Realização: Bennett Miller
Argumento: E. Max Frye, Dan Futterman
Elenco: Steve Carell, Channing Tatum, Mark
Ruffalo, Sienna Miller, Vanessa Redgrave
Bennett Miller, aqui com a sua
terceira longa-metragem (Capote,
Moneyball), todas elas assentes em histórias verídicas, começa lentamente a
despontar como um dos mais competentes retratistas dos contornos cinzentos da
sociedade norte-americana – o novo e percursor vs o old fashion vigente, a classe pobre e aculturada mas trabalhadora e
honrada vs as elites cultas e instruídas mas amorais, a heroicidade do talento
puro vs o vazio do dinheiro enquanto matriz de conquista.
E a cada filme que passa parece
melhorar: Capote, apesar dum
esplendoroso Philip Seymour Hoffman, era um filme mediano, sem grande sumo para
lá da densidade da personagem; e Moneyball,
esse sim um belo filme, acaba por ser simultaneamente mais leve, menos impactante
e, provavelmente de forma injusta, mais facilmente esquecível. Todavia com Foxcatcher, Miller eleva o seu cinema
para uma dimensão de ambiguidade ética e moral e paralelamente de frieza
emocional em que nunca tinha estado.
O ritmo é lento, muito lento, os
próprios diálogos são vagarosos, há planos sequenciais muito longos a
acompanhar a fotografia suja, quase granulada, que nos remete para os crime films das décadas de 70 e 80; juntem
a isso um clima sempre cinzento, sempre chuvoso, em que as raras excepções são
algumas passagens de manhãs outonais na propriedade da família du Pont, com
foco sobre a vida selvagem – os pássaros que John (Carell), orgulhoso
ornitólogo, tanto gosta de observar e estudar e os cavalos milionários da mãe
Jean (Redgrave), símbolos únicos de vida “pura” e sã naquela propriedade –, a
quase integral ausência de banda-sonora e o comportamento obsessivo e
complexado que John vai evidenciando de forma cada vez mais alarmante à medida
que o filme vai avançando, e ficam com uma amálgama tensa e pesada, uma panela
de pressão prestes a explodir a qualquer momento. E o melhor de tudo, o segredo
da narrativa, está no truque de Miller em nunca fazer-nos sentir quando é que
esse pathos ocorrerá. Daí os últimos
15 minutos serem tão cruéis e difíceis de digerir quanto brilhantemente
orquestrados.
Por fim, e porque seria injusto
não o realçar, mais do que um virtuoso com a câmara ou um construtor de
narrativas ímpar (a ambos os pedestais poderá chegar mas precisa de mais
filmografia para isso), é na direcção de actores que Miller se vai mostrando
magistral: se Seymour Hoffman e Brad Pitt, muito bem coadjuvados por Catherine
Keener e Jonah Hill respectivamente, tiveram com Miller papéis de carreira e
nomeações para os Óscares (tal como os secundários referidos), em Foxcatcher somos surpreendidos com três
interpretações poderosas: Ruffalo num papel “físico”, com muitos tiques de
wrestler mas menos denso emocionalmente – é o “talento puro”, feliz com a
carreira e com a vida, a personagem solar do tridente; Tatum como um outrora
campeão que luta contra a encruzilhada em que a vida o colocou, um solitário sem relacionamentos pessoais e ávido dum reconhecimento profissional à altura do do irmão –
o lado lunar; e Carell, com uma rara aparição no drama, assustador enquanto um
bilionário filantropo que por detrás duma suposta paixão pelo wrestling se
revela um indivíduo sombrio, dominado por demónios de inveja, fracasso, repudia
e carente de amor, afirmação e admiração.
Uma daquelas películas que não
revemos tão cedo e que mesmo para vermos temos de estar com a predisposição
correcta, Foxcatcher é um retrato
frio, indigesto e brutalmente triste do dark
side of America. Como
dizia Peter Bradshaw na sua crítica no The Guardian, “It is a gripping film: horrible, scary and desperately sad.”
Golpes Altos: Bennett Miller,
sobretudo pela irrepreensível direcção de actores. A sinergia entre o ritmo
ultra lento da narrativa e o tom melancólico do quadro criado. Os três
protagonistas, encabeçados por Steve Carell.
Golpes Baixos: Como disse acima,
é um filme que dificilmente revemos de tão parado e pesado que é.
Monumento de filme.
ResponderEliminarNão consegui gostar deste filme para além do trabalho dos 3 actores.
ResponderEliminarO ritmo lento e pesado matou-me completamente, a caracterização do Carell também, há momentos em que a expressão e os diálogos dele chegam a ser mesmo sombrios e a roçar o creepy...
Mas muitos parabéns aos actores, estão os 3 fantásticos. E é sempre bom ter um vislumbre da Redgrave de quando a quando. :)
Antes de mais confesso que gostei mesmo do filme, como se depreende do texto (julgo). Mas ainda assim é daqueles casos em que entendo quem não tenha gostado tanto.
EliminarÉ uma película difícil, muito lenta, até massuda. Além de profundamente triste. E o "vilão" é estranho, creepy como dizes, e deixa-nos com sentimentos dúbios - chegamos a ter alguma pena da solidão e da existência vazia dele, mas temos sempre noção de que é doente e em última instância maldoso.
Portanto acabo por entender o teu ponto de vista, embora, e repetindo-me, tenha adorado.
Na na na na na na...
EliminarNão podes não gostar do filme pah! É um filmaço... duro de roer, duro de mastigar, complicado de digerir, ficas na merda e triste e no tapete... MAS É DO CARAÇAS! :)
Hahahaha! É como tu dizes, é um filme complicado de digerir! É depressivo...
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