terça-feira, 31 de março de 2015

Inherent Vice


Realização: Paul Thomas Anderson
Argumento: Paul Thomas Anderson
Elenco: Joaquin Phoenix, Josh Brolin, Owen Wilson, Katherine Waterston, Reese Witherspoon, Benicio Del Toro

Inherent Vice é o regresso de P.T. Anderson à sátira americana sob a forma drogada e alucinogénica de Boogie Nights e Magnolia em contraponto com o registo mais sério e formal dos últimos There Will Be Blood e The Master, numa trip de duas horas e tal em que somos guiados por mil e um caminhos, uns mais sinuosos que outros, e acabamos a ver os créditos, ouvir Chuck Jackson, e não fazemos a mínima ideia donde estamos.

A descrição e se possível o redescobrimento do clássico conto americano, metáfora duma nação, dum sonho, dum estilo de vida, mantém-se como objecto primário na obra do cineasta californiano, mas aqui deixamos o a eclosão petrolífera do virar de século ou os traumas do pós-guerra e centramo-nos na viragem dos anos 60 para 70, período difuso de contracultura, rock, blues, os hippies e droga. Muita droga.

E a erva é sem dúvida a força motriz da película, inspirada na obra homónima do magnético mas difícil Thomas Pynchon; aliás, após muito mastigar o filme, a sensação que me fica (e me agrada) é que o objectivo de Anderson foi mostrar um filme drogado, interpretado por drogados e dedicado a um público se possível drogado.
Metaforicamente falando, claro está – quer dizer, de Phoenix desconfia-se –, mas tudo em Inherent Vice se desenrola sob uma neblina cerrada de fumo. Fumaça. Uma fumaça poderosa e hilariante.

Se é um filme menor que justifique o relativo anonimato com que passou pelo circuito e sobretudo pela indiferença que recebeu dos grandes festivais? Não, de todo. Mas isso também não espanta ninguém.
Porém, não estamos igualmente perante uma obra maior na carreira de Anderson. P.T. não faz mal mas já criou melhor. É o preço a pagar por uma fasquia colocada tão alto.

Nota final para o elenco: todo ele excelente, com um Josh Brolin que rouba quase todas as cenas que protagoniza e um Joaquin Phoenix que, trabalho após trabalho, nos mostra que actualmente quase não tem par.

Golpes Altos: Phoenix, o restante elenco e a direcção de actores. A trama surreal e a forma como nos é transmitida em modo de trip ganzada.

Golpes Baixos: De tão louco e destemperado várias vezes sentimos que o filme se vai perdendo. Anderson acaba sempre por “resgatá-lo” mas há momentos exageradamente difusos e nonsense. Carece dessa ambiguidade genial de Boogie Nights.

4 comentários:

  1. Pah... metes o Magnolia no registo do Boogie Nights e deste?? O Magnolia para mim é sim uma espécie de retrato satirizado, mas nunca alucinogénico... aliás, acho-o mais "sério" (como adjectivas) que o The Master... bem mais! Durinho durinho... acaba com o sonho americano em 3h...

    Este ainda não vi...mas tudo o resto dele é Filet Mignon...

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  2. Não será literalmente alucinogénico como o Boogie Nights e o Inherent Vice mas é pelo menos surrealista na forma. O que não o torna um filme menos sério na essência mas sim no registo - e é isso que indico.
    O The Master é um exercício formal e metódico, um filme académico. Tal como o There Will Be Blood. Não discuto se têm uma alma ou um objecto mais sérios do que os restantes - isso é discutível e, sinceramente, à excepção do Sydney/Hard Eight, julgo que toda a filmografia de P.T. é sobre o mesmo tema -, mas no registo é menos formal. Talvez o termo "sério" tenha sido mal escolhido.

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  3. Dito isto, e após ter revisto umas duas vezes cada filme (conheces a pancada que tenho por ele), o Magnolia é dos que me diz menos. Tem muita qualidade, atenção, mas deixa-me frio. Nunca consegui criar grande relação com o filme. Até pelo Punch-Drunk Love, que é uma obra menor, consegui ganhar mais carinho.

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