos de acordo que não pode ser assim... Esta "doença" dos Carlos Cruz da vida que de repente se criou, algo que resulta numa gigante bolha Actimel para os putos é simplesmente risível e também ela desnecessária.

Um filme a não perder. Para todos os Pais, futuros Pais e Professores! (claro que bem mais que isto mas estes vão senti-lo de outra forma...)


Golpes Altos: a história é a protagonista do filme, os 3 papéis principais, o "alerta" que se cria para esta nova geração de pequenos imperadores.

Golpes Baixos: um filme com um potencial de ser ainda melhor e que pecou por escasso a ambição do mesmo. Penso que podiam dar-lhe uma dimensão ainda maior para ser verdadeiramente marcante.

domingo, 13 de outubro de 2013

Gravity



Realizador: Alfonso Cuarón
Argumento: Alfonso CuarónJonás Cuarón
Actores: Sandra BullockGeorge Clooney

Nota Prévia: Os 2 escribas deste blogue estão com menos tempo que o normal, um deles emigrado e outro com menos mãos que trabalho tem complicado a cadência de posts a que especialmente o buddy vos habituou. O grito de exigência de uma das nossas mais fiéis leitoras fez-me acordar e trazer um novo filme! Mais virão! 

O Cuarón 7 anos depois da obra prima Children of Men traz-nos um daqueles filmes ao qual podemos dar aqueles adjectivos que as revistas adoram, "electrizante", "sufocante", "desesperante", bla bla bla... É de facto isso tudo e também irrepreensível a nível técnico, outra coisa não seria de esperar do Mexicano.

Neste filme nós respiramos o sufoco, nós estamos lá... a proximidade que cria em todas as situações adversas que vemos retratadas neste filme é incrível. Tudo gira à volta de desespero, de estar no limite, de estar perto do fim, do básico instinto de sobrevivência... Não me lembro de um filme em que me tenha sentido tantas vezes esmagado pelo que o personagem principal está a sentir, é mesmo um exercício de resistência a uma tensão constante e, repito, sufocante...

Digo a brincar que este filme é uma mistura de 127 Horas com Cast Away mas passado no espaço, no entanto dá 10-0 a qualquer um dos filmes mencionados... As referências estão mais no conteúdo do que na forma e se há coisa em que este filme se destaca é precisamente na forma.

Mudava 3 coisas a este filme: A banda sonora muito americana épica manhosa, a Sandra Bullock porque a odeio e o final... Não vou lançar spoilers porque o filme é recente mas mudava-o...
Estranhei alguma excessiva "americanização" (no mau sentido...porque adoro cinema Americano) do Cuarón neste filme, penso que estes 3 pontos que eu mudava são o pico desse pecado, podia ser um filme ainda mais marcante se fosse menos "preocupado".

A não perder. Não vão ver um marco da história do Cinema, mas vão ver um grande filme muito bem produzido e realizado e tudo e tudo...


Golpes Altos: A cena HISTÓRICA, repito, HISTÓRICA dela sozinha na chuva de satélites; a TENSÃO constante (acho que me doía o corpo no final...); o sufoco da proximidade criada; a intensidade dos vários momentos; toda a técnica do Cuarón.

Golpes Baixos: Banda Sonora; o final e a Sandra Bullock (acho que até a Jodie Foster fazia melhor...)