quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Fury


Realização: David Ayer
Argumento: David Ayer
Elenco: Brad Pitt, Shia LaBeouf, Logan Lerman, Michael Peña, Jon Bernthal

Desengane-se quem vai à procura do convencional filme de guerra quando entra numa sala para ver este Fury, o novo filme dum relativamente desconhecido David Ayer, argumentista e realizador, que até agora tinha como nota maior no currículo o argumento do excelente Training Day de Antoine Fuqua, e mais recentemente toda a concepção do interessante End of Watch, com Jake Gyllenhaal e Michael Peña, com quem volta a trabalhar aqui.

Seguindo a história dum tanque de guerra norte-americano em 1945, já no interior da Alemanha nazi, a qualidade da película assenta acima de tudo em duas pontes: dum lado, o relacionamento das personagens que compõem a equipa, liderada por um excessivo e céptico mas humano e amargurado sargento conhecido como Wardaddy – Pitt numa espécie de versão lunar do Aldo Rayne de Inglourious Basterds –, personagens essas demasiado marcadas pelo que viram e sofreram e todas elas num estado de quase insanidade; do outro, as cenas de combate brilhantemente filmadas e com uma adrenalina de cortar a respiração. Há momentos em que a claustrofobia do tanque passa para a sala e nos sentimos incómodos, como que amordaçados pela situação.

E essa tensão, e a frieza como é retratada, é ponto-chave em Fury: não há melodrama, não há sentimentalismo em excesso. Mesmo a cena do banho e da refeição é tão gélida (a forma como Wardaddy aborda as mulheres e confronta os seus homens) quanto emocional (o “momento” de Norman e Emma). O objectivo de Ayer, de princípio a fim, ou pelo menos até perto dele, é colocar-nos dentro daquele tanque, na pele daqueles homens. Sentir aquela violência, física e mental.

Fury é a guerra vista da forma crua e feroz que por vezes não queremos ver. Não é complexo nem pretende sê-lo, embora detalhista nas cenas de acção. É focado no dever de missão, na sobrevivência, na demência que se vai instalando e nas poucas crenças a que ainda nos vamos agarrando quando o desespero teima em levar-nos – LaBeouf, ou Bible, mensageiro da palavra santa.

Pena que não termine sob a mesma matriz e sucumba perante uma dimensão reconfortante da guerra, por assim dizer, onde sempre há espaço para a esperança, a salvação, o milagre. Não encaixa com a frieza e brutalidade com que Ayer nos conduziu em mais de duas horas. Ou talvez não pretenda encaixar, e não seja mais do que o acto divino pelo qual Bible tanto pregou.

E por falar em LaBeouf, uma última palavra: por favor não frites, tenta não fazer muito mais merda (já fizeste alguma) e torna-te no actor de época para o qual estás predestinado.

Golpes Altos: A sobriedade do projecto. Os planos de Ayer, sobretudo em combate. A direcção de actores, magistral. Todo o elenco, ainda que assente no carisma de Pitt.

Golpes Baixos: O final, algo sentimental. Mas talvez seja um problema meu, principalmente com retratos de guerra.

2 comentários:

  1. Adorei o filme, para mim foi sem dúvida um dos melhores do ano! E falaste aí em mais dois muito bons filmes, o Training Day e o End of Watch!

    Não me lembro da última vez que o Pitt esteve mal num papel, o LaBeouf para mim é um grande actor mas depois perde-se a fazer merdas e no geral as pessoas continuam a vê-lo como o gajo de Transformers... É pena, se ainda não viste o Charlie Countryman tens de ver!
    E não mencionaste aí o Lerman, que na minha opinião pode ter um grande futuro pela frente, adoro o moço!

    Quanto ao final, sinceramente não o consigo imaginar de outra forma. Acho que foi um bom desfecho para o filme! :)

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  2. O LaBeouf acima de tudo parece-me um miúdo com 28 anos que, sabendo-se brutalmente talentoso, é particularmente idiossincrático. Não tem escolhas comuns nem consensuais. E o "gosto" é muitas vezes duvidoso.

    Mas tem papéis onde percebes que é especial: neste Fury, no Disturbia e no Eagle Eye está excelente, o segmento dele do New York, I Love You é o meu preferido, no Charlie Countryman que referiste é um estrondo. E no Lawless, onde mais gosto dele, dá um tratado.

    E depois há os filmes que não interessam a ninguém e em que ainda assim se destaca: Wall Street, The Company You Keep, o primeiro Transformers. Até no horrível Nymphomaniac do Lars von Trier o seu Jerôme é das melhores coisinhas que por lá anda.

    Há ali qualquer coisa nele que me recorda o Joaquin Phoenix. Não me perguntes bem o quê, mas há. Talvez o facto de ambos serem fritos, lol.


    P.S. - Nos últimos anos só não gostei de Pitt no Troy. De resto está sempre médio, bem ou muito bem.

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