terça-feira, 25 de junho de 2013

Golpes Indie - Garden State

Realização: Zach Braff
Argumento: Zach Braff
Elenco: Zach Braff, Natalie Portman, Peter Sarsgaard e Ian Holm


'You gotta hear this one song. It'll change your life, I swear' - E mudou mesmo. A música, o sorriso de Natalie Portman, o filme - mudaram a minha vida. Garden State teve em mim um impacto que ainda hoje se faz sentir quando oiço uma música, quando alguém me sorri e pisca o olho, quando a minha incapacidade de me ligar com o mundo me lembra Andrew Largeman e as suas dores de crescimento que rapidamente percebi serem as minhas.

Estamos perante uma obra icónica do cinema independente americano. Zach Braff, o rapaz enfezadinho da série Scrubs, produziu, realizou, escreveu e protagonizou um filme que, se não mudou uma geração, mudou os seus mais sensiveis representantes. Agora, ao rever o filme, considero-o menos bom. Fico consciente de algumas falhas, algumas imperfeições mas, ao mesmo tempo, não me consigo desligar das sensações que me causou nas primeiras 50 vezes que o vi. O truque, creio eu, está na forma verdadeira e profunda com que o filme é escrito, a escolha revolucionária da sua banda-sonora, um elenco de três actores verdadeiramente especiais, que vestiram a pele destes personagens porque fizeram parte deles.

Para mim, Garden State foi o regresso do filho pródigo antes de eu o ser. Fez-me uma antevisão daquilo que se viria a tornar a minha vida se eu não tomasse certas decisões. Eu conheço a vida de um rapaz suburbano, conheço o amigo que fuma ganzas e colecciona trading-cards que um dia vai vender e ficar milionário, conheço o amigo que realmente ficou milionário mas nunca conseguiu mudar a vida. Conheço o pai absorto em si mesmo, conheço aquelas festas, aquelas drogas, aquela gente. Mas, sobretudo, conheço a rapariga terna e estranha que nos vira a vida ao contrário e nos põe as prioridades em ordem - nos faz sentir, pela primeira e última vez, que estamos acompanhados e que o mundo é um lugar menos frio com ela ao nosso lado.

A verdade é que, ainda hoje, se me visse confrontado com a obrigação de ver apenas um filme todos os dias até morrer, Garden State seria uma escolha fácil. Já o vi e revi tantas vezes que faz parte da minha vida e, por vezes, tenho dificuldade em separar o filme da realidade. Ainda imagino uma conversa à lareira em que uma rapariga descalça faz sapateado e eu lhe abro o meu coração. Passaram 10 anos desde que vi o filme pela primeira vez e, se fui um rapaz melhor por causa dele, continuo hoje a procurar conforto na ideia de ser proprietário do meu próprio fenómeno geológico, seguro do meu próprio destino - 'guardian of the infinite abyss'.

7 comentários:

  1. Eu adoro este filme, porque retrata tão bem o que é sentirmo-nos desligados, mesmo quando rodeados de pessoas, daquilo que é a matéria que muda a nossa vida, que nos retira algum do cinismo que utilizamos para mascarar a realidade.
    E sempre que preciso de mudança, ou eu mesma de mudar, meto a Let Go a tocar.

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  2. É isto que eu mais gosto no cinema: a capacidade de nos fazer identificar com um filme, uma história, umas personagens, como se tivesse sido feito para nós, para nos mostrar que há quem nos perceba e que não estamos sozinhos no mundo, mesmo que ninguém à nossa volta pareça conseguir compreender o que se passa na nossa cabeça; a capacidade de uns poucos filmes especiais se tornarem como amigos para nós, que vão envelhecendo connosco e nós aprendendo com eles, retirando novos detalhes a cada visualização, à medida que que as nossas vivências pessoais nos vão treinando os sentidos para o que antes nos passava ao lado.

    Dito isto, o Garden State não é um dos meus amigos. Nunca vi nele, nem no Zach Braff, o que toda a gente vê; talvez por ser daqueles filmes que tentam demasiado ser indie e cool, o que me deixa sempre de pé atrás, ou talvez porque não me identifico com a banda sonora 'hip', ou talvez porque só o vi pela primeira vez há poucos anos, quando os meus amigos que mais mo recomendaram o viram entre a adolescência e os 'late teens'... Não sei porquê, e também não interessa nada. Sei que o filme a que me poderia estar a referir no princípio do meu comentário, o filme que veria todos os dias até morrer, não significará tanto para outras pessoas. And that's ok! :)

    Para terminar, buddy: tenho a dizer que nunca escreves tão bem como quando um filme te fala ao coração. Admiro a tua capacidade de falar não só sobre o filme, mas sobre a tua experiência dele, e é por isso que gosto mais de ler os posts deste blog que as reviews de um qualquer crítico de cinema.

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  3. Fico feliz por isso. Mesmo! Porque para crítico de cinema não tenho conhecimento suficiente, limito-me ao que retiro dos filmes e ao que eles retiram de mim :) Obrigado!

    Rosinha, a Let Go ainda me causa arrepios na espinha!

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    Respostas
    1. "Drink up baby, doll
      hmm are you in or are you out"

      <3 a música é perfeita para aquele final.

      Por oposição, o filme, também com o Braff, The Last kiss, não tem nada a ver com este, embora queira dar o mesmo "estilo de filme", aproveitando o hype que houve com o Garden state.
      Os diálogos são maus, o argumento não prende, a banda sonora não é nada por aí além...não chega a ser um feel good movie sequer.

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    2. É sem dúvida muito mais fraco, e concordo que veio ao reboque deste, mas não o acho assim tão mau... Para mim é isso que é, um feel good movie. Gosto de alguns personagens e gosto da relação deles.

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