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sábado, 7 de fevereiro de 2015

Testa-a-Testa – Birdman


Realização: Alejandro González Iñárritu
Argumento: Alejandro González Iñárritu
Elenco: Michael Keaton, Zach Galifianakis, Edward Norton, Andrea Riseborough, Amy Ryan, Emma Stone, Naomi Watts

Como já não fazemos um testa-a-testa há muito tempo e eu e o B. não tivemos a mesma opinião sobre a nova e badalada película de Iñárritu, eis uma boa oportunidade para voltarmos ao formato. (No fundo até tivemos parecida… penso que ambos gostámos do filme, eu mais que tu, e ambos entendemos que faltou um pouco de consistência na história e de “arrepio”… densidade vá…)

Contudo, e para não tornar o texto demasiado extenso e mastigado, optámos por destacar somente aquilo que interpretamos como pontos-chave do filme, sejam positivos ou negativos.

Assim, os meus comentários primeiro e dos B. em itálico:

- Birdman não tem uma mensagem concreta, não é um objecto definido, por assim dizer. Uma das características que mais irrita em determinados filmes é tentarem ser várias coisas em simultâneo e acabarem por ser nenhuma, apenas uma amálgama de situações e intenções, sem que saibamos aonde o realizador quer chegar.
Sátira de costumes? Drama existencial? Rábula sobre sociedade de consumo vs cultura “elitista”? Crítica cínica mas surrealista sobre o showbiz? Sinceramente não sei. É uma mistura pouco palpável.
O Duarte dizia noutro dia que era uma espécie de Black Swan versão solar, e entendo a comparação, mas o filme de Aronofsky tinha uma identidade vincada. A deste não consegui descortinar.
(Acho que o filme até se foca de forma clara em 2 temas. Um principal: a decadência da fase mais negra do pós-estrelato. Um paralelo ou secundário: o showbiz e as suas variações…
Penso que não se perde em nenhum dos assuntos…onde pode confundir é no nº de ferramentas que usa para falar sobre os temas… Ou seja, para descrever a queda de uma estrela, vai ao fundo da questão com as relações com a ex-mulher e com a filha, com o drama existencial que o persegue diariamente entre a rotina do sucesso e o mais que provável insucesso, etc., etc…
No 2º tema temos novamente muitas ferramentas… o ator “metódico” vs o hollywoodesco, a crítica e a barbaridade que por vezes representa, o sucesso instantâneo por causa de um vídeo na internet descabido…
Ou seja, penso que os 2 temas são claros e obviamente se cruzam (não podes falar da queda de uma estrela sem mencionar todo o mundo do showbiz), mas acabam por usar tantas ferramentas, que por vezes podem-se até confundir com mais e mais temáticas, quando no fundo nem são.
O Aronofsky é um Deus existencial e que em todos os filmes dele retratou a obsessão… Daí ter falado dele no Whiplash… Aqui faz menos sentido porque é uma sátira com cenas de teor cómico, mas o Iñárritu correu o risco de sair da sua alcofa habitual e tomara muitos terem-se dado tão bem como ele… perfeito nunca poderia ser…)

- Falta alma nas cenas essenciais do filme. Naquelas definidoras, como a destruição do quarto ou o atrofio no topo do prédio com o alter-ego. Carece de carga dramática, daquela força telúrica que faz com que recordemos essas mesmas cenas como as mais brilhantes do filme. Não sei se o que quis fazer foi simplesmente isso, ser propositadamente desalmado. Lá está, nunca tenho grandes certezas com as intenções de Iñárritu neste trabalho e isso não é bom. Mas sei que me soube a pouco.
(Aqui concordamos em absoluto… A cena mais poderosa do filme é quando ele acorda com a cara no lixo e começa a andar na rua com o Birdman… cena essa onde acaba por descolar e sobrevoar a cidade… Essa cena TINHA de ser chave, TINHA de arrepiar e passar-nos um poderoso momento de cinema, daqueles que levantava de facto os nossos pêlos todos… Mas não o conseguiu… nem aí nem nas tais cenas do quarto… e qual a culpa disto tudo? Até é fácil de entender, uma espécie de auto-castração que menciono no parágrafo seguinte.)

- Apesar de tecnicamente ter momentos muito bons, com long take shots preciosos e alguns diálogos excelentes (adoro os de Mike e Sam no terraço!), há um constante pretensiosismo do mexicano com a câmara, sempre a saltitar e com close-ups sufocantes, num género de “Olhem o que sei fazer, como sou incrível!”. Também não me agradou. Algum histerismo de realizador.
(Fazer um filme assim, é de uma dificuldade abrupta… só gajos como ele, estrondosos tecnicamente o conseguiriam… não posso criticar em termos técnicos uma coisa soberba, é como achar ridículo um jogador vir da defesa até à baliza contrária a fazer cuecas a TODOS os adversários e meter golo… porque porra… é do caraças!!
Quanto aos close-ups sufocantes para mim são perfeitos…mais até com a doentia conjugação de planos de sequência longuíssimos… o filme é suposto ser totalmente claustrofóbico… desde os corredores apertados, à tensão constante de estar tudo a partir e a quebrar a qualquer momento… ao facto de 80% do filme ser em interior, não é suposto teres tempo para respirar e este tipo de plano é para isso mesmo… para te deixar desconfortável e quase quereres sair dali… penso que se alguém consegue fazer isto apenas com técnica, não pode nunca ser criticado, é de mestre e de quem sabe o que está a fazer… podes não gostar? Ok… mas não se pode criticar o realizador por ter conseguido esse efeito.
Quanto aos planos de sequência… sim, são mesmo difíceis de fazer… sim, são mesmo difíceis de coreografar e de sair tudo bem à primeira, sim, são doentios para repetir… No entanto, aqui ele exagerou… muito! A ideia tecnicamente pode ser genial, mas NUNCA pode meter em causa o filme ou a emoção/sensação que ele possa querer transmitir…e mete… Voltando ao ponto anterior, é graças a esta obsessão que as tais cenas mencionadas não arrepiam, não nos encostam à cadeira, não nos deixam demolidos… O jeito que davam uns cortes valentes no plano na cena com o Birdman na rua… o jeito que davam uns cortes valentes na cena em que ele parte o quarto todo… tenho a certeza que o problema esteve aqui… porque a coreografia das cenas é boa, as representações também, mas isto falha…e falha redondamente…aqui ele colocou a técnica e a brincadeira dos planos acima do filme, e isso é um erro adolescente de quem sai da universidade, ao qual um Iñárritu não se pode dar ao luxo…).

- Além disso a banda sonora tirou-me do sério! A bateria de Antonio Sánchez é brutalmente manipuladora, como há muito tempo não sentia num filme – mais do que a do recente Interstellar, tão criticada há uns meses por essa mesma manipulação. Não discuto o virtuosismo do músico, que existe, mas é de tal forma obsessiva que a dada altura estava a causar-me incómodo. Incómodo real. Ainda para mais, e recuando ao ponto anterior, tendo em conta a falta de punch emocional que se sente necessário, aquela banda sonora pareceu-me algo deslocada, antitética.
(Aqui repito o que disse acima nos planos fechados… é perfeita. Esta banda sonora leva o tal desconforto claustrofóbico que ele pretende criar, para um nível estratosférico. Penso que a equipa só pode estar de Parabéns por o ter conseguido… os índices de aperto e de sufoco são inimagináveis… achei todo este tema da claustrofobia incrível).

- Dito isto, não odiei o filme, simplesmente saí da sala desiludido. Esperava algo brilhante – podia inclusive tê-lo sido – e não passou dum filme engraçado e meio louco. No entanto há que referir que o elenco está todo ele a grande nível (óptimos Keaton e Norton!) e com uma excelente direcção de actores.
(Eu esperava o filme do ano… e não foi… por aí também saí desiludido. Esperava daqueles filmes que ia ficar realmente marcado, mas não fiquei… acabei por sentir isso num Boyhood que esperava, ou num Whiplash que não esperava… Mas é um dos grandes filmes do ano, mas sem a consistência que podia ter. Toda a direção de atores é irrepreensível…)

- Ah, e não me desagradou nada ver a Naomi Watts e a Andrea Riseborough numa espécie de “explosão conjunta de carinho e afecto”! Bem Alejandro, bem.
(Só estranho como é que um Mexicano não se estica mais em cenas dessas… Em terra de Salma Hayek… não se esperava menos…)

Vá, já “esprememos umas quantas laranjas”, agora digam de vossa justiça!:)

Golpes Altos: O elenco e a direcção de actores. Alguns diálogos. O tecnicismo da realização em determinados momentos.
(Interpretações, sufoco transmitido e qualidade técnica.)

Golpes Baixos: Acima de tudo a falta de definição do objecto. É uma obra que a meu ver peca por não ser concreta, que tenta ser muitas coisas em simultâneo e faz com que nos percamos. Iñárritu engasgou-se na sua ambição desmedida.
(Planos de sequência a roubar dramatismo a cenas-chave. Falta de densidade.)