Realização: Michael Mann
Argumento: Morgan Davis Foehl
Elenco: Chris Hemsworth, Wei Tang, Leehom Wang,
Viola Davis, Holt McCallany, Yorick van Wageningen
O novo filme de Michael Mann é um
exercício formal e estilístico, entre o policial clássico e o thriller cibernético,
que nos deixa frios quando saímos da sala mas que vamos gostando cada vez mais
à medida que as horas passam, reflectimos sobre o mesmo e conseguimos “digeri-lo”.
Mann, cineasta de culto do
policial e do crime film nas últimas
duas décadas – Heat, The Insider, Collateral, Miami Vice ou
até o menor Public Enemies – lança-se
aqui numa trama mais abstracta por assim dizer, com um enredo mais difuso, e
que nos leva para o submundo cibernético, a deep
web, o génio dos hackers e todo o
perigo global que daí advém – algo que por exemplo a segunda temporada de House of Cards alude de forma mais superficial.
É uma realidade e também uma
linguagem desconhecida para a maioria de nós e que pode assim acabar por
afastar algum público, há que admitir. Mas o realizador norte-americano parece
preocupar-se pouco com isso, sente-se inclusivamente alguma obsessão pelo tema –
o detalhe técnico na explicação da explosão nuclear ou no golpe da Bolsa de
Chicago ou os telemóveis, computadores e outros gadgets como principal arma de espionagem, decifração e embuste – e
tem como virtude maior o evitar que a trama discorra para um filme de acção
mais ligeiro e pirotécnico, qual Bond de Roger Moore ou Pierce Brosnan.
A ambiguidade com que Mann vai
mantendo o registo, ilustrando um argumento do presente e do futuro, de hi-tech e guerra cibernética, duma forma
meticulosa e cerebral, é preciosa. Ainda por cima filmada com cenários na sua
maioria crepusculares ou nocturnos (Mann é o “maestro da noite cinematográfica”,
ninguém filma como ele nesse registo), o que aumenta ainda mais o carácter frio
e obsessivo da narrativa. E as principais cenas de confronto, tanto no porto com
Kassar e os seus homens como na cerimónia religiosa com Kassar e Sadak, fazem
parte dessa ambiguidade, com os telemóveis, os computadores e a penumbra e “máscara” do
terrorismo tecnológico a serem substituídos por armas de fogo, facas e confronto corpo a
corpo, olhos nos olhos.
É possível que não chegue a todos
os públicos mas Mann arranca aqui um filme sério, inteligente, extremamente
meticuloso e que se vai entendendo e saboreando melhor à medida que vamos
pensando sobre ele.
Golpes Altos: A ambiguidade que
tolda o corpo do filme, como referido acima – a análise e a desconstrução da película são imperativas. Dos planos à luz, tudo na câmara
de Mann.
Golpes Baixos: O pouco consenso
que o tema gera (o que não tem de ser algo necessariamente negativo). Hemsworth
não vai mal mas não creio que tenha sido a escolha ideal.
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