Realização: Ritesh Batra
Argumento: Ritesh Batra
Elenco: Irrfan Khan, Nimrat Kaur,
Nawazuddin Siddiqui, Shruti Bapna, Bharati
Achrekar
Índia dos nossos dias. Mumbai e a sua dicotomia perturbante entre o
tradicionalismo ancestral e o desconcerto da modernidade.
Saajan é um contabilista de meia-idade, que vai fechando detalhes numa repartição
estatal onde trabalha há décadas, dias antes da reforma antecipada. Viúvo e
solitário, vive um dia de cada vez. Um após o outro. Todos iguais entre si. Meticuloso,
eficiente e respeitado pelos pares, mas sisudo, pouco sociável, amargurado.
Noutra parte da cidade Ila é uma dona de casa de 30 e poucos anos, com
mãos abençoadas para a cozinha, e que tenta recuperar o seu casamento reconquistando
o marido “pelo estômago”, preparando-lhe diariamente almoços carregados de aroma
e carinho. Guiada pela tia que mora no andar de cima e que actua como uma espécie de conselheira gastronómica e sentimental.
Certo dia, e devido a um raríssimo extravio no complexo sistema de
entrega de dabbas, a lancheira
de Ila vai parar às mãos (e à boca) de Saajan. Este, estupefacto, prova. Adora.
E devolve a lancheira vazia.
A partir daqui começa uma troca
de confidências entre ambos, através de cartas que remetem pela lancheira
diariamente. Dá-se um descobrimento mútuo. Melhor, um renascimento: o de Saajan,
apoiado no que vai sentindo por Ila e pela lufada de ar fresco que o seu substituto
e formando Shaikh lhe traz – um pateta tagarela de bom coração e pouca cabeça; e
o de Ila, convencida que tem de tomar outro caminho e afastar-se dum marido que
a ignora e trai.
Dabba, a primeira longa-metragem de Ritesh Batra, é um filme
simples e terno sobre segundas oportunidades. Sobre o não nos resignarmos à
sorte, aos caprichos do destino. Sobre sabermos (ou finalmente conseguirmos)
enfrentar os nossos desgostos, as nossas perdas, as nossas derrotas.
Khan e a bela Kaur estão muito bem,
Siddiqui é delicioso de princípio a fim e a voz da Nanny fica-nos na cabeça bem depois de sairmos da sala. E o
desfecho, despido de todos os clichés, é perfeito.
Golpes Altos: A simpatia e a beleza da história. A simplicidade da realização, que permite que tudo flua
naturalmente, sem tiques. O desfecho.
Golpes Baixos: Nada de relevante.
Poderia pedir-se mais ambição, mais arrojo. Mas para quê, quando não era essa a
intenção do realizador?