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quarta-feira, 14 de maio de 2014

Dabba – A Lancheira



Realização: Ritesh Batra
Argumento: Ritesh Batra
Elenco: Irrfan Khan, Nimrat Kaur, Nawazuddin Siddiqui, Shruti Bapna, Bharati Achrekar

Índia dos nossos dias. Mumbai e a sua dicotomia perturbante entre o tradicionalismo ancestral e o desconcerto da modernidade.

Saajan é um contabilista de meia-idade, que vai fechando detalhes numa repartição estatal onde trabalha há décadas, dias antes da reforma antecipada. Viúvo e solitário, vive um dia de cada vez. Um após o outro. Todos iguais entre si. Meticuloso, eficiente e respeitado pelos pares, mas sisudo, pouco sociável, amargurado.

Noutra parte da cidade Ila é uma dona de casa de 30 e poucos anos, com mãos abençoadas para a cozinha, e que tenta recuperar o seu casamento reconquistando o marido “pelo estômago”, preparando-lhe diariamente almoços carregados de aroma e carinho. Guiada pela tia que mora no andar de cima e que actua como uma espécie de conselheira gastronómica e sentimental.
Certo dia, e devido a um raríssimo extravio no complexo sistema de entrega de dabbas, a lancheira de Ila vai parar às mãos (e à boca) de Saajan. Este, estupefacto, prova. Adora. E devolve a lancheira vazia.

A partir daqui começa uma troca de confidências entre ambos, através de cartas que remetem pela lancheira diariamente. Dá-se um descobrimento mútuo. Melhor, um renascimento: o de Saajan, apoiado no que vai sentindo por Ila e pela lufada de ar fresco que o seu substituto e formando Shaikh lhe traz – um pateta tagarela de bom coração e pouca cabeça; e o de Ila, convencida que tem de tomar outro caminho e afastar-se dum marido que a ignora e trai.

Dabba, a primeira longa-metragem de Ritesh Batra, é um filme simples e terno sobre segundas oportunidades. Sobre o não nos resignarmos à sorte, aos caprichos do destino. Sobre sabermos (ou finalmente conseguirmos) enfrentar os nossos desgostos, as nossas perdas, as nossas derrotas.
Khan e a bela Kaur estão muito bem, Siddiqui é delicioso de princípio a fim e a voz da Nanny fica-nos na cabeça bem depois de sairmos da sala. E o desfecho, despido de todos os clichés, é perfeito.

Golpes Altos: A simpatia e a beleza da história. A simplicidade da realização, que permite que tudo flua naturalmente, sem tiques. O desfecho.

Golpes Baixos: Nada de relevante. Poderia pedir-se mais ambição, mais arrojo. Mas para quê, quando não era essa a intenção do realizador?