segunda-feira, 31 de março de 2014

Die Lebenden – Os Mortos e os Vivos




Realização: Barbara Albert
Argumento: Barbara Albert
Elenco: Anna Fischer, Hanns Schuschnig, August Zirner, Itay Tiran, Daniela Sea, Winfried Glatzeder

Neste último fim-de-semana, entre 27 e 30 de Março, decorreu no Cinema São Jorge a segunda edição da Judaica – Mostra de Cinema e Cultura. Espaço reservado à difusão cinematográfica de origem judaica, durante 4 dias foram exibidos filmes e documentários, na sua maioria em estreia absoluta cá.
O evento contou com a participação de escritores, pensadores, políticos e até sacerdotes, e cada película teve ou uma apresentação específica ou um debate posterior. A completar a iniciativa houve ainda degustações gastronómicas (vinhos, chocolates, produtos Kosher), propostas de leitura e até uma pequena feira do livro com várias obras de autores judeus.

Enquadrado neste certame fui no Sábado ao final do dia ver Die Lebenden – Os Mortos e os Vivos, um filme sobre Sita, uma jovem criada em Viena mas com raízes romenas, mais concretamente na minoria germânica da Transilvânia. Estudante de Audiovisuais a residir em Berlim, Sita viaja até Viena para celebrar o 95º aniversário do avô paterno.
Rapidamente se percebe que, apesar de em tempos ter sido uma figura altiva e de respeito, o ancião Gerhard Weiss é uma referência afectiva e humana para Sita, o que ainda aumenta mais o choque desta quando descobre, casualmente, que o avô havia pertencido às SS durante a 2ª Guerra Mundial.

A partir daí assistimos ao desenrolar da trama, que se centra numa investigação por conta própria da jovem que a levará de Viena a Varsóvia – a dada altura descobre que o avô havia sido tenente-coronel colocado em Auschwitz entre 43 e 45, que a avó o tinha acompanhado e que inclusivamente o pai havia nascido lá, algo sempre negado pelo progenitor –, terminando numa reconciliação com a família e um simbólico “acto de tréguas” com a mesma ao visitar a campa dos bisavós numa pequena e agreste aldeia da Transilvânia.

Posto isto, se o filme tem uma boa premissa e até uma boa estória por trás? Tem. Em traços gerais é uma película sobre a moral, a ética, a culpa e a negação da mesma. O viver (ou conseguir viver) depois de ter pertencido activamente a algo horrível e atroz ou o seguir em frente após desvendar um segredo indesejado. E uma ligação de sangue que se coloca em causa. E é também sobre a Velha e a Nova Europa, sobre o que o Holocausto, o domínio do regime soviético, a queda do Muro de Berlim ou a evolução da UE incidem ainda hoje sobre nós, as nossas raízes, donde vimos e para onde vamos.

Mas por outro lado, se é um bom filme? Nem por isso. Lento, previsível, com tantas cenas e personagens “metidas a martelo” e fora do contexto: Jocquin, o namoradinho fotógrafo judaico, a amiga Silver que não se percebe donde vem e que motivações tem, acompanhada da grupeta meio cigana que protesta não se percebe bem porquê nem contra quê, ou a mãe que aparece ao início e depois se torna uma não-personagem. Mesmo a relação com o pai é deficientemente explorada, sendo a própria personagem algo ambígua, sem fio condutor.
Fica-nos a relação que desenvolve com Michael, um primo afastado mais velho que em tempos escreveu um livro a condenar os segredos da família Weiss e através de quem Sita realmente descobrirá algo mais sobre o avô; as cassetes antigas com filmagens do avô a falar sobre o Holocausto – uma espécie de interrupção para documentário, sem dúvida o melhor do filme, onde constatamos algo tão terreno quanto a possibilidade do sentimento de culpa não ser tão óbvio como calculamos; ou os refugiados chechenos que no início entrevista duma forma algo distante, num trabalho para TV, e que no fim, após ultrapassar a sua experiência, tenta em vão ajudar.
Bons momentos que ainda assim não salvam aquilo que podia ter sido um filme bastante superior.

Golpes Altos: A intenção de contar uma estória que podia ter sido muito boa. As cassetes com filmagens de Gerhard em reflexão sobre aquele período da sua vida. A culpa não ser sentida de igual forma por todos.

Golpe Baixo: O facto de a realizadora não ter conseguido dar asas a essa mesma intenção. A pouca habilidade no jogo de cenas e interligação de personagens. Jocquin e Silver.

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