sábado, 20 de abril de 2013

Dead Man Down

Realização: Niels Arden Oplev
Argumento: J. H. Wyman
Elenco: Colin Farrell, Noomi Rapace e Terrence Howard

Confúcio disse: 'aquele que pensa vingar-se, deve cavar duas sepulturas'. Confúcio tinha razão. Muitos filmes se têm feito à volta da vingança, com grandes realizadores como Chan-Wook Park e Christopher Nolan a liderarem as ordes. Mas até Tarantino - o seu maior criativo - escolhe nunca escarafunchar demasiado. Em Django ou Kill Bill vimos personagens impulsionadas pelo desejo de vingança, mas nunca nos é permitido espreitar para dentro dos vingadores - nunca conseguimos sentir o que estão a sentir.

Em Dead Man Down, a história é diferente. O ambiente é um neo-noir que lembra Fritz Lang, caso este tivesse nascido nas ruas de Brooklyn um século mais tarde. O realizador não é Fritz Lang, não é Nicolas Winding Refn - ainda que tente - mas segue a linha dos realizadores europeus em Hollywood. O seu nome é Niels Arden Oplev, e é responsável pela trilogia Millennium. Lançou a actriz Noomi Rapace para os braços de Hollywood, e seguiu-lhe o rasto. O resultado é bom. Não é brilhante, não vai ficar para a história do cinema (ao contrário do seu conterrâneo Winding Refn), mas é honestamente um bom realizador. E Dead Man Down um bom filme.

Como disse, o tema é batido, mas a abordagem é nova. Neste filme, temos dois personagens principais impelidos pela sede de vingança. Obcecados, deixam que a sua vida gire à volta dessa ideia. Desistiram de viver, desistiram de qualquer outra esperança ou ambição que pudessem ter na vida. A sua vida foi poupada para que possam vingar-se, só isso. A coisa muda quando se conhecem. E é aqui que o filme ganha os pontos todos. A relação entre a personagem de Farrell e Rapace é perfeita. Há muito tempo que não via uma química destas entre dois actores, nem tão bons diálogos e tão boas interpretações. A interacção entre os dois faz-me lembrar os anos dourados de Hollywood, quando Kazan ensinou aos actores que as relações no cinema tinham que ser como na vida. A relação entre estes dois é, em falta de melhor palavra, deliciosa. E é refrescante ver isto no meio de um filme tão negro, tão violento, tão seco no sentido em que as emoções dos personagens parecem estar constantemente contidas - coisas à europeu, os americanos nunca conseguiriam criar personagens assim.

A parte mais curiosa, e mais profunda do filme, reside no personagem de Colin Farrell. Farrell pode, em qualquer altura do filme, vingar-se de uma vez e despachar aquilo para que possa continuar a sua vida. Mas, por alguma razão, não o faz. Vai arrastando a sua vingança de forma sociopata e honestamente perturbadora. E porquê? Não é por medo, não é por bondade, não é por absolvição. É porque um vingador é como um depressivo - se deixar de ter o objecto da sua vingança, é obrigado a encarar o mundo de novo, reaprender a viver nele. Um depressivo arranja motivos para se manter deprimido, como um vingador arranja motivos para continuar a sua vingança - é o que o faz viver.

E o filme ganha pela sua inteligência, pelos seus bons diálogos, boa realização e bons actores. É despretensioso e faz-nos sair de lá bem dispostos. A mim fez-me pensar, fez-me fechar a mão com cenas de acção eléctricas e fez-me sorrir com uma relação bem desenhada. Pode estar a ser um ano fraco para o cinema em geral, mas certamente não será para os filmes de acção.


Golpes Altos: Realização neo-noir - plano da escada e cenas da varanda muito, muito boas. Excelente argumento e direcção de actores. Quero uns Ray-Ban iguais aos de Dominic Cooper.

Golpes Baixos: O trailer prometia uma boa banda sonora, e não se confirmou. Terrence Howard está bem, mas o personagem pedia alguém mas carismático. Será que vi bem: o chefe dos mauzões é o Armand Assante??? 

9 comentários:

  1. Já estava marcado para ver na 2ª feira. Ainda bem que vale a pena! :)
    Se a Noomi Rapace estiver tão bem como esteve na saga Millenium, vou adorar (apesar de estar mortinha por também ver um seguimento da versão americana com a Rooney Mara)!

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  2. Eu gosto mais da versão americana, mas a original também é óptima. Pah ela neste filme está excepcional! Mesmo!

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  3. Só tenho a dizer que se os filmes de acção continuarem assim, este ano vai ser de topo a esse nível!!! Um filme que prende, definitivamente! :)

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    1. Eu disse! Mas gostava que o ano tivesse bom noutros géneros e, infelizmente, não se está a comprovar... Venha de lá o Gatsby para safar isto até ao verão!

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  4. Olha se não for o melhor thriller de 2013 , estara entre os melhores, gostei muito da atuação de Colin Farrell e Noomi Rapace, com a direção do dinamarquesa mostrando o cinema europeu de qualidade muito boa direção,a trilha sonora no final do filme não ficaria melhor aplicada dando um sinal de final feliz, enfim ótimo thriller!! NOTA 9 recomendo a todos!!!

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  5. Valmir
    Gostaria de saber qual é nome da musica que toca no final do filme,
    achei muito linda.

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  6. A musica é
    Zaz - Eblouie par la nuit

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  7. concordo tintin po tintin quanto a sua critica... o filme é despretensioso mas cativante... as personagens são abordadas nos seus profundos sentimentos e isso é intrigante... amei como se olham, parece real... amei a música dos dois também... parabens pela sensibilidade dos "golpes"', foram certeiros - ASS. Carolina - Brasil

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  8. Qual o nome da musica que toca no inicio do filme,no tiroteio dentro da casa?Obrigado

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