Realização: Jean-Luc Godard
Argumento: Jean-Luc Godard
Elenco: Anna Karina, Sady Rebbot e André S. Labarthe
Uma mulher deixa o seu marido e filho bebé. A mesma mulher começa a prostituir-se - a viver a sua vida. Nana (Anna Karina) não é boa nem má, inteligente nem estúpida - sentiu-se presa e libertou-se. Teve dúvidas acerca da forma como vivia a sua própria vida. Se calhar não a sentia como sua, se calhar sentia-se controlada ou se calhar estava simplesmente aborrecida. Não sabemos. O espectador acompanha esta fase da vida de Nana como um voyeur a quem só é permitido espreitar. A câmara de filmar são os nossos olhos, tentando constantemente, por entre conversas, desviando o olhar de cenas que não desejam ver, sentindo-se incomodados quando Nana nos fixa de volta, como se nos tivesse apanhado no acto. E os olhos dela são os segundos olhos mais penetrantes do cinema. Os primeiros pertencem a Maria Falconetti, a Joana d'Arc de Dreyer que Nana curiosamente (ou não) observa no cinema - ambas de lágrimas nos olhos, ambas vítimas do julgamento dos homens.
O filme é dividido em 12 episódios, nos quais acompanhamos Nana na descoberta de si própria e do que significa viver a sua vida. O mais curioso desses episódios ocorre quando Nana conhece um homem, no café, que lhe conta uma história e lhe transmite algumas lições de vida. A minha dúvida será sempre a mesma - estará o homem a falar com ela, ou comigo? Porque esta é a única cena no filme em que nos é permitido reflectir acerca do interior de Nana, acerca do interior de nós mesmos. Ela abandona tudo para recuperar o controlo sobre a sua vida, mas acaba por o delegar a terceiros, morrendo vítima da sua própria independência.
Parecem-me agora séculos desde que alguém me mostrou a cena de Nana com o homem do café. Essa mesma pessoa insistia numa velha fábula acerca de uma lagarta a quem é posta uma questão 'Como é possível andar sem ter pernas?' - e, desse dia em diante, a lagarta deixa de conseguir andar. O homem do café conta a Nana uma história semelhante na qual Porthos, o Mosqueteiro não-pensante, ao colocar uma bomba e preparando-se para fugir, se questiona acerca da sua capacidade motora e, imobilizado pela ideia, acaba por morrer. É uma coisa terrível, o pensamento. Sem ele, não haveriam palavras. Sem palavras, não haveriam mentiras, não haveriam erros. Sem pensamento, seríamos verdadeiros, simples e felizes. Mas não somos. 'E o amor?' - pergunta Nana. O homem explica que o amor só é possível depois dos 30, quando começamos a perder dúvidas, quando amadurecemos. Talvez... Até lá, vivemos a nossa vida, corremos os nossos riscos, fazemos as nossas escolhas, perdemos as nossas oportunidades. 'Ao menos no fim', dirão os mais inocentes, 'só nos podemos culpar a nós mesmos'.
Argumento: Jean-Luc Godard
Elenco: Anna Karina, Sady Rebbot e André S. Labarthe
Uma mulher deixa o seu marido e filho bebé. A mesma mulher começa a prostituir-se - a viver a sua vida. Nana (Anna Karina) não é boa nem má, inteligente nem estúpida - sentiu-se presa e libertou-se. Teve dúvidas acerca da forma como vivia a sua própria vida. Se calhar não a sentia como sua, se calhar sentia-se controlada ou se calhar estava simplesmente aborrecida. Não sabemos. O espectador acompanha esta fase da vida de Nana como um voyeur a quem só é permitido espreitar. A câmara de filmar são os nossos olhos, tentando constantemente, por entre conversas, desviando o olhar de cenas que não desejam ver, sentindo-se incomodados quando Nana nos fixa de volta, como se nos tivesse apanhado no acto. E os olhos dela são os segundos olhos mais penetrantes do cinema. Os primeiros pertencem a Maria Falconetti, a Joana d'Arc de Dreyer que Nana curiosamente (ou não) observa no cinema - ambas de lágrimas nos olhos, ambas vítimas do julgamento dos homens.
O filme é dividido em 12 episódios, nos quais acompanhamos Nana na descoberta de si própria e do que significa viver a sua vida. O mais curioso desses episódios ocorre quando Nana conhece um homem, no café, que lhe conta uma história e lhe transmite algumas lições de vida. A minha dúvida será sempre a mesma - estará o homem a falar com ela, ou comigo? Porque esta é a única cena no filme em que nos é permitido reflectir acerca do interior de Nana, acerca do interior de nós mesmos. Ela abandona tudo para recuperar o controlo sobre a sua vida, mas acaba por o delegar a terceiros, morrendo vítima da sua própria independência.
Parecem-me agora séculos desde que alguém me mostrou a cena de Nana com o homem do café. Essa mesma pessoa insistia numa velha fábula acerca de uma lagarta a quem é posta uma questão 'Como é possível andar sem ter pernas?' - e, desse dia em diante, a lagarta deixa de conseguir andar. O homem do café conta a Nana uma história semelhante na qual Porthos, o Mosqueteiro não-pensante, ao colocar uma bomba e preparando-se para fugir, se questiona acerca da sua capacidade motora e, imobilizado pela ideia, acaba por morrer. É uma coisa terrível, o pensamento. Sem ele, não haveriam palavras. Sem palavras, não haveriam mentiras, não haveriam erros. Sem pensamento, seríamos verdadeiros, simples e felizes. Mas não somos. 'E o amor?' - pergunta Nana. O homem explica que o amor só é possível depois dos 30, quando começamos a perder dúvidas, quando amadurecemos. Talvez... Até lá, vivemos a nossa vida, corremos os nossos riscos, fazemos as nossas escolhas, perdemos as nossas oportunidades. 'Ao menos no fim', dirão os mais inocentes, 'só nos podemos culpar a nós mesmos'.
Ninguém comentou isto, é bué intelectual :p
ResponderEliminarLOL ya, cagaram-me mm na tola!
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