segunda-feira, 9 de junho de 2014

Retrospectivas – David Fincher



1992. Alien 3. Típico filme “ou adoras ou odeias”. Disruptivo, estranho, mentecapto, claustrofóbico.
Eu venero, considero-o uma pérola diferencial na sucessão a duas obras-primas mais “clássicas” da saga, mas conheço muito boa gente que o detesta (até o próprio é um crítico acérrimo). Mas uma coisa é inegável: não deixa ninguém indiferente. É marcante, indigesto até. E aos 30 anos não é uma má estreia na realização.

1995. Segunda longa-metragem, sai um dos melhores thrillers norte-americanos dos últimos 20 anos. Seven.
Pitt começa a mostrar-se noutro género – até aí os seus papéis relevantes tinham sidos em épicos romanceados como A River Runs Through It e Legends of the Fall –, Freeman confere seriedade e sobriedade ao projecto e Spacey rebenta todas as escalas e mais alguma com uma daquelas interpretações de época: curtas aparições, poucas falas e um impacto visceral. John Doe ecoa durante alguns meses na nossa memória e Fincher transporta-nos para o universo dum The Silence of the Lambs, obrigando muitos a tomar nota do seu nome.

1997. The Game. Fincher confirma a sua veia meio lunática num jogo surreal onde nada é o que parece.
Bom filme. Não é excelente, longe disso, mas é filmado de forma segura, bem dirigido – um Douglas competente e um Penn com excelentes momentos – e sustenta-se sempre numa tensão e num jogo de espelhos que nos agarra até final. Pena o desfecho, mas Fincher redimir-se-ia meses depois.

1999. À quarta película e poucos anos volvidos da estreia, eis Fight Club. O filme de culto que todos os criadores da nova geração querem fazer mas pouquíssimos conseguem. Um Rebel Without a Cause dos nossos dias.
Ninguém esperava algo assim. Fight Club é um exercício cénico brilhante, uma dissertação surrealista, uma descarga de violência e lunatismo ímpares. Nada faria prever que num ano com tão bons filmes como American Beauty, Magnolia, Being John Malkovich, Sweet and Lowdown, The Insider ou Boys Don't Cry, seria a sórdida e psicoterapêutica adaptação da obra homónima de Chuck Palahniuk a elevar-se sobre tudo o resto. Sem obviamente ter qualquer reconhecimento ao nível de prémios ou nomeações. Claro.

A esse “aparecimento” segue-se uma carreira sólida, bem delineada, a tocar em vários géneros, mas em última instância com um regresso quase sempre natural ao thriller. Zodiac (2007), um policial negro e cerebral, e The Social Network (2010), provavelmente o melhor “filme empresarial” pós-Wall Street, são as grandes obras fincherianas dos últimos anos.
Embora nada chegasse a Fight Club. É e será a sua obra-prima. Intocável. Como li algures, "Fight Club is shaping up to be the most contentious mainstream Hollywood meditation on violence since Stanley Kubrick's A Clockwork Orange."

David Fincher teve algum impacto no cinema norte-americano das duas últimas décadas. Diria até muito para quem gosta dele como eu.
Pulsante mas coeso, inovador e sempre estimulante, o tipo introvertido de Denver que veio da direcção de vídeos musicais (chegou a vencer Grammys e MTV Videos com Stones e Timberlakes) acabaria por tornar-se naturalmente num dos nomes principais do “novo cinema americano”, do qual fazem parte cabeças tão distintas como P. T. Anderson, Darren Aronofsky, Spike Jonze ou Wes Anderson.

3 comentários:

  1. Ele publicamente diz que nem reconhece o Alien 3 como sua obra :) de tanto ódio que lhe destila...

    O Fight Club foi um dos maiores flops de bilheteira, ele depois faz o Panic Room de "borla" para poder recuperar algum ao estúdio... Meses mais tarde, o mesmo flop de bilheteira foi o DVD mais vendido de sempre (na altura em que saiu). Engraçado como há filmes marcantes e que ficam para a História que nem sempre são reconhecidos no imediato.

    O Seven é melhor que o Fight Club, mas o Fight Club será sempre o Filme mais animal do gajo... Nem sempre gostamos do que é melhor...

    PS: não suporto o Zodiac, é mais mastigado um pacote inteiro de Super Gorila...
    PPS: e ainda tem 2 episódios e muita influência no House of Cards :)

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  2. Curtas:

    - Pertenço a um restrito grupo, meio obscuro e mal encarado, que se reúne anualmente numa cave em Sacavém, que ADORA o Alien 3. Que hei-de fazer?:) Cada um com a sua pancada. O filme é incrível.

    - Arrisco em dizer que nem 10% das pessoas que viu numa primeira vez o Fight Club percebeu até onde ia, a sua essência. Eu pelo menos tive de vê-lo umas 3 vezes até assimilar grande parte da mensagem. E ainda hoje não sei se o entendo por completo. Tal como aconteceu com o referido A Clockwork Orange 20 anos antes.
    É sem dúvida o melhor filme dele, acho-o inclusivamente muito superior ao Seven - e fiz o elogio que fiz ao mesmo, o qual mantenho. Mas é normal, sou o tipo que coloca o Fight Club como um dos seus 10 ou 15 filmes preferidos de sempre.

    - O Zodiac é bom, pa. Muito bom até. É algo massudo, sim, mas é incrivelmente bem contado e tem desempenhos fortíssimos (é dos melhores papéis do Ruffalo e até do Gyllenhaal, que é um gajo para o qual tenho pouquíssimo saco).

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  3. O Alien 3 é demais, eles não têm armas e a Ripley morre! Também acho o Seven superior ao Fith Club.

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