Realização: Barbara Albert
Argumento: Barbara Albert
Elenco: Anna Fischer, Hanns Schuschnig, August
Zirner, Itay Tiran, Daniela Sea, Winfried Glatzeder
Neste último fim-de-semana, entre
27 e 30 de Março, decorreu no Cinema São Jorge a segunda edição da Judaica –
Mostra de Cinema e Cultura. Espaço reservado à difusão cinematográfica de
origem judaica, durante 4 dias foram exibidos filmes e documentários, na sua
maioria em estreia absoluta cá.
O evento contou com a participação
de escritores, pensadores, políticos e até sacerdotes, e cada película teve ou
uma apresentação específica ou um debate posterior. A completar a iniciativa
houve ainda degustações gastronómicas (vinhos, chocolates, produtos Kosher),
propostas de leitura e até uma pequena feira do livro com várias obras de
autores judeus.
Enquadrado neste certame fui no
Sábado ao final do dia ver Die Lebenden –
Os Mortos e os Vivos, um filme sobre Sita, uma jovem criada em Viena mas
com raízes romenas, mais concretamente na minoria germânica da Transilvânia.
Estudante de Audiovisuais a residir em Berlim, Sita viaja até Viena para
celebrar o 95º aniversário do avô paterno.
Rapidamente se percebe que, apesar
de em tempos ter sido uma figura altiva e de respeito, o ancião Gerhard Weiss é
uma referência afectiva e humana para Sita, o que ainda aumenta mais o choque
desta quando descobre, casualmente, que o avô havia pertencido às SS durante a
2ª Guerra Mundial.
A partir daí assistimos ao
desenrolar da trama, que se centra numa investigação por conta própria da jovem
que a levará de Viena a Varsóvia – a dada altura descobre que o avô havia sido
tenente-coronel colocado em Auschwitz entre 43 e 45, que a avó o tinha acompanhado
e que inclusivamente o pai havia nascido lá, algo sempre negado pelo progenitor
–, terminando numa reconciliação com a família e um simbólico “acto de tréguas”
com a mesma ao visitar a campa dos bisavós numa pequena e agreste aldeia da Transilvânia.
Posto isto, se o filme tem uma
boa premissa e até uma boa estória por trás? Tem. Em traços gerais é uma
película sobre a moral, a ética, a culpa e a negação da mesma. O viver (ou
conseguir viver) depois de ter pertencido activamente a algo horrível e atroz
ou o seguir em frente após desvendar um segredo indesejado. E uma ligação de
sangue que se coloca em causa. E é também sobre a Velha e a Nova Europa, sobre
o que o Holocausto, o domínio do regime soviético, a queda do Muro de Berlim ou
a evolução da UE incidem ainda hoje sobre nós, as nossas raízes, donde vimos e
para onde vamos.
Mas por outro lado, se é um bom
filme? Nem por isso. Lento, previsível, com tantas cenas e personagens “metidas
a martelo” e fora do contexto: Jocquin, o namoradinho fotógrafo judaico, a
amiga Silver que não se percebe donde vem e que motivações tem, acompanhada da
grupeta meio cigana que protesta não se percebe bem porquê nem contra quê, ou a
mãe que aparece ao início e depois se torna uma não-personagem. Mesmo a relação
com o pai é deficientemente explorada, sendo a própria personagem algo ambígua,
sem fio condutor.
Fica-nos a relação que desenvolve
com Michael, um primo afastado mais velho que em tempos escreveu um livro a
condenar os segredos da família Weiss e através de quem Sita realmente descobrirá
algo mais sobre o avô; as cassetes antigas com filmagens do avô a falar sobre o
Holocausto – uma espécie de interrupção para documentário, sem dúvida o melhor
do filme, onde constatamos algo tão terreno quanto a possibilidade do
sentimento de culpa não ser tão óbvio como calculamos; ou os refugiados chechenos
que no início entrevista duma forma algo distante, num trabalho para TV, e que
no fim, após ultrapassar a sua experiência, tenta em vão ajudar.
Bons momentos que ainda assim não
salvam aquilo que podia ter sido um filme bastante superior.
Golpes Altos: A intenção de
contar uma estória que podia ter sido muito boa. As cassetes com filmagens de
Gerhard em reflexão sobre aquele período da sua vida. A culpa não ser sentida
de igual forma por todos.
Golpe Baixo: O facto de a
realizadora não ter conseguido dar asas a essa mesma intenção. A pouca
habilidade no jogo de cenas e interligação de personagens. Jocquin e Silver.
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