Realização: Ridley Scott
Argumento: Dan O’Bannon e Ronald Shusett
Elenco: Sigourney Weaver, Tom Skerritt,
Veronica Cartwright, Harry Dean Stanton, John Hurt, Ian Holm, Yaphet Kotto
Quando dei a conhecer-me aos “ouvintes”
referi que uma das poucas coisas que não suporto ver em cinema são filmes de terror
gratuito. Por gratuito entenda-se plástico, sem estrutura, desenraizado. As “actividades
paranormais” da vida. Ou seja, películas sem ponta por onde se pegue.
Talvez por isso tenha optado por
começar por um filme de terror. Uma obra-prima do terror/sci-fi. Alien é a premissa acabada do medo no
seu estado mais primitivo: o espaço (o Espaço) claustrofóbico, isolado e inescapável;
a escuridão e o silêncio permanentes; o medo perturbador do que não vemos, não
conhecemos e não compreendemos; a sensação de estar perante uma figuração
acabada do Mal. Da máquina perfeita de matar.
O Xenomorfo, a criatura saída do
imaginário de Dan O’Bannon e Ronald Shusett e concebida pela mente oculta e
macabra do artista surrealista suíço H. R. Giger, ganhou ao longo dos anos, e
com as inúmeras sequelas e variações, uma história por trás de si próprio,
tornando-se um símbolo duma certa cultura pop.
Viríamos a saber nos filmes
seguintes que havia mais formas nas sociedades xenomorfas além dos Guerreiros e
que tudo se regia por um sistema de castas semelhante ao de formigas ou
abelhas, onde todos trabalhavam para alimentar e proteger a Rainha. Mas isso foi só mais para a frente.
Em 1979 foi tudo novo. E impactante. Um relativamente desconhecido Ridley Scott, após ter impressionado
com The Duellists, o seu filme de
estreia, é convidado pelos argumentistas e o próprio Giger a realizar uma obra vanguardista
com um enredo simples: num futuro longínquo a nave espacial comercial Nostromo,
no regresso a casa, recebe transmissões dum planeta menor que decide
investigar. Alguns tripulantes descem até ao local, fazem uma vistoria e
descobrem uma outra nave espacial despenhada com um corpo alienígena morto no
interior, assim como uma vasta câmara de ovos gigantes; Kane, um dos oficiais, decide
investigá-los e uma criatura (facehugger)
solta-se dum deles e agarra-se à sua cara. É recolhido pelos colegas e levado
de volta à Nostromo e a partir daqui fez-se luz.
Daí em diante assistimos a mais
de uma hora de suspense aterrador protagonizado por uma criatura que nunca
vemos completamente, sendo que aí reside muito do brilhantismo de Alien: há 35 anos atrás era impossível
criar um ser alienígena com a perfeição desejada, misto de beleza e ferocidade
letal, pelo que para não notar-se o fato mal-amanhado usado por um jovem
nigeriano de quase 2,20m de altura, Scott optou pelo melhor caminho: nunca
mostrar completamente o xenomorfo, menos ainda exibi-lo.
Desde o portentoso momento da
eclosão do chestbuster – uma espécie
de parto violento que, juntamente com a “violação oral” do facehugger e a forma como as vítimas são mortas nos remete para um
imaginário altamente sexual ao que a criatura está associada – os corpos vão
perecendo um a um até ao encontro final com Ripley. E nem nessa derradeira cena
– com uma Sigourney Weaver completamente desconhecida, em roupa interior, a
lançar-se para o estrelato – a besta se mostra por completo. A imagem está
sempre escura, densa, os movimentos da criatura são relativamente
indecifráveis. A tensão é cortante. Sempre.
E nesses minutos finais eclode uma
relação que perduraria na memória do cinema. De terror e não só.
Golpes Altos: O medo. A apreensão sufocante.
A paranóia perante uma morte invisível, incompreensível. Em 1979.
Golpes Baixos: Ter sido tão
incrível que deu origem a dezenas de sequelas ou adaptações mas nenhuma sequer se aproximou.