sábado, 17 de agosto de 2013

A Gaiola Dourada


Realizador: Ruben Alves
Argumento: Ruben Alves, Hugo Gélin, Jean-André Yerles
Actores: Rita Blanco, Joaquim de Almeida, Roland Giraud, Chantal Lauby, Bárbara Cabrita, Lannick Gautry


Todos já vimos retratos dos nossos emigrantes feitos por outros, pelos que estão do lado de lá da barricada. O Ruben Alves é Luso-Descendente e fez um filme que serve como ele próprio diz para homenagear os Pais... Estamos no bom caminho portanto.

Quem não gostar deste filme tem um problema grave com actores Portugueses, mais que um problema, terá um preconceito que simplesmente não faz sentido.
Quem não gostar deste filme não o vai saber justificar de forma categórica.
Quem não se divertir a ver este filme, tem o humor de um camião TIR...
Quem achar que este filme reduz de alguma forma os Portugueses, não percebeu puto do que se passou nestes 100 minutos.

É um filme fácil de gostar, é um Almodovar com sangue Português que retrata TODOS os clichés do "Emigrante" e é algo assumido. Os retratos têm de recorrer aos clichés, os clichés existem precisamente para serem BEM usados. Estamos perante um caso desses, um filme onde os pormenores são uma perfeita delícia sejam eles em diálogos, em roupas, em adereços, em expressões... TUDO pensado e, acima de tudo, tudo muito sentido e retratado por alguém que viveu uma história semelhante.

História essa que retrata uma família de emigrantes sediados em França, país que viu nascer os seus filhos e que com maior ou menos dificuldade os recebeu bem e lhes ofereceu oportunidades. A dada altura a família recebe uma inesperada notícia: são herdeiros de uma fortuna significativa e... tudo muda a partir daí! Ciumeiras alheias, elogios e benefícios tardios de quem não os quer ver partir, dúvidas, dramas familiares... um autêntico caos à Portuguesa.

Claro que também não gosto que falem em Francês em casa.
Claro que também preferia que eles não tivessem enfiado ali a Maria Vieira.
Claro que me chateia que 70% dos risos na sala sejam quando eles dizem asneiras numa forma de humor muito fácil.
Claro que não é um filme de topo...

Mas ADOREI vê-lo e aconselho a todos os que gostarem de se divertir a ver um bom filme. Entretenimento puro, coisa que é raro vermos quando temos Portugueses associados, pelo menos no que toca a Cinema.


Golpes Altos: Os pormenores, a boa disposição, a Rita Blanco (digo e repito, é das melhores Actrizes que já vi... Está ao nível das melhores de Hollywood), o Joaquim de Almeida a fazer de Pedreiro, as miúdas giras que aparecem (e sim, também aparecem miúdos giros...), a Realização!

Golpes Baixos: Porquê o Francês em casa? Para pouparem nas dobragens? A Maria Vieira? A sério?


PS: Adoro ser Português.

42 comentários:

  1. A única coisa que odeio mais que actores portugueses, são comédias à portuguesa. E a única coisa que odeio mais que isso, é a Rita Blanco. Gosto muito do meu país, mas é mais chouriços, bacalhau e gajas boas. Comédia não, cinema não. Nunca vou ver isto!

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    1. Fazes mal. É um bom filme e só uma dose grande de preconceitos pode impedir que o vejas. Concordo com quase tudo o que o B. diz - a Maria Vieira está tão bem como todos os outros e se não falassem franciú o filme não seria fiel. Venham mais.

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    2. Fazes muito mal pois temos maravilhosos actores e maravilhosos filmes e, desculpa que te diga mas a Rita Blanco é das melhores actrizes portuguesas.

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    3. "Das melhores actrizes portuguesas" é uma espécie de fina flôr do entulho. Se ela fizesse menos vezes de empregada doméstica eu ainda lhe admitia algum talento.

      Quanto aos filmes portugueses, agora já se começam a fazer uns melhorzinhos. Temos o João Canijo, o Rodrigo Areias e o GRANDE Miguel Gomes. Estes sim são nomes que me orgulham de viver neste país. Mas infelizmente, os filmes portugueses que se aguentam no cinema são estas porcarias que andam prái.

      Querem ver cinema português de qualidade? Vejam o Tabu. Agora comédiazinhas de costumes sobre emigrantes epah... poupem-me. E pensar que A Gaiola Dourada e os Intouchables vieram do mesmo país da Nouvelle Vague...

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    4. Tu parece que queres ver um Portugal que só tu conheces, parece que queres mudar as tradições do teu país e "reinventar" algo que sempre existiu e teima em continuar a existir... Isto é a tua história gostes ou não! É como os pseudo-intelectuais Americanos não quererem mais Westerns... é ridículo! Raízes a que não podes fugir e que aqui estão muito bem retratadas.

      Mas tu adoras estar nessa posição típica de "sou contra massas":
      - o mundo adorou o Intouchables -> tu nem queres ver e dizes que é uma merda.
      - os tugas adoraram a Gaiola Dourada (e muitos Franceses também) -> tu nem queres ver e dizes que é uma merda.
      - o mundo diz mal do Mascarlha -> Filme do c*...

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    5. Eu gostava de saber que mundo é que diz mal do Mascarilha... o gajo do Ebert deu-lhe três estrelas e meia em quatro e o do The Guardian deu-lhe 4 em 5... Depois o eurico de barros do publico deu uma... o burro sou eu? Vocês têm que começar é a ler as críticas dos gajos a sério, não é dos portugueses que não têm tomates para dar estrelas a um filme da disney!

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    6. Eu normalmente não faço puto de ideia o que dizem os críticos, não lhes ligo nenhuma. O mundo para mim são as pessoas como eu e tu e a malta que aqui vem comentar que gostam de cinema e vêm muitos filmes.

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    7. Mas eu tenho essa atenção, gosto de ler críticas e saber o que os "entendidos" dizem, mesmo quando não concordo com eles. Não significa que o Mascarilha leve automaticamente um selo de qualidade, mas é só para vos mostrar que não faço questão de ser do contra. A maior parte das vezes não concordo mesmo com vocês (leia-se, tu e o JP) :P Claro que esta história de classificar filmes tem sempre uma enorme carga subjectiva, e eu não sou hipócrita com aquilo que os filmes me dizem. Se gosto, gosto. E, honestamente, tenho vindo a descobrir que tenho um bom gosto do caralho.

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    8. Ah e mais uma coisa, para os patrióticos defensores desta treta de comédiazinha que saiu agora: Gostava de saber, quantos deles é que foram ao cinema ver o Tabu, e quantos deles têm noção da projecção que o filme teve lá fora. Gostar de ser português não é só cheirar mangericos, temos que puxar pelo que temos de bom, não pelo que temos de medíocre e antiquado. Comédias de costumes sobre emigrantes? Poupem-me.

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    9. Duarte, este gajo conheceu-te no teu novo país?

      http://www.abica.pt/2013/10/16/passaros-fora-da-gaiola/

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  2. É um filme Francês...

    Mas que podemos nós fazer a um gajo que diz bem do Mascarilha mas diz mal de filmes que se recusa a ver?

    Deve haver um adjectivo para estes gajos, mas prefiro ir dormir.

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    1. loooool

      O Duarte Garrido é o meu barómetro para saber se vou gostar do filme ou não. Deixa-o lá em paz.

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    2. Há um adjectivo: inteligente. E eu não disse que o filme era português, disse que eram uma "comédia à portuguesa, com certeza". lol Que deprimente. Olho para este filme e só vejo varinas e sardinh'ássada.

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  3. O filme é divertido, sem dúvida. Podia era ser mais ambicioso. Peca, na minha opinião, pela pouca densidade das personagens. Por exemplo, o casal não passava de uma amálgama de todos os clichés associados aos emigrantes portugueses e ficamos sem saber o que é que eles são para além disso (trabalhadores, despachados, conservadores, prestáveis...).

    Há, no entanto, uma excepção. A determinada altura, sem que se perceba muito bem porquê, a filha fica chateada e faz uma cena no primeiro jantar entre pais, sogros e namorado. O Joaquim de Almeida bate-lhe à frente de toda a gente e ela acaba por ficar chateada com o namorado. É uma cena em que se vislumbra o lado negro de uma das personagens principais... Afinal ele pode não ser o tipo porreiro que julgávamos que era. Será que também bate na mulher que amava ao ponto de, apesar de contrariado, ir tentar passar uma noite num hotel de luxo num dia de Benfica Porto (neste filme o Benfica joga com o Porto todos os dias)? É um momento importante do filme que é completamente abandonado. É como se não tivesse acontecido e dá a sensação de que eles se arrependem de ter introduzido aquele tipo de conflito, não fosse o público pensar que as personagens eram mais do que caricaturas...

    O filme seria muito melhor se houvesse alguma evolução nas personagens para além do plano bidimensional. Como foi tão bem feito em "Intouchables", outra comédia francesa que está a milhas desta).

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    1. Penso que o argumento se defende das limitações que ia ter caso abordasse algum tipo de intensidade. São muitas personagens, o Intouchables tem duas...dá tempo para tudo! Mas claro que são filmes incomparáveis.

      No entanto esse momento de abandono que retratas é um bom exercício que nos deixa a pensar que podiam ter ido mais longe, ainda assim aplaudo sempre quem não arrisca sabendo à partida que não devia ter mãos para esse mesmo risco, penso que foi profissional.

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    2. Concordo! É um filme completamente despretencioso que cumpre bem o seu objectivo de entreter e, também, de retratar uma realidade que é pouco explorada. É bom para a auto-estima dos emigrantes e torna os não emigrantes como eu mais empáticos em relação a eles.

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  4. Eu adorei este filme. Está muito divertido e light, como se pedia. Achei a mulher do empreiteiro (que não sei o nome) muito boa. Todos os enganos que ela tem, encaixam perfeitamente.

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    1. A Rita Blanco é top... Sempre foi e adorava vê-la noutra dimensão de produções.

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    2. A Rita Blanco parece que não toma banho desde que nasceu, e faz sempre de empregada doméstica. É asquerosa. Os portugueses têm que se reinventar, continuamos a achar que o Vasco Santana tinha graça e que a Revista é uma forma de arte nobre.

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  5. Gosto que os Intouchables tenham sido referidos nos comentários a este filme. É outro que eu me recuso a ver. Há coisas na vida que basta ver um bocadinho para saber que não presta.

    PS - O Mascarilha é um bom filme. E eu sou o gajo que sempre odiou os Piratas. Este é bom, não há como fugir.

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    1. Então não vejas os filmes, estás no teu direito. Só é um bocado ridículo que aproveites isso para tentar passar por pessoa extremamente inteligente e culta. É uma cena à hipster e que impressiona um ou outro ser mais superficial, mas não é por aí...

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    2. Ahahahahah Garrido Hipster! Toma lá disto!

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    3. LOL "cena à hipster" é óptimo. tens razão sérgio, isto é só paleta. eu às escondidas só vejo comédias familiares.

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  6. Eu sou emigrante e apenas falo em português com os meus filhos e, ambos têm aulas de português fora do currículo escolar 2 vezes por semana os livros em casa são 50/50 em alemão e português... Sempre disse que os meus filhos nunca perderiam contacto com a língua materna e assim tem sido.
    Pois era e é algo que me faz confução ver os meus primos que não falam correctamente a língua portuguesa.
    Em relação os clichés associados aos emigrantes portugueses, o emigrante português é assim e não há volta a dar. Sim temos a nova de emigrantes qualificados onde eu e o marido nos inserimos mas no geral são assim.
    É a nossa essência e não há porque esconder ou mudar.

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  7. Buddy, resposta rápida: a Rita Blanco do "Sangue do Meu Sangue" não é um assombro?

    P.S. - O filme não é nada de especial (funciona mais como fresco duma parcela social do que como obra cinematográfica de qualidade) mas entretém e sempre faz rir um pouco. Não o acho óptimo, nem sequer bom, mas daí a reduzi-lo a merda...sobretudo após textos rejubilosos acerca de The Lone Ranger! Lol, é piada, não é?!

    P.P.S. - O Tabu é óptimo mas o Sangue do Meu Sangue é o melhor filme português da última década.

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    1. Ainda não vi o Sangue do meu Sangue, o Tabu achei aborrecido no "arranque".
      O Alice é para mim do melhor que já se fez em Portugal, mas não vi propriamente as obras todas para poder opinar muito mais...

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    2. O Alice e giro, o Sangue do Meu Sangue é bom mas o Tabu é uma obra de arte. Desculpa, mas acho que nem sequer estão na mesma liga. O Tabu foi considerado o segundo melhor filme do ano a seguir ao Amour.

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    3. Ah e resposta rápida: Ela está bem mas não é um assombro... e continua com aquele ar javardo.

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    4. Essa do "foi considerado" com o número de fontes a rojar barbaridades que há hoje em dia...

      Mas sim, foi muito bem recebido especialmente pela crítica.

      Continuo-o a achar aborrecido no início...

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    5. Eu acho que o início é a melhor parte. O "intrépido explorador" é delicioso!

      Sight & Sound film magazine listed it at #2 on its list of best films of 2012.

      Foi só a melhor revista de cinema do mundo... Venham-me cá falar do Sangue do Meu Sangue...

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  8. O Alice também é bom, é super angustiante, mas é um tema mais fácil de trabalhar e tem menos personagens para serem trabalhadas, passe a redundância. É nesse sentido que Sangue do Meu Sangue é uma pedrada no charco no nosso cinema. A densidade das personagens femininas daquela família, sobretudo as duas irmãs...PQP!

    VÊ JÁ!

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  9. O Sight & Sound considerou o Vertigo o melhor filme de sempre. Concordamos todos com isso?
    Não podes odiar os críticos e as publicações quando te convém e adorá-los e tomá-los como exemplo quando te convém ainda mais. Não é coerente.

    P.S. - Tabu tem meia-hora a mais. É o único problema. E a temática a mim diz-me muito menos. Continuo com o do Canijo.

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    1. É o que eu digo, às vezes esquecemo-nos da carga de subjectividade que isto tem. A temática do Tabu a mim diz-me muito mais. Mas isso é mesmo assim...

      Quanto aos críticos, eu só odeio os portugueses. Os críticos bons raramente estamos em desacordo. O último em que isso aconteceu foi o Only God Forgives. O do The Guardian adorou e o do Sun Times odiou. Fiquei um bocado amuado com o gajo, mas as coisas são mesmo assim. Ele não percebeu o filme, e isto não é arrogante da minha parte. Porque às vezes não tem nada a ver com inteligência, pode ter a ver com a vivência ou até com características pessoais de cada um. Duvido que muita gente tenha percebido realmente o Only God Forgives como eu percebi, e acho o mesmo do Mascarilha (noutro nível claro).

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  10. Eu vi este filme sem expectativa de loucura, nem de assombro. É entretenimento e, dentro do espectro gigante que serve o cinema, creio que o entretenimento continua a ser uma coisa que rende.

    A comédia tende a ser desvalorizada em certos círculos cinematográficos e Portugal não é excepção - "Ah, isto é daqueles filmes para o povão". É um grande filme de comédia? Não. É uma comédia, filme de Verão, que te deixa sair de lá satisfeito? É.

    Concordo com o que foi dito da amálgama de clichés e da pouca profundidade dos personagens ou, pelo menos, a forma como a coisa é pouco explorada. A meu ver isso tem que ver um bocado com o facto da produção também ser francesa e, se tivermos em conta que isto também tem em conta o público francês, o que para nós é a mais, se calhar para eles é necessário para caracterização.

    Pormenores como a filha a levar a chapada, o puto com vergonha da mãe, tudo isso seriam pormenores interessantes que depois não são abordados. Mas quem viu o "Bem vindos ao Norte", ds melhores comédias francesas dos últimos anos, se fosse uma cena portuguesa, a retratar bimbos, também nos íamos questionar sobre se aquilo era mesmo preciso.

    Ao "Sangue do meu sangue" não me apanham a bater palmas. Tecnicamente não é um mau filme, mas é chato, é lento, em edição cortava-se muita coisa e é mais uma volta ao cliché do gang e do gueto à portuguesa. Se é para ir por aí, tendo em conta a realidade portuguesa e um toque de criatividade, então eu vou pelo "América", para mim muito bem filmado e com um argumento mais inteligente.

    A cena dos dogmas é que é lixada, porque ter uma opinião e um gosto definido é perfeitamente aceitável, um tipo assumir a bitola que isto é bom ou isto é mau sem ver (ou com filtros de preconceito) é outra coisa. Há filmes que eu assumo não querer ver no cinema, mas pelo menos dou-lhes uma oportunidade mais tarde.



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  13. Sangue do Meu Sangue é poderoso de princípio a fim, é uma ode ao amor incondicional, ao amor de família, ao amor de sangue. Até onde conseguimos ir para defendermos as nossas pessoas, aqueles que demos à luz, criámos, ajudámos a ser alguém neste mundo.
    Rita Blanco e Anabela Moreira são incandescentes, Cleia Almeida é de uma naturalidade arrebatadora, Nuno Lopes é brilhantemente sujo e porco e todo o elenco secundário é irrepreensível.
    E ninguém filma "o bairro e a rua portugueses" como Canijo. Tudo é perfeito, tudo encaixa bem, das cenas de cabeleireiro à cena do bar. Filmes como este não têm de ser criativos, vêm das entranhas da nossa sociedade, da tragédia humana, das nossas famílias à beira da miséria que se amontoam em casas com um ou dois quartos, com progenitores que trabalham mais de 12 horas por dia para trazer o ordenado mínimo para casa e não têm como "deitar a mão" aos filhos em crescimento e em evolução - ascendente ou decadente, na maioria dos casos a segunda.
    A câmara "hanekiana" lenta e pesada, que jaz sobre os movimentos das personagens, é uma câmara que se move assim porque tem de mover-se assim, porque a existência de pessoas como a Márcia e a Ivete é lenta, vagarosa, faz-se de pequenas migalhas, meros tostões que se vão amealhando dia após dia para que o próximo seja melhor. E para que a vida dos filhos ou sobrinhos venha a ser um pouco melhor. Para que tenham um futuro.
    E depois os pormenores, as pequenas passagens mágicas como a cena à mesa em que se gera uma discussão com os carapaus do Nini (o almoço de cuscuz da família do Sr. Slimane em La graine et le mulet de Kechiche...), as TVs sempre ligadas, aquele barulhinho ensurdecedor como pano de fundo, a "dar vida ao bairro" e a relembrar a vida constante dos bairros - desemprego, precaridade latente, contrabando, dependências -, a dicotomia entre a cena inicial e final, com jogos da Selecção Nacional a dar na TV: primeiro o jogo inaugural, onde o pico das expectativas está em alta; depois, a encerrar, a humilhação (vulgo violação) de Ivete, para proteger o sobrinho, ao mesmo tempo que Villa marcava o golo que acabava com as "nossas esperanças". Ou as esperanças daquelas pessoas, daquelas vidas.
    O filme é tão, tão soberbo que me recuso a ler qualquer opinião contrária. Assumo-me irreversivelmente dogmático com aquilo que para mim é sem dúvida uma obra-prima.

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    1. Eu gostei do Sangue do Meu Sangue, só achei a cena mais forte do Nuno Lopes com a Anabela Moreira totalmente desnecessária, é uma cena que não está lá a fazer nada, que não acrescenta nada ao filme e o filme perde muito por isso. Bem, bem, está a Cleia Almeida. Na minha opinião o Noite Escura é muito, muito superior, é talvez um dos melhores filmes portugueses.

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  14. Realmente estas coisas são como são. Para mim essa cena é o desfecho incontornável da história de Ivete, Joca e Telmo. É o clímax consequencial do "amor incondicional". Do sangue do meu sangue.
    Noite Escuro é um grande filme, bruto, cru, sem mordaças. É inclusivamente o início de uma maravilhosa colaboração da última década do nosso cinema, entre João Canijo e Anabela Moreira. Mas não tem a densidade, a carga emocional e as referências cinematográficas de Sangue do Meu Sangue.
    Canijo para mim é grande, um dos poucos iluminados nas "trevas do cinema português", e tem em Sangue do Meu Sangue o seu ponto mais alto.

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    1. Sim, mas acho a cena demasiado longa e detalhada.

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  15. Ainda não vi o filme mas considero já pelos comentários que li que este atingiu os seus propósitos. Sejamos honestos... a vida de uma família de emigrantes não é cheia de glamour e coisas do género. Ouvi dizer que este filme teve uma boa aceitação em França e penso eu que é esse o principal objectivo do filme.

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