sábado, 24 de janeiro de 2015

The Imitation Game


Realização: Morten Tyldum
Argumento: Graham Moore
Elenco: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Mark Strong, Charles Dance, Rory Kinnear

Biopics sobre génios da Humanidade, mais ou menos (re)conhecidos, que a determinada altura tiveram um papel importante ou até mesmo decisivo no rumo da História há às carradas em décadas de cinema. O problema hoje em dia prende-se com a capacidade de ser inventivo, original na abordagem e, simultaneamente, manter a qualidade da narrativa, da fidedignidade da trama e do nível das interpretações.

The Imitation Game não cumpre com esses requisitos. Ou melhor, digamos que é uma simples e descafeinada biografia, enaltecimento de Alan Turing, brilhante matemático e cientista inglês, personagem pouco conhecida mas preponderante no desenlace da Segunda Grande Guerra.

Resumindo em poucas linhas, Turing e a sua equipa, contratados secretamente pelos serviços de inteligência britânicos, após meses de trabalho e vicissitudes desenvolveram a chamada Turing machine, preâmbulo dos computadores actuais, que permitiu descodificar a evoluída máquina de encriptação nazi Enigma. Assim, mensagens e movimentações de guerra germânicas foram interceptadas e consequentemente antecipadas e a vitória aliada acabaria por ocorrer mais cedo.

É justo dizê-lo, Cumberbatch, com o seu ar estranho, desconfiado, quase vazio, personifica de forma competente um Turing com vários problemas de sociabilização, tímido e deveras complexado, que esconde a sua homossexualidade e o trauma duma perda passada.
Mas o problema na película do norueguês Morten Tyldum, numa primeira aventura por produções anglo-americanas, é que a parte boa fica praticamente por aí. Há ainda umas tiradas descontraídas e engraçadas – a anedota do urso, a cena do engate de Hugh no bar –, mas nos momentos dramáticos o filme espalha-se ao comprido. Não há alma, não há intensidade, as tensões são tocadas ao de leve, as emoções mal geridas, mal trabalhadas, e o resultado claramente desinteressante.

Mesmo a questão da perseguição aos homossexuais durante décadas, que Turing acabou por sofrer com consequências trágicas, é explorado somente nos últimos 15 minutos e numa cena algo soporífera.
A ajudar, dois pontos negros mais: os flashbacks para a infância são exagerados e algo macabros, com um Turing novinho que parecia saído dum filme de terror; e, ainda mais importante, o restante elenco tem um desempenho entre o fraco e o fraquíssimo, com destaques para Knightley, que por muito que se esforce não é mais do que uma carinha bonita; Strong, que parece que está nos Oceans, de tanto estilo que vai largando; e Dance, que por muito que aprecie, tem uma não-personagem de tão oco que é o seu “lobo mau”. Ah, e isto sem contar com o espião metido a martelo que puseram lá no meio! Momento infeliz.

Golpes Altos: Cumberbatch (este tipo anda lançado!). A exposição da vida de Turing e do seu trabalho.

Golpes Baixos: A "normalidade" e falta de ambição do projecto, da narrativa e da forma que foi contada. A ausência de intensidade, de dramatismo – não há entranhas neste filme. Todas as restantes personagens.

3 comentários:

  1. Concordo em absoluto com a crítica. A interpretação do Cumberbatch é o único ponto forte deste filme que, não sendo mau, é oco, esquecível, vulgar, 'Oscar-bait' até mais não. Não se percebem as nomeações a melhor realizador e melhor actriz secundária.
    O Alan Turing e a sua história mereciam uma biografia cinematográfica muito mais competente.

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  2. Concordo com 3 pontos, a interpretação genial do Cumberbatch, aquele espião metido ali no meio sem grande jeito e a falta de exploração no tema da homossexualidade.
    Mas não concordo que a Keira esteja mal ou que o filme não valha a pena por mais nada que não seja o Cumberbatch.
    No geral gostei bastante, mas também pode ter sido da desilusão que apanhei com o Foxcatcher e ter visto este logo de seguida...

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    1. Pegando nos adjectivos da Hopscotch, acima de tudo o filme pareceu-me vulgar e completamente esquecível. É demasiado leve e desalmado e em momento algum aquelas personagens chegam a nós com a intensidade com que deviam. Pelo menos foi o que senti.
      Quanto à Keira, a expressão é sempre igual. Sempre. Feliz ou triste, desafiante ou submissa, entusiasmada ou deprimida. E seja num filme de 2005 ou numa película de 2015. Guardo dois papéis dela que gostei: a Sabina de A Dangerous Method e a Penny de Seeking a Friend for the End of the World. E simplesmente gostei, nunca admirei.

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