domingo, 16 de junho de 2013

Before Midnight

Realização: Richard Linklater
Argumento: Richard Linklater, Ethan Hawke e Julie Delpy
Elenco: Ethan Hawke e Julie Delpy

As dores de crescimento são reais, não tenho dúvidas. Não é fácil envelhecer, não é fácil perder o doce romantismo da juventude e trocá-lo pelo amargo cinismo da rotina. Mas, eventualmente, todos temos que lidar com isso. Podemos ser mais ou menos saudosistas, lidar melhor ou pior com o amor mas o certo é que vamos lá parar. O cinema, segundo Richard Linklater, não é muito diferente. Também envelhece, também se torna mais frio, mais pragmático, mais cínico.

Before Midnight é a conclusão perfeita para uma trilogia que reinventou o amor no cinema. Anos antes de Sofia Coppola o ter feito com Lost in Translation, ou P T Anderson com Punch Drunk Love, Linklater juntou Ethan Hawke e Julie Delpy e mostrou ao mundo como se escreve uma relação. Before Sunrise foi um filme mais romântico, mais imaturo, mais sonhador. Before Sunset encontrou os dois amantes com os pés mais assentes na terra mas, ainda assim, deixou-nos com a sensação de que, no fim, o amor vence. Passaram 20 anos desde que Jesse e Celine se conheceram. Estão casados, têm filhas, têm amigos, têm jantares, têm problemas.

Percebi, por algumas críticas, que o filme não foi bem recebido. Chamaram-lhe chato, desinteressante, forçado. Não podia estar menos de acordo. Para mim é o melhor dos três e Linklater provou - se já não tinha provado antes - que está ao lado de David Mamet e Woody Allen entre os grandes argumentistas de sempre. Porque é muito mais difícil escrever-se um argumento deste género sem o abandono romântico de uma madrugada em Viena, ou de uma tarde em Paris. Desta vez, os diálogos são acerca de problemas reais, de pessoas reais. Quem estiver bem educado na complicada arte do relacionamento, vai encontrar nos diálogos entre Jesse e Celine um constante déja-vu da sua própria vida amorosa.

Em cima disto, Before Midnight consegue a proeza de nos deixar presos ao ecrã, num filme que não deve ter mais de sete cenas. E a realização de Linklater não nos distrai, mas acompanha os diálogos de uma forma tão íntima que passamos o filme a acreditar que estamos à mesa com aquela gente, que estamos no quarto com aquele casal - a intimidade é nossa, do espectador. E desengane-se quem acha que vai encontrar um filme pessimista, que destrói ou ignora o romantismo dos seus predecessores. Quando se conheceram, em Viena, Jesse declama um poema de W H Auden a Celine - 'Oh let not time deceive you, You cannot conquer time' - agora, vinte anos depois, uma senhora fala-lhes da efemeridade da vida, do amor que se levanta como o nascer do sol e se desvanece como o seu pôr. Quanto a mim, Jesse e Celine sobreviveram ao tempo e o seu sol contínua alto - mesmo depois da meia-noite.


Golpes Altos: Escrita de argumento do melhor que se faz actualmente - não sei até que ponto o contributo de Hawke e Delpy foi fulcral para o sucesso do guião, por isso prefiro deixar o mérito em Linklater. Os dois actores estão melhores do que quando começaram. A realização é perto de brilhante.

Golpes Baixos: Julie Delpy não envelheceu bem (fisicamente falando), e eu dispensava ser obrigado a olhar para as suas maminhas descaídas a sobreporem-se à sua barriga voluptuosa durante 15 minutos. Em contrapartida podiam ter mostrado mais a rapariga de bikini. 

5 comentários:

  1. Eu gostei do filme, como dizes, acabamos por nos rever no tipo de diálogos, na cumplicidade, mas também nas questões-chave para quem tem uma relação longa.
    O Ethan também está bastante decadente. É homem, bem sei, mas aquela cara parece que ficou a dever uns anos à coca. A Julie,n se fosse de outra forma, não retrataria a questão da nossa própria percepção de uma mulher normal tão bem. Não poderia ser uma Penélope Cruz, ou não compreenderíamos a dimensão de ela própria se questionar se continua atraente para ele, se continua a suscitar o desejo de sempre.

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    1. Sim e a cena ajudou à tal intimidade entre o espectador e o casal. Só me queixei mesmo porque nunca a achei atraente e agora então acho-a repulsiva lol O Ethan 'tá com "man bubbies".

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  2. Master Renascido a partir da oficina de trabalho de buddy:

    Eu tb achei este filme excepcional, e até concordo que é o mais difícil dos três: romantismo sim, mas devagar... como diria Álvaro de Campos, é uma cortesia da ternura dos 40.

    Não sei se é o meu preferido ou o melhor dos três - também por motivos pessoais gostarei sempre muito do primeiro (por vezes a vida imita mesmo a arte...)

    No entanto aconselho este filme sem reservas, incluindo as mamas da Julie: vintage style!

    ;)

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  3. Ontem acabei de ver o filme e vim finalmente ver o que tinhas escrito sobre ele. Foi um alívio ver que o adoraste porque caso contrário tinha mesmo que te matar.

    Penso que o maior desafio até apareceu no 2º... tinha TUDO para correr mal... era dificílimo manter a qualidade do 1º, era dificílimo "inventar" o reencontro, era dificílimo resolver o "eles têm de acabar juntos mas... COMO????". E ele conseguiu-o de forma magistral.

    Assim sendo, acho que este não era de todo o mais difícil mas acho que é capaz de ser o melhor.

    No entanto, parece-me óbvio que alguém com 18 anos goste mais do 1º :)

    A ideia passa por ver os filmes na altura certa, eu consegui fazê-lo e a triologia passou facilmente para o Olimpo. Fantástico.

    E estes diálogos meu?? Estes gajos têm mesmo de continuar a escrever, é tudo tão bom...

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    1. Sim meu esta merda tem dos melhores diálogos que já vi na minha vida! É incrível! Também acompanhei a evolução dos três filmes, ainda que sempre uns aninhos atrás de ti oh cota! :)

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