Mostrar mensagens com a etiqueta Rachel McAdams. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Rachel McAdams. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Passion

Realização: Brian De Palma
Argumento: Brian De Palma
Elenco: Rachel McAdams e Noomi Rapace


Por vezes, é difícil distinguir méritos na concepção de um filme. Onde acaba o trabalho de um realizador e começa o de um cinematógrafo? Será que os actores são mesmo bons ou é a direcção que os safa? O argumento é espectacular ou parece melhor pela forma como o realizador o conduz? Bem, como resposta a todas estas perguntas, chega-nos o mais recente filme de Brian De Palma. O realizador responsável por Scarface e The Untouchables andava afastado do grande ecrã há mais de cinco anos - agora percebe-se porquê.

Vou ser breve, porque este filme não merece grande análise. O que De Palma fez aqui, foi agarrar em duas actrizes de alto gabarito, uma boa história, uma excelente banda sonora, e fazer um cagalhão de filme que se torna quase insuportável de ver até ao fim. Foi horrível. Houve alturas em que pensei que não ia aguentar mais, que teria de me desculpar neste post pela impossibilidade de criticar uma obra cujo final era para mim desconhecido. Mas consegui. Superei todos os obstáculos colocados por De Palma até para o mais bem aventurado espectador.

A história anda à volta de várias obsessões sexuais entre colegas de trabalho. Chefes que querem comer secretárias que querem comer executivas que querem comer um gajo que anda lá p'ró meio sabe Deus a fazer o quê. A única coisa que parece não acontecer naquele escritório, é trabalho. Os protagonistas estão única e exclusivamente preocupados em serem vendados e colocarem máscaras e beberem champagne. Estou interessado, para onde é que mando currículo? Bom, provavelmente para lado nenhum. O conhecimento que De Palma tem do mundo empresarial é semelhante ao conhecimento que tem da mente humana, das relações ou de como se faz um filme - zero!

E, quando achamos que o filme não pode estar mais mal feito, as actrizes não podem estar pior e a sincronização dos planos com a música sabe a amadorismo de um estudante de cinema da Reboleira, eis que o filme desata numa sucessão de twists e plot points absolutamente ridículos que, vejam bem, até mete uma gémea má no fim. De Palma, não me faças perder mais o meu tempo - principalmente se vais fazer um filme "sexy" com lesbianismo em que não se vê absolutamente NADA! Só por causa disso, vou voltar a ver o Black Swan, para não me esquecer de como se faz um bom filme e uma boa cena de lésbicas.


Golpes Altos: A música de Debussy - Prélude à l'Après-midi d'un faune. E uma cena ou outra em que Rachel McAdams sobrevive á péssima realização de De Palma e nós reparamos que ela é boa actriz.

Golpes Baixos: A realização, a realização, a realização.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

To the Wonder

Realização: Terrence Malick
Argumento: Terrence Malick
Elenco: Ben Affleck, Olga Kurylenko, Rachel McAdams e Javier Bardem


Será que sabemos o que é amar? E se soubermos, será que sabemos amar bem? Temos a consciência de que amar é um risco - que merece a hipótese de falhanço, de frustração? Então é isto, o amor?

As perguntas chegam-nos, pela voz dos personagens, ou pela nossa. Deixamo-nos absorver no absoluto de Malick - somos o artista. A sua experiência torna-se a nossa experiência; os seus receios tornam-se os nossos receios; o que o artista aprendeu, nós aprendemos com ele. To the Wonder é a obra mais autobiográfica de Malick, e isso nunca interessou tão pouco. O que distingue esta linha de cinema das outras, é o que distingue um romance de um poema. A forma estética repete-se, mas o conteúdo atravessa a alma humana de forma livre, despegada.

As imagens que nos são mostradas parecem-nos constantemente familiares, intimas. É maravilhoso como Malick consegue filmar um relvado que nos transporta à nossa infância, ou um Mont St Michel que nunca conhecemos - mas que, no entanto, nos parece familiar. Talvez sejam os sentimentos que correm no ar, permitindo-nos substituir as personagens do filme pelas nossas.

É uma obra-prima rara, feita por uma pessoa rara, para pessoas raras. Tenho pena que assim seja. Entristece-me que a falta de sensibilidade artística se tenha espalhado como um cancro pela nossa sociedade, que adjectivos como "aborrecido", "estético" ou "indefinido" sejam utilizados para descrever uma obra desta magnitude. Mas depois paro, e penso quantas pessoas são capazes de abrir um livro de poesia e sentir o que é suposto sentirem. Poucas. E talvez tenha que ser assim, e filmes como To the Wonder tenham o seu lugar guardado para o percentil mais profundo da humanidade.

Quanto ao tópico, é o amor. O amor em toda a sua complexidade, com todas as suas dúvidas, não a serem respondidas, mas a serem sossegadas, confiando que tudo funcionará para que o universo permaneça harmonizado. As relações dividem-se entre a dúvida de um amor romântico e a dúvida de um amor espiritual. Tal como questionamos a origem, a força do nosso amor por alguém, da mesma forma questionamos a força do nosso amor por algo intangível - algo superior. No fim, amor é amor e amaremos, quer queiramos quer não.


Golpes Altos: A técnica do stream of consciousness atinge aqui um nível acima do mostrado em Tree of Life. Malick está a refinar, e isso só pode ser bom sinal. Todo o filme é bonito, cada imagem, cada frase. Fica para quem o sente, não para quem o tenta perceber.

Golpes Baixos: Vou citar as últimas frases escritas do falecido crítico de cinema Roger Ebert:
"There will be many who find "To the Wonder" elusive and too effervescent. They'll be dissatisfied by a film that would rather evoke than supply. I understand that, and I think Terrence Malick does, too. But here he has attempted to reach more deeply than that: to reach beneath the surface, and find the soul in need."