sábado, 28 de fevereiro de 2015

Blackhat


Realização: Michael Mann
Argumento: Morgan Davis Foehl
Elenco: Chris Hemsworth, Wei Tang, Leehom Wang, Viola Davis, Holt McCallany, Yorick van Wageningen

O novo filme de Michael Mann é um exercício formal e estilístico, entre o policial clássico e o thriller cibernético, que nos deixa frios quando saímos da sala mas que vamos gostando cada vez mais à medida que as horas passam, reflectimos sobre o mesmo e conseguimos “digeri-lo”.

Mann, cineasta de culto do policial e do crime film nas últimas duas décadas – Heat, The Insider, Collateral, Miami Vice ou até o menor Public Enemies – lança-se aqui numa trama mais abstracta por assim dizer, com um enredo mais difuso, e que nos leva para o submundo cibernético, a deep web, o génio dos hackers e todo o perigo global que daí advém – algo que por exemplo a segunda temporada de House of Cards alude de forma mais superficial.

É uma realidade e também uma linguagem desconhecida para a maioria de nós e que pode assim acabar por afastar algum público, há que admitir. Mas o realizador norte-americano parece preocupar-se pouco com isso, sente-se inclusivamente alguma obsessão pelo tema – o detalhe técnico na explicação da explosão nuclear ou no golpe da Bolsa de Chicago ou os telemóveis, computadores e outros gadgets como principal arma de espionagem, decifração e embuste – e tem como virtude maior o evitar que a trama discorra para um filme de acção mais ligeiro e pirotécnico, qual Bond de Roger Moore ou Pierce Brosnan.

A ambiguidade com que Mann vai mantendo o registo, ilustrando um argumento do presente e do futuro, de hi-tech e guerra cibernética, duma forma meticulosa e cerebral, é preciosa. Ainda por cima filmada com cenários na sua maioria crepusculares ou nocturnos (Mann é o “maestro da noite cinematográfica”, ninguém filma como ele nesse registo), o que aumenta ainda mais o carácter frio e obsessivo da narrativa. E as principais cenas de confronto, tanto no porto com Kassar e os seus homens como na cerimónia religiosa com Kassar e Sadak, fazem parte dessa ambiguidade, com os telemóveis, os computadores e a penumbra e “máscara” do terrorismo tecnológico a serem substituídos por armas de fogo, facas e confronto corpo a corpo, olhos nos olhos.

É possível que não chegue a todos os públicos mas Mann arranca aqui um filme sério, inteligente, extremamente meticuloso e que se vai entendendo e saboreando melhor à medida que vamos pensando sobre ele.

Golpes Altos: A ambiguidade que tolda o corpo do filme, como referido acima – a análise e a desconstrução da película são imperativas. Dos planos à luz, tudo na câmara de Mann.

Golpes Baixos: O pouco consenso que o tema gera (o que não tem de ser algo necessariamente negativo). Hemsworth não vai mal mas não creio que tenha sido a escolha ideal.

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