segunda-feira, 8 de junho de 2015

Phoenix


Realização: Christian Petzold
Argumento: Christian Petzold
Elenco: Nina Hoss, Ronald Zehrfeld, Nina Kunzendorf, Michael Maertens, Imogen Kogge

O que vem sendo curioso no cinema de Christian Petzold, e que tão bem já havia sido trabalhado na sua anterior obra, Barbara, é a forma peculiar de filmar a guerra sem filmá-la. Ou seja, a Segunda Grande Guerra e a(s) Alemanha(s) pós-conflito são tema central na filmografia de Petzold, mas o cineasta alemão opta regra geral por histórias de reconstrução, de renascimento, fugindo às ilustrações convencionais e criando filmes de personagens inseridos na fragmentação do pós-guerra.

E disso trata este Phoenix, film noir amargo e intenso: o recomeço. A ressurreição, por assim dizer. Duma mulher, Nelly (impressionante Nina Hoss), mas também duma nação, que tenta lentamente reerguer-se das cinzas, qual Fénix renascida – e a Alemanha como a conhecemos é feita disso mesmo, dessa força telúrica ímpar para (sempre) reerguer-se e (sempre) voltar a ser referência.

Há aqui Hitchcock – Vertigo vem-nos à memória – há aqui Fassbinder, mas há acima de tudo um exercício formal e narrativo cáustico, impiedoso até, sobre amor, traição, culpa e, se possível, redenção. Redenção essa que tantas vezes se revela impossível de atingir, ora pelo medo, ora pelas marcas indeléveis do terror – o impactante suicídio de Lene ou o transe entre o macabro e o surreal em que o grupo de amigos de Nelly e Johnny está mergulhado.

Com uma banda sonora manipuladora, uma fotografia tão realista como absorvente, diálogos concisos mas precisos e uma brilhante cena final, de suster a respiração, Petzold cimenta ainda mais o seu nome dentro do cinema europeu contemporâneo, sobretudo com estas duas últimas películas sobre as cicatrizes da guerra.

Cicatrizes, marcas eternas que Nelly carrega no rosto e nos braços, prova de que é uma personagem quase antitética: a tatuagem do campo de concentração, símbolo da opressão imposta à sociedade judaica em que tinha origem; e o rosto transfigurado, símbolo duma Alemanha que amou e que, tal como ela, tem de renascer. Deixem-me repetir: Nina Hoss é fantástica.

Golpes Altos: A frieza cirúrgica, quase maquinal, na forma como Petzold desenvolve a trama. Banda-sonora, fotografia e Nina Hoss. O Speak Low final, arrebatador. O título, dos melhores e mais apropriados que tenho visto.

Golpes Baixos: Ficou a apetecer-nos (estava com um amigo que teve exactamente a mesma opinião) mais dois ou três minutos do momento final. Ou talvez não. Petzold saberá melhor do que ninguém.

1 comentário:

  1. Concordo plenamente, filme com um final muito intenso! Pergunto-me como este filme me passou ao lado e só o vi à mesmo muito pouco tempo...

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