quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Nightcrawler



Realizador: Dan Gilroy
Argumento: Dan Gilroy
Actores: Jake Gyllenhaal, Rene Russo, Bill Paxton, Riz Ahmed


Sim, já todos vimos "N" críticas aos media, principalmente à Televisão... já foram feitas "N" obras sobre esse assunto. Já tudo foi abordado, desde a manipulação, ao poder de criar figuras públicas vazias, ao conseguir colocar em directo a vida de qualquer vizinho nosso, passando pela obsessão por conteúdo sensacionalista, ligada à obsessão pelas audiências, pela liderança...

Agora peguem nisto tudo, metam-lhe uns pozinhos de perversão e twisted minds, deixem de estar obcecados pela vida na TV, e foquem-se na morte.

Um personagem sinistro, um fura-vidas sem escrúpulos mas com discurso articulado pelo que lê na internet, entra no negócio obscuro da caça à melhor notícia do dia. Todos querem ser a 1ª notícia do telejornal local, todos querem filmar o acontecimento mais sinistro de todos, que trará mais audiências ao canal, e mais dinheiro a quem entrega o conteúdo.

Todo o Filme é pintado com uma sombra sinistra, um personagem que ficará para sempre ligado ao actor, um dos melhores e mais coesos personagens deste género negro, dos últimos anos.

Todo o Filme nos direcciona para a vida doentia do gajo, para a relação ainda mais doentia com a enorme e "out of date" Rene Russo, com a perseguição pelo reconhecimento, pela aceitação do método por mais imoral que seja, pela vitória de ver mais uma das suas coberturas a abrir o telejornal local.
Às tantas sentimo-nos envolvidos em algo que censuramos, que nos deixa desconfortáveis, que nos cria asco quando percebemos que aquilo funciona, que é aquilo que as TV's querem, aquele "a todo o custo" óbvio, aquela invasão de privacidade constante, aquela busca pelo plano mais doentio e mais horrível possível, aquele sorriso assustador que o Gyllenhaal mete no final de cada vitória pessoal... mas queremos perceber do que vai ser ele capaz a seguir, e prevemos o pior...

E acho que é aqui que o Filme falha... no final, na resolução, no desfecho. A tensão criada durante o Filme é mesmo boa, o crescendo de intensidade, de loucura, de obsessão, tudo... e depois... sem querer manda-vos spoilers para cima da mesa, penso que todos esperávamos algo de acordo com a densidade criada até aí... mas não.

Um Filme que funciona hoje e que funcionava há 20 anos...

Gyllenhaal é soberbo, está soberbo e tem aqui o papel da vida dele... Por aí diz-se que é o seu "Taxi Driver", talvez o seja, pelo menos é um "one man show", menos espalhafatoso e penso que muito mais twisted. Grande papel, grande personagem, enorme sorte em ser o escolhido... sinceramente, não via ninguém tão perfeito para o papel.

Rene Russo assume o tal "out of date" mas sempre intensa, sensual e provocadora. Aquele mulherão que já não é o que era, mas que teve muita vida a passar por ela, que se tenta reinventar com a ajuda do personagem mais insaciável que podia encontrar.

A TV hoje em dia já não é o que era, e para pior... este filme "bate" nos media como poucos, esfola e deixa tudo em carne viva para mais tarde recordar.


Golpes Altos: Obscuridade, o personagem principal, os 2 actores e todo o crescendo denso que apanhamos pela frente.

Golpes Baixos: O final e a frieza demasiado irreal da personagem da Rene Russo quando começa a perceber do que o gajo é capaz...

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