Realização: Terrence Malick
Argumento: Terrence Malick
Elenco: Ben Affleck, Olga Kurylenko, Rachel McAdams e Javier Bardem
Será que sabemos o que é amar? E se soubermos, será que sabemos amar bem? Temos a consciência de que amar é um risco - que merece a hipótese de falhanço, de frustração? Então é isto, o amor?
As perguntas chegam-nos, pela voz dos personagens, ou pela nossa. Deixamo-nos absorver no absoluto de Malick - somos o artista. A sua experiência torna-se a nossa experiência; os seus receios tornam-se os nossos receios; o que o artista aprendeu, nós aprendemos com ele. To the Wonder é a obra mais autobiográfica de Malick, e isso nunca interessou tão pouco. O que distingue esta linha de cinema das outras, é o que distingue um romance de um poema. A forma estética repete-se, mas o conteúdo atravessa a alma humana de forma livre, despegada.
As imagens que nos são mostradas parecem-nos constantemente familiares, intimas. É maravilhoso como Malick consegue filmar um relvado que nos transporta à nossa infância, ou um Mont St Michel que nunca conhecemos - mas que, no entanto, nos parece familiar. Talvez sejam os sentimentos que correm no ar, permitindo-nos substituir as personagens do filme pelas nossas.
É uma obra-prima rara, feita por uma pessoa rara, para pessoas raras. Tenho pena que assim seja. Entristece-me que a falta de sensibilidade artística se tenha espalhado como um cancro pela nossa sociedade, que adjectivos como "aborrecido", "estético" ou "indefinido" sejam utilizados para descrever uma obra desta magnitude. Mas depois paro, e penso quantas pessoas são capazes de abrir um livro de poesia e sentir o que é suposto sentirem. Poucas. E talvez tenha que ser assim, e filmes como To the Wonder tenham o seu lugar guardado para o percentil mais profundo da humanidade.
Quanto ao tópico, é o amor. O amor em toda a sua complexidade, com todas as suas dúvidas, não a serem respondidas, mas a serem sossegadas, confiando que tudo funcionará para que o universo permaneça harmonizado. As relações dividem-se entre a dúvida de um amor romântico e a dúvida de um amor espiritual. Tal como questionamos a origem, a força do nosso amor por alguém, da mesma forma questionamos a força do nosso amor por algo intangível - algo superior. No fim, amor é amor e amaremos, quer queiramos quer não.
Golpes Altos: A técnica do stream of consciousness atinge aqui um nível acima do mostrado em Tree of Life. Malick está a refinar, e isso só pode ser bom sinal. Todo o filme é bonito, cada imagem, cada frase. Fica para quem o sente, não para quem o tenta perceber.
Golpes Baixos: Vou citar as últimas frases escritas do falecido crítico de cinema Roger Ebert:
"There will be many who find "To the Wonder" elusive and too effervescent. They'll be dissatisfied by a film that would rather evoke than supply. I understand that, and I think Terrence Malick does, too. But here he has attempted to reach more deeply than that: to reach beneath the surface, and find the soul in need."
Argumento: Terrence Malick
Elenco: Ben Affleck, Olga Kurylenko, Rachel McAdams e Javier Bardem
Será que sabemos o que é amar? E se soubermos, será que sabemos amar bem? Temos a consciência de que amar é um risco - que merece a hipótese de falhanço, de frustração? Então é isto, o amor?
As perguntas chegam-nos, pela voz dos personagens, ou pela nossa. Deixamo-nos absorver no absoluto de Malick - somos o artista. A sua experiência torna-se a nossa experiência; os seus receios tornam-se os nossos receios; o que o artista aprendeu, nós aprendemos com ele. To the Wonder é a obra mais autobiográfica de Malick, e isso nunca interessou tão pouco. O que distingue esta linha de cinema das outras, é o que distingue um romance de um poema. A forma estética repete-se, mas o conteúdo atravessa a alma humana de forma livre, despegada.
As imagens que nos são mostradas parecem-nos constantemente familiares, intimas. É maravilhoso como Malick consegue filmar um relvado que nos transporta à nossa infância, ou um Mont St Michel que nunca conhecemos - mas que, no entanto, nos parece familiar. Talvez sejam os sentimentos que correm no ar, permitindo-nos substituir as personagens do filme pelas nossas.
É uma obra-prima rara, feita por uma pessoa rara, para pessoas raras. Tenho pena que assim seja. Entristece-me que a falta de sensibilidade artística se tenha espalhado como um cancro pela nossa sociedade, que adjectivos como "aborrecido", "estético" ou "indefinido" sejam utilizados para descrever uma obra desta magnitude. Mas depois paro, e penso quantas pessoas são capazes de abrir um livro de poesia e sentir o que é suposto sentirem. Poucas. E talvez tenha que ser assim, e filmes como To the Wonder tenham o seu lugar guardado para o percentil mais profundo da humanidade.
Quanto ao tópico, é o amor. O amor em toda a sua complexidade, com todas as suas dúvidas, não a serem respondidas, mas a serem sossegadas, confiando que tudo funcionará para que o universo permaneça harmonizado. As relações dividem-se entre a dúvida de um amor romântico e a dúvida de um amor espiritual. Tal como questionamos a origem, a força do nosso amor por alguém, da mesma forma questionamos a força do nosso amor por algo intangível - algo superior. No fim, amor é amor e amaremos, quer queiramos quer não.
Golpes Altos: A técnica do stream of consciousness atinge aqui um nível acima do mostrado em Tree of Life. Malick está a refinar, e isso só pode ser bom sinal. Todo o filme é bonito, cada imagem, cada frase. Fica para quem o sente, não para quem o tenta perceber.
Golpes Baixos: Vou citar as últimas frases escritas do falecido crítico de cinema Roger Ebert:
"There will be many who find "To the Wonder" elusive and too effervescent. They'll be dissatisfied by a film that would rather evoke than supply. I understand that, and I think Terrence Malick does, too. But here he has attempted to reach more deeply than that: to reach beneath the surface, and find the soul in need."
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ResponderEliminarNunca ninguém dominou em absoluto o tema do Amor como o Malick. Neste filme parece que ele nos dá uma lição do que é amar e nos questiona "é isto que todas as pessoas ambicionam ter na vida?".
ResponderEliminarO amor não é o que se vê no The Notebook, é o que se vê aqui. O amor é mesmo cruel e nós nunca deixamos de ser animais ligados à nossa natureza e à natureza que nos rodeia, para o bem e para o mal...
Acho até que este filme retrata os vários tipos de amor mostrando que todos eles passam pelo espectro todo a que o amor nos obriga... do 10 ao -10 sem piedade.
Sendo o filme sobre amor, eu amei este filme e o que escreves no fim pode servir de guia para todos os que estejam com receio de o ir ver:
"Fica para quem o sente, não para quem o tenta perceber.".
PS: Eu não desisto das pessoas que acham este filme aborrecido, acho mesmo possível que de alguma forma, através da experiência da vida, elas venham a perceber que isto também é cinema e é do mais intenso que podem ver.
do 10 ao -10 sem piedade mesmo. já existem tantos cineastas obcecados com a morte (kaufman, woody allen), fazia falta um que fosse obcecado com a vida :)
EliminarAinda não vi mas tenciono ver hoje ou amanhã, nem que vá sozinha por o pessoal não gostar dele ou achar "aborrecido". Mas deixo desde já a dica para veres o "The Thin Red Line" dele...espectacular...
ResponderEliminarDele já vi todos. E sim, o Thin Red Line é provavelmente o segundo melhor dele (sendo o 1º o Tree of Life). Este filme vê-se melhor sozinho, não te preocupes :)
EliminarBem, vi finalmente o filme. Gostei bastante do filme e acho que nos leva a pensar no que realmente significa o amor, se é isso que procuramos desesperadamente ao longo da nossa vida e se isso compensa todos os desgostos que também chegam com ele. Amar é sofrer e é isso que este filme nos faz, faz-nos sorrir com a simplicidade dos momentos e sentimos uma certa amargura em algum dos momentos. Creio que qualquer pessoa que assista a esta obra, consegue identificar-se com algum dos momentos/tipos de amores descritos.
EliminarAdoro todas as metáforas da natureza que Malick encontra para expressar os sentimentos mais profundos. É sempre uma lufada de ar fresco ver seu toque especial nos filmes.
No entanto, concordo contigo "Tree of Life" é melhor mas, tenho de dizer que ainda sim, coloco em primeiro lugar o "The Thin Red Line", mexe mesmo comigo esse filme.
Infelizmente, nem toda a gente.. Mas fico feliz por teres gostado! E consigo perceber perfeitamente esse sentimento com o "The Thin Red Line". É complicado pôr filmes destes por ordem. Tudo o que o homem fez foi genial. Saca o "Days of Heaven", vais gostar :)
EliminarPorra, tu deves ser louco. A árvore da vida é o melhor filme dele?? ahahaahahah screen savers e documentário Nat geo wild? ahaahhahahhahhahh
ResponderEliminarPerdoa-lhe Senhor, ela não sabe o que diz...
EliminarAinda não vi, com medo do Ben como actor, principalmente num Mallick. Mas com o Mallick acredito em tudo, até num bom Ben (credo, acho que acabei de escrever na mesma frase duas coisas completamente opostas, é o que dá o choque do Ben num Mallick)
ResponderEliminarNuno Rechena