quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Golpes de Génio – Alien


Realização: Ridley Scott
Argumento: Dan O’Bannon e Ronald Shusett
Elenco: Sigourney Weaver, Tom Skerritt, Veronica Cartwright, Harry Dean Stanton, John Hurt, Ian Holm, Yaphet Kotto

Quando dei a conhecer-me aos “ouvintes” referi que uma das poucas coisas que não suporto ver em cinema são filmes de terror gratuito. Por gratuito entenda-se plástico, sem estrutura, desenraizado. As “actividades paranormais” da vida. Ou seja, películas sem ponta por onde se pegue.

Talvez por isso tenha optado por começar por um filme de terror. Uma obra-prima do terror/sci-fi. Alien é a premissa acabada do medo no seu estado mais primitivo: o espaço (o Espaço) claustrofóbico, isolado e inescapável; a escuridão e o silêncio permanentes; o medo perturbador do que não vemos, não conhecemos e não compreendemos; a sensação de estar perante uma figuração acabada do Mal. Da máquina perfeita de matar.

O Xenomorfo, a criatura saída do imaginário de Dan O’Bannon e Ronald Shusett e concebida pela mente oculta e macabra do artista surrealista suíço H. R. Giger, ganhou ao longo dos anos, e com as inúmeras sequelas e variações, uma história por trás de si próprio, tornando-se um símbolo duma certa cultura pop.
Viríamos a saber nos filmes seguintes que havia mais formas nas sociedades xenomorfas além dos Guerreiros e que tudo se regia por um sistema de castas semelhante ao de formigas ou abelhas, onde todos trabalhavam para alimentar e proteger a Rainha. Mas isso foi só mais para a frente.

Em 1979 foi tudo novo. E impactante. Um relativamente desconhecido Ridley Scott, após ter impressionado com The Duellists, o seu filme de estreia, é convidado pelos argumentistas e o próprio Giger a realizar uma obra vanguardista com um enredo simples: num futuro longínquo a nave espacial comercial Nostromo, no regresso a casa, recebe transmissões dum planeta menor que decide investigar. Alguns tripulantes descem até ao local, fazem uma vistoria e descobrem uma outra nave espacial despenhada com um corpo alienígena morto no interior, assim como uma vasta câmara de ovos gigantes; Kane, um dos oficiais, decide investigá-los e uma criatura (facehugger) solta-se dum deles e agarra-se à sua cara. É recolhido pelos colegas e levado de volta à Nostromo e a partir daqui fez-se luz.

Daí em diante assistimos a mais de uma hora de suspense aterrador protagonizado por uma criatura que nunca vemos completamente, sendo que aí reside muito do brilhantismo de Alien: há 35 anos atrás era impossível criar um ser alienígena com a perfeição desejada, misto de beleza e ferocidade letal, pelo que para não notar-se o fato mal-amanhado usado por um jovem nigeriano de quase 2,20m de altura, Scott optou pelo melhor caminho: nunca mostrar completamente o xenomorfo, menos ainda exibi-lo.

Desde o portentoso momento da eclosão do chestbuster – uma espécie de parto violento que, juntamente com a “violação oral” do facehugger e a forma como as vítimas são mortas nos remete para um imaginário altamente sexual ao que a criatura está associada – os corpos vão perecendo um a um até ao encontro final com Ripley. E nem nessa derradeira cena – com uma Sigourney Weaver completamente desconhecida, em roupa interior, a lançar-se para o estrelato – a besta se mostra por completo. A imagem está sempre escura, densa, os movimentos da criatura são relativamente indecifráveis. A tensão é cortante. Sempre.
E nesses minutos finais eclode uma relação que perduraria na memória do cinema. De terror e não só.

Golpes Altos: O medo. A apreensão sufocante. A paranóia perante uma morte invisível, incompreensível. Em 1979.

Golpes Baixos: Ter sido tão incrível que deu origem a dezenas de sequelas ou adaptações mas nenhuma sequer se aproximou.

5 comentários:

  1. Um dos melhores filmes de sempre. Também aprecio bastante o 2º...

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  2. Adoro poder começar por dizer "Eu nunca vi essa merda!!".

    Mas ainda assim eu próprio me sentia idiota por tamanha difamação. No entanto uma coisa é certa... filmes vistos cedo demais são para mim o mesmo de nunca os ter visto, assim sendo, gostaria de o rever em idade "adulta". Penso que depois do post é uma boa oportunidade.

    PS: ainda assim, lembro-me de quase todas as cenas marcantes que mencionas... vê bem o quanto marcantes de facto são.

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  3. Já o revi umas 10 vezes sempre com o mesmo entusiasmo. É um clássico intemporal, não tem defeitos nem nada a apontar. Perfeição cinematográfica.

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  4. Infanta, o 2º, do Cameron, é óptimo mas aquela tensão, aquele tremorzinho ansioso à espera de ver algo que nunca vemos completamente desaparece. São dezenas deles a saltar dum lado para o outro. E essa sensação que Alien nos transmite é a raiz do medo.

    B, marca lá isso que revejo contigo. Pela 17ª vez, mas agora por uma boa causa.

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  5. Pois é… O 2º vem revelar a criatura que estava na penumbra e é uma barrigada de chacina de monstros e gosma por todo o lado, então aquele confronto final é um verdadeiro banquete. O 2º vem matar a curiosidade deixada pelo 1º, no final ficamos saciados.

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