Realização: Martin Scorsese
Argumento: Paul Schrader
Elenco: Robert De Niro, Cybill Sheperd, Jodie Foster e Harvey Keitel
'The streets are extended gutters and the gutters are full of blood and when the drains finally scab over, all the vermin will drown.' - Reconhecem esta frase? Podia ser de Taxi Driver, mas não é. Pertence a um personagem criado 10 anos depois pelo cartoonista Alan Moore.
Moore, como muitos outros escritores e realizadores dos últimos 30 anos, encontrou na personagem de Bickle inspiração para o anti-herói perfeito. O psicopata solitário, o underdog, o socialmente inadaptado, o herói acidental - Travis Bickle é todos, e não é nenhum. Porque aquilo que Bickle é e aquilo em que Bickle se torna são duas coisas diferentes. No fim, fica a velha questão - será que os fins justificam os meios? E, no caso de Bickle, que fins são esses? 'Clean up the streets', diz ele. Mas porquê?
Taxi Driver é o 4º filme de Martin Scorsese, o 3º a contar de Mean Streets (ignorando o facto do début cinematográfico de Scorsese se chamar Boxcar Bertha). É também o segundo trabalho do realizador com Robert De Niro, no que seria uma gloriosa carreira a dois. Mas esta não é a única dupla que se tornou consagrada neste filme, e certamente não a mais importante. O argumentista, Paul Schrader, voltaria a juntar-se a Scorsese e De Niro para o apogeu máximo dos três artistas - Raging Bull.
Se nos desligarmos por momentos da personagem de Travis Bickle - e da maneira como monopoliza a atenção do espectador - podemos apreciar esta maravilhosa peça de cinema pela forma única como apresenta Nova Iorque. Pela cinematografia de Michael Chapman que transforma a cidade, o táxi, os esgotos e todos os seus habitantes num cenário nocturno e errante, que nos faz dar graças a Deus pelos meios onde vivemos. As luzes neon, os fumos que saem dos passeios e ocultam as putas, os drogados e os assassinos, desviando-nos a atenção da perigosidade do próprio Bickle. Quanto a este, vem de uma longa linhagem de loners e inadaptados - desde Holden Caufield a Raskólnikov - que culpam a sociedade pelo seu ostracismo, acabando por ser tornar um produto dela.
Assim, Bickle caminha pelas ruas, julgando a cidade à sua volta de olhar obsessivo, julgando-se capaz de salvar uma prostituta mas ameaçando matar um inocente. A moralidade de Bickle é a moralidade de um psicopata, e recuso qualquer teoria que venha tentar provar o contrário. Temos um filtro que utilizamos para ver o mundo. Podemos escolher o ângulo da nossa reportagem, podemos escolher o que filmar e o que deixar de fora. Bickle via a podridão dos esgotos de Nova Iorque porque estava ele próprio podre. Mas a questão final fica sempre - bom, mau ou vilão? Seja qual for, a imagem que fica de Travis Bickle é a de um homem em frente ao espelho - 'Are you talkin' to me?' - e a sua própria triste conclusão - 'You must be, 'cause I'm the only one here...'.
Argumento: Paul Schrader
Elenco: Robert De Niro, Cybill Sheperd, Jodie Foster e Harvey Keitel
'The streets are extended gutters and the gutters are full of blood and when the drains finally scab over, all the vermin will drown.' - Reconhecem esta frase? Podia ser de Taxi Driver, mas não é. Pertence a um personagem criado 10 anos depois pelo cartoonista Alan Moore.
Moore, como muitos outros escritores e realizadores dos últimos 30 anos, encontrou na personagem de Bickle inspiração para o anti-herói perfeito. O psicopata solitário, o underdog, o socialmente inadaptado, o herói acidental - Travis Bickle é todos, e não é nenhum. Porque aquilo que Bickle é e aquilo em que Bickle se torna são duas coisas diferentes. No fim, fica a velha questão - será que os fins justificam os meios? E, no caso de Bickle, que fins são esses? 'Clean up the streets', diz ele. Mas porquê?
Taxi Driver é o 4º filme de Martin Scorsese, o 3º a contar de Mean Streets (ignorando o facto do début cinematográfico de Scorsese se chamar Boxcar Bertha). É também o segundo trabalho do realizador com Robert De Niro, no que seria uma gloriosa carreira a dois. Mas esta não é a única dupla que se tornou consagrada neste filme, e certamente não a mais importante. O argumentista, Paul Schrader, voltaria a juntar-se a Scorsese e De Niro para o apogeu máximo dos três artistas - Raging Bull.
Se nos desligarmos por momentos da personagem de Travis Bickle - e da maneira como monopoliza a atenção do espectador - podemos apreciar esta maravilhosa peça de cinema pela forma única como apresenta Nova Iorque. Pela cinematografia de Michael Chapman que transforma a cidade, o táxi, os esgotos e todos os seus habitantes num cenário nocturno e errante, que nos faz dar graças a Deus pelos meios onde vivemos. As luzes neon, os fumos que saem dos passeios e ocultam as putas, os drogados e os assassinos, desviando-nos a atenção da perigosidade do próprio Bickle. Quanto a este, vem de uma longa linhagem de loners e inadaptados - desde Holden Caufield a Raskólnikov - que culpam a sociedade pelo seu ostracismo, acabando por ser tornar um produto dela.
Assim, Bickle caminha pelas ruas, julgando a cidade à sua volta de olhar obsessivo, julgando-se capaz de salvar uma prostituta mas ameaçando matar um inocente. A moralidade de Bickle é a moralidade de um psicopata, e recuso qualquer teoria que venha tentar provar o contrário. Temos um filtro que utilizamos para ver o mundo. Podemos escolher o ângulo da nossa reportagem, podemos escolher o que filmar e o que deixar de fora. Bickle via a podridão dos esgotos de Nova Iorque porque estava ele próprio podre. Mas a questão final fica sempre - bom, mau ou vilão? Seja qual for, a imagem que fica de Travis Bickle é a de um homem em frente ao espelho - 'Are you talkin' to me?' - e a sua própria triste conclusão - 'You must be, 'cause I'm the only one here...'.
Fiquei a saber que o filme foi exibido novamente em versão digital... Tanta pena que não tenha chegado a Aveiro!
ResponderEliminarÉ daqueles filmes que sabe sempre bem rever. :)
É verdade... e eu também não aproveitei essa oportunidade por preguiça :/ Quando for assim tens que dar um saltinho ao Porto (sempre é mais perto).
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