segunda-feira, 15 de abril de 2013

Oblivion

Realização: Joseph Kosinski
Argumento: Joseph Kosinski
Elenco: Tom Cruise, Morgan Freeman e Olga Kurylenko

O que dizer de um filme de 126 minutos em que 6 são bons, 20 são suportáveis, e 100 são uma grande trapalhada? A vontade é dizer mal, claro. Mas, por alguma razão, há qualquer coisa em Oblivion que me dá vontade de o elogiar ou, pelo menos, de suavizar a sua crítica.

A verdade é que Oblivion passa 126 minutos a tropeçar em si próprio. É um filme demasiado grande, demasiado complexo e com pouca vontade de corrigir ou explicar as suas inverossimilhanças e os seus tiros no pé. O realizador e argumentista Joseph Kosinski decidiu investir em efeitos especiais o que poupou em trabalho de guião - ou foi demasiado ambicioso ao acreditar que conseguia realizar e escrever uma mega-produção destas sozinho. Seja qual for a razão, pecou. E pecou porque Oblivion tinha tudo para ser um filme na onda de Solaris (calma.. o remake..), Moon ou Sunshine, mas acabou mais como um Total Recall (calma.. o remake..) glorificado. O ponto mais realista do filme, creio, assenta na hipótese de que, num futuro próximo, um exército de Tom Cruises invade a terra e destrói tudo o que conhecemos - ora, tendo em conta o passado demente do actor, está é uma hipótese credível, que todos devíamos ponderar com medo e cuidado.

A realização é pouco ambiciosa, parece contentar-se com o mainstream. O argumento tem falhas óbvias, os diálogos são tão fracos que fazem os três actores passarem por maus quando claramente não o são. Quem ficou bem na imagem foi a produção, o design de produção, etc.. Mas isso seria o de esperar. Mas então, porque é que me apetece desculpar o filme? Porque Oblivion é como aquelas pessoas que nos habituam à futilidade e ao falhanço a vida toda mas que, em um ou outro momento, parece-nos ver nos seus olhos algo mais - um brilho que sugere que, por baixo da capa de aparente desinteresse, vive algo mais. Porque uns olhos que olham assim escondem inteligência, mesmo que tímida ou aprisionada. Neste filme, houve um momento desses. Cruise e Kurylenko estão numa cabana, rodeados de verde, longe da fria tecnologia que assombra o resto do filme, e ela põe a tocar um vinil de Procol Harum - o êxito Whiter Shade of Pale. E, enquanto toca a música, começa a relembrá-lo de quem ele é e de quem foram, juntos, há muitos anos atrás. Isto é uma cena que me fez sorrir, e surpreendentemente, após mais de uma hora de anestesia sentimental, me fez sentir alguma coisa.

Mas não é só esta a razão que me faz perdoar um filme medíocre. A verdade é que a mensagem que Kosinski tenta passar é bonita, e é legítima. Oblivion não é sobre guerras espaciais, opressão governamental, recursos esgotados ou exércitos de Tom Cruises loucos assassinos (medo!) - na realidade, Oblivion é sobre o que faz de nós humanos, e o que faz de nós... nós. Oblivion diz, com todas as palavras, que a nossa alma é a nossa memória e que, mesmo que nos clonassem, se os nossos clones tivessem as nossas memórias, eram tão nós como nós próprios. Antes de perceber esta mensagem, tinha praticamente desistido do filme, mas houve qualquer coisa nela que me fez sorrir e pensar no diálogo entre Cruise e Kurylenko na cena de Procol Harum. Ela diz-lhe que ele lhe prometeu viverem uma vida longe de tudo e todos, morrerem no esquecimento do mundo, mas com as memórias um do outro. Se confrontarmos esta noção com o resto do filme, que defende uma morte heróica, citando passagens de Horácio e sacrificando-se pelo bem da humanidade, chegamos como que a um paradoxo. Para mim, ganha a noção de que a memória nos faz quem somos e que, quando a morte chegar, iremos bem sabendo que os Deuses nos esqueceram, mas na esperança que alguns humanos ainda se lembrem de nós.


Golpes Altos: Cena de Procol Harum. Produção. Mensagem do filme. Olga Kurylenko.

Golpes Baixos: Falta de ambição. Má escrita de argumento. Maus diálogos. Morgan Freeman (já chega, reforma-te). Exército de Tom Cruises assassínos. Olga Kurylenko não se despe nem tem sexo. 

6 comentários:

  1. "Olga Kurylenko não se despe nem tem sexo."

    looooooool

    Eu por acaso até achei piada ao filme. A ideia não é propriamente original, mas acho que foi bem escondida de nós até ao momento final. Eu pelo menos, não suspeitei (e detesto filmes em que consigo ver o fim ainda vai o filme a meio).

    O Morgan Freeman está ali a mais, não porque eu não goste dele (porque gosto), mas porque teve tão pouco tempo de ecrã que mais valia terem posto lá um ator mais barato para fazer aquele papel.

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  2. Epah eu não odiei o filme, mas acho-o péssimo. lol Porque por um lado tem algumas mensagens engraçadas, por outro já começo a ficar farto destes blockbusters sempre iguais. Parece que já ninguém se preocupa em fazer cinema decente...

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  3. Ao tal de buddy:

    E que tal levantar esse vil traseiro do sofá e ir ver cinema a sério onde ele deve ser visto - no cinema?

    Para clarificar, por cinema a sério refiro-me à obra prima remasterizada que está a ser exibida no Corte Inglés para suma fortuna de uns happy few (os que estão interessados em vê-la, claro está).

    E se me vieres com merdas, armado em preto do Harlem que diz "I'm not getting my large ass moved because of that shit, brother", desisto de ti e deste blogue para toda a eternidade.

    Ah, e se essa obra-prima, que resiste como muita poucas ao teste do tempo, não merecer, no teu superior juízo de cinéfilo com provas dadas, um Golpe Alto, arriscas-te a acabar como o pimp protagonizado pelo Harvey Keitel.

    MASTER ÓSCAR PILANTRA (um Travis Bickle nas horas vagas)

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    1. Master Óscar "tipo" Pilantra,

      Começo por, prontamente, desde já, dar início ao começo da minha resposta que será - como se pode adivinhar por este auspicioso primeiro parágrafo - simples e concisa.

      1 - Ameaças não serão toleradas. A minha pessoa não negoceia com terroristas.

      2 - Quanto à tal remastirizicitação da obra supra-citada, faço minhas as palavras de um conhecido filósofo renascentista: "Vou, mas vou contrariado" (Raúl Solnado).

      3 - O Harvey Keitel, podemos todos concordar, viu nessa película o auge do seu estilo. Tivesse eu cabelo suficiente, e certamente seguiria os seus passos.

      4 - Obrigado pelos elogios escondidos entrelinhas.

      5 - Tão e essa merda fica para quando?

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  4. Eu já fui ver, mas só me canso desta maravilhosa obra-prima à milésima octingentésima trigésima sexta visualização. Como ainda só vou na milésima octingentésima vigésima segunda, podemos ir 6.ª-Feira, sessão da meia-noite.

    E podemos de facto concordar com a sumidade estilosa que é o Harvey Keitel nessa película.

    Quanto a putativas ameaças, só digo isto:

    All the animals come out at night.
    Whores, skunk-pussies, buggers, queens, fairies, dopers, junkies.
    Sick, venal.
    Someday, a real rain will come and wash all this scum off the streets.

    E, em primeiríssima mão, antecipo que esta será a próxima citação do também insgine filósofo renascentista Jorge Jesus.

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    1. Isso cheira-me a bandidagem com máscara de análise psiquiátrica! (grande quote!!!)

      Por mim sexta-feira está mais que combinado! Mas o outro pilantrão tem o exame no sábado, secalhar íamos quando ele estivesse livre!

      Eu antecipo que a próxima citação do Jasus será algo na linha de "Estou faliz proque o Saporting é o meu clube do córação, mas 'tou infaliz proque o Benfica já não é campéão"

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