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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Dans La Maison

Realização: François Ozon
Argumento: Juan Mayorga (peça) e François Ozon
Elenco: Fabrice Luchini, Ernst Umhauer e Kristin Scott Thomas

O espectador é um voyeur, mas isso não é novo. Já havia sido explorado por Hitchcock na sua Rear Window. A peça de cinema pode ser utilizada como uma experiência, na qual o próprio cenário é palco de si mesmo - mas isto também não é novo, já tinha sido explorado por Kaufman em Synecdoche, New York. Então afinal, qual é o contributo do novo filme de François Ozon? É que o voyeur aqui não é só o personagem, somos nós, e o próprio cenário, a maison, serve como uma metáfora de si mesmo. Confuso? Calma.

Em Dans La Maison, assistimos a uma estranha interacção entre professor e aluno. A coisa começa bem, não há dúvida, mas acaba por desiludir. O aluno começa por jogar um estranho jogo com o professor, no qual lhe vai entregando capítulos de um romance que envolve a família de um outro colega. O aluno começa a envolver-se na família desse colega, entra dentro da vida dessa família. Existe tensão sexual. Mas entre quem? O pai? O filho? A mãe? Todos? O cenário está montado para um thriller psicológico que promete não chocar, não assustar, mas fazer pensar. Não estamos preparado para ver sangue, assassinatos ou violações mas, por algum motivo, não conseguimos descolar os olhos do ecrã. A dada altura, não fazemos ideia se será o professor a ensinar o aluno - enquanto lhe vai oferecendo Salinger, Orwell, Nabokov e outros voyeurs da literatura - se é o aluno que ensina o professor com a sua própria história ou, finalmente, se o ensinamento é mútuo, e a cumplicidade dos dois funciona para o bem da obra de arte.

Confesso que o filme me deixou colado ao ecrã. Adorei tudo: os personagens, a história, as referências, os diálogos, os actores. O filme tinha sentido de humor, tinha suspense, tinha profundidade, tinha parábolas e muito mais do que parecia á primeira vista. Mas, depois, falhou. Falhou porque Ozon deixou-se envolver pela sua própria criação, perdeu-se no labirinto que criou e o bom gosto e refinamento da primeira parte do filme ficaram para trás. No final, ficam apenas os jogos e a sua conclusão - e o filme prometia mais. O filme não começa como um simples thriller mas, infelizmente, acaba como um. No entanto, vale a pena ser visto. Não deixa por isso de ser um bom filme, mas acaba por não ser um grande. É pena porque, por instantes, achei que estava a assistir a um reinventar do cinema. Adoro que a arte brinque consigo própria, nos envolva no enredo como uma espécie de espectador participante. Faz-me lembrar os livros de capa verde em que jogávamos os dados para decidir onde ia parar a história - 'Derrotou o monstro verde? Salte para a página 32'. Mas a verdade é que um filme não pode ser só isso, tem que ter mais nata. E a nata de Dans la Maison ficou pelo caminho.


Golpes Altos: Grande primeira parte de filme. Argumento original (não no sentido literal, sendo que foi adaptado de uma peça, mas vocês percebem...) e bem explorado. Boas interpretações. Sentido de húmor muito bem vindo neste formato.

Golpes Baixos: A conclusão, a segunda metade do filme, a fina linha entre o thriller de autor e... o thriller?