Argumento: Charlie Kaufman
Elenco: Philip Seymour Hoffman, Samantha Morton, Catherine Keener, Diane West e Michelle Williams
Nova Iorque é o palco para a sinédoque de Charlie Kaufman - argumentista de Adaptation, Being John Malkovich e Eternal Sunshine of the Spotless Mind. E uma sinédoque, lembram-se do que é? É uma figura de estilo, na qual se exprime um todo por uma parte. E é precisamente assim que o filme funciona. A parte é Nova Iorque e o personagem principal, o todo somos nós e o mundo.
Seymour Hoffman é um encenador neurótico a quem é atribuída uma bolsa milionária para produzir uma nova peça - a quem é dada uma oportunidade para escrever a sua obra-prima. E é aqui que entra a sinédoque. Porque a peça mistura-se com filme, que se mistura com a vida, que se mistura com a peça. De repente, temos personagens a fazer de personagens a fazer de personagens e todas percebem onde estão e o papel que é suposto desempenharem - mas será que isso chega?
Na vida, escolhemos o tipo de pessoa que queremos ser, a vida que queremos levar e definimos papeis para as pessoas que amamos, para as pessoas que nos são importantes. Rotulamo-las, tornando-as personagens secundárias de um filme que, em último caso, é sempre sobre nós. Este filme imita a vida. A personagem de Seymour Hoffman atribui papeis às pessoas que ama, como nós fazemos ao longo do tempo. Passa 20 anos a guiar as pessoas da sua vida numa peça que não tem público - que ninguém está a ver. Esta é deprimente conclusão deste filme. Todos nós vivemos na esperança que alguém repare no que fazemos, mesmo quando estamos sozinhos. Os papeis que damos aos outros nem sempre são interpretados da forma correcta, e depois desiludimo-nos. Desiludimo-nos porque não amamos os outros, amamos os papeis que lhes damos e portanto amamos projecções de nós próprios. Parem-me se estiver a ficar confuso. A confusão pode vir a meio do filme, e um segundo visionamento é recomendável. Mas tudo começa a fazer sentido quando o encenador percebe que o truque para fazer a sua grande peça é simples - dar a todas as personagens um papel principal. Então onde está o erro? O erro está em ser ele a atribuí-lo.
Em Synecdoche, New York, Charlie Kaufman encaminha-nos por uma mega peça de teatro, em que o palco é Nova Iorque, em que todos têm um papel mas um papel desenhado por ele. E o resultado é uma cidade vazia, uma peça sem público, uma vida de desilusões e sonhos perdidos e, no centro de tudo isto: nós, sozinhos, velhos e conscientes de que a vida que construímos é falsa - uma peça de teatro egoísta, feita só para nós. Porque o público não aparece, os actores secundários têm uma peça só deles e os figurantes, os transeuntes, esses... somos nós?
Peço desculpa se o texto está demasiado confuso, mas o filme assim o exige.
Isto faz-me lembrar um outro filme, de que, para variar, não me lembro do nome, mas em que todos os personagens eram principais e o filme girava à volta das suas pequenas vidas onde nada de realmente realçante acontecia.
ResponderEliminarHmm... não estou a ver que filme possa ser... mas sim, o princípio é o mesmo. Mas devias ver este, vais gostar.
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