quarta-feira, 14 de agosto de 2013

The Lone Ranger

Realização: Gore Verbinski
Argumento: Justin Haythe, Ted Elliott e Terry Rossio
Elenco: Armie Hammer, Johnny Depp, William Fichtner e Tom Wilkinson

Tempos houve em que os grandes ícones do Oeste americano simbolizavam alguma coisa. Tempos houve em que os heróis que pisavam a terra transmitiam valores, lutavam em nome do bem, cavalgavam qual justiceiros alados em busca de justiça! Pronto... excedi-me um pouco. Mas a verdade é que, nos dias que correm, valores como a justiça e a integridade são geralmente postos de lado, em prol de ganâncias, corrupções e outras maleitas monetárias.

Gore Verbinski é um realizador de massas, aparentemente sem grande talento nem grandes aspirações intelectuais. A sua grande obra até ao momento foi o aterrorizante The Ring, que trouxe um novo fôlego ao cinema de horror e deixou a sensação de que talvez Verbinski seja apenas mais um realizador incompreendido, perdido no grande oceano da indústria americana. Depois seguiram-se os blockbusters das aventuras de Jack Sparrow e cedo esquecemos o nome do realizador, associando-o à decadência artística de Johnny Depp e do cinema franchising. Com The Lone Ranger, Gore Verbinski não só limpou o seu cadastro, como fez as pazes com o cinema de aventura. O problema, digo eu, é que o filme corre o risco de ficar incompreendido.

O filme ressuscita a história do Mascarilha e do seu fiel amigo Tonto - ou será Tonto e o seu fiel amigo Mascarilha? Seja como for, a história remonta aos anos '50, entre populares livros de quadradinhos e menos populares tentativas no grande ecrã e conta como, em tempos difíceis, bons homens são obrigados a usar máscaras. É uma grande crítica social à destruição do velho Oeste pela construção de caminhos de ferro e pela incessante fome da industrialização. Associa-se a isto um conjunto de bons valores, materializados na loucura do índio Tonto que, pela mão de Verbinski, larga a pele do personagem subserviente de "fiel companheiro" e se torna uma personagem com vontade própria, com sede de vingança. Na versão de Verbinski, Tonto é mais inteligente e mais capaz que o Mascarilha. No início do filme, é Tonto quem está esquecido, deixado a apodrecer num museu para ser encontrado por uma criança vestida de cowboy. Gosto de acreditar que essa criança é Verbinski, são os seus três guionistas e somos todos nós. Os nossos heróis não nos deixaram, mas nós virámos-lhes as costas, deixando-os para serem tratados como peças de museu.

The Lone Ranger é uma oportunidade para nos lembrarmos de como era ter exemplos de justiça, de como se podem fazer bons filmes de aventura, repletos de referências que vão de John Ford a Buster Keaton, fazendo-nos rir e apertar as mãos de emoção com os benefícios das grandes produções e dos efeitos CGI. O novo Mascarilha não é um filme perfeito, não me deixem enganar-vos. É demasiado longo, tem partes um pouco chatas e Armie Hammer não foi a melhor escolha possível. No entanto, é um filme bem intencionado, cheio de bons valores, que nos faz pensar no rumo que as coisas levaram. A sociedade evoluiu no sentido errado, não há dúvida. Nas palavras do índio Tonto - 'Nature is out of balance, Kemosabe'.


Golpes Altos: Um filme feito com o coração, de um amante do cinema de aventura. Bem escrito e bem interpretado, é uma aposta segura para uma ida ao cinema.

Golpes Baixos: A duração, algumas cenas demasiado longas e um Armie Hammer fraquinho.


11 comentários:

  1. Não estava à espera de uma crítica desta porque aparentemente o pessoal tem saído desiludido da sala de cinema... Acho que se está a tornar cada vez mais complicado fazer bons filmes com bons heróis!

    Já agora, quem é que colocavas no lugar do Armie Hammer (eu também não vou muito à bola com ele)??? :)

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    1. Sinceramente não sei... talvez um gajo menos conhecido... não é por ele ser mau actor, mas irrita-me um bocado :/ depois diz-me se gostaste!

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  2. Hum... leio esta crítica e fico com a sensação de que não vimos o mesmo filme.

    O que eu vi foi um filme muito fraquinho, que, apesar de ter algumas boas cenas de acção, é uma palhaçada pura.

    Devia-se chamar "Tonto & Tóto" - o auto-complacente e arrogante Johnny Depp sempre no centro da câmara, e o palerma do Mascarilha que mais parece um instrutor do aquafitness com queda para as ciências (políticas!...), armado em correcto.

    Diria que é um filme para garotos, mas nem isso é verdade. A cena em que arrancam o coração do irmão do Mascarilha (que depois vai ler o Locke, para se convencer a não fazer justiça pelas próprias mãos...) é saíde de um filme de terror. Depois disso começa o circo (mais um grande problema do filme - a sua total incoerência de género, de estilo, de identidade. Parece uma coisa feita às postas por 7 ou 8 gajos diferentes).

    Por fim, e como resposta a certos e determinados escrevinhadores desse vasto mundo do ciberespaço que, usando e abusando da insegurança própria de quem é ignorante, se serviram do meu retrato como forma de achincalho, gostaria de dizer o seguinte: contra a estupidez, até os deuses lutam em vão.

    Duarte Garrido, penso que aprendeste com este blogue uma grande lição: não basta ajudar a levantar o débil. É preciso segurá-lo depois!

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  3. Eu dei a este filme 6,5 na minha escala pessoal. Não achei nada de especial mas também não achei mau. É divertido o suficiente embora não haja nada que me faça ficar "UAU".

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  4. Fraquíssimo.
    Argumento falacioso (Depp é "dono" do projecto e obrigou tudo e todos a ter o Tonto como main character), um Hammer que vai quase directamente para o mesmo sótão escuro onde só vive o Tobey Maguire, argumento completamente despropositado, tal a incoerência e falta de identidade, estilo, fio condutor - É um western? É um filme de animação/aventura? É uma comédia? Não, é só uma palhaçada pegada! -, e para terminar um Depp que hoje em dia é uma espécie de Zezé Camarinha do cinema: criou uma persona tão arrogante e bizarra, narcisista e espalhafatosa à volta de si próprio que vive na tormenta de tentar reinventar-se, película após película, sem nunca estar próximo do conseguir. Já quase ninguém quer ver este Depp, da mesma forma que já são poucos os que têm esperança de rever aquele que realmente gostávamos - que saudades de Donnie Brasco, Fear and Loathing in Las Vegas ou até Finding Neverland.
    Bola à trave, Verbinski. Tira umas férias, Depp. Muda URGENTEMENTE de profissão, Hammer.

    P.S. - O que é que um actor tão talentoso e louvável como o Tom Wilkinson faz num pardieiro destes?

    P.P.S. - Este Tonto é uma pobre e amaneirada imitação do William Blake de Dead Man. O Jarmusch sabia que ias fazer esta merda, Johnny?

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    1. JP, este Tonto não tem nada a ver com o Blake, é o Keaton chapadinho.

      Toma, aprende com quem sabe:

      As soon as the western genre was established in the second decade of the last century, comedians headed to the frontier. From Chaplin and Keaton via the Marx Brothers to Abbott and Costello, the comic stars got their laughs by appearing far from home on the range among humourless tough guys riding tall in the saddle. As the B-western developed, its poker-faced, straight-shooting heroes had to be accompanied by comic sidekicks such as the ubiquitous George "Gabby" Hayes or Fuzzy Knight. At the same time there developed the comedy western, a relaxed, easy-going affair – James Stewart as the peaceful new sheriff refusing to carry a gun in Destry Rides Again, for instance, or shy cowpoke Gary Cooper being mistaken for a gunslinger in Along Came Jones.


      Isto só para te explicar a tal "incoerência". Não é incoerência, tu é que não conheces o género nem a história do cinema. Por estas e por outras é que eu gosto de falar só daquilo que sei.

      JP, o filme é bom, quer queiras quer não.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Garrido hipster! Esse mau feitio latente, pa!
    Agradeço o texto (que desconhecia) e a explicação de que tentativa de homenagem tenta este The Lone Ranger fazer - dessa felizmente já me tinha apercebido. A questão não está nas boas intenções com que foi concebido, está na fraca qualidade do produto final.
    Os diálogos são ocos e sem grande ironia (o que é aquela cena macaca da tenda dos índios?!), as passagens de acção/aventura confusas e espalhafatosas, exactamente o mesmo defeito das cenas de Man of Steel modo retro - a cena final do comboio é de corar! -, Hammer é um não-actor quanto mais um herói, e Depp perde-se muitas vezes em trejeitos arrogantes e autocomplacentes, retirando piada ao boneco que havia construído.
    Logo, e em traços gerais - gosto de Fichtner e da boca da Ruth Wilson - não acho que Verbinski consiga fazer grande jus ao género nem Depp consiga homenagear devidamente Buster Keaton, não por falta de talento mas por estar cheio de si próprio.

    P.S. - Mantenho que este Tonto de Depp é uma versão 2.0 do seu Blake de Dead Man. E aconselho todos a reverem ambos os filmes. Há quase 20 anos atrás a versão indie, agora a versão blockbuster.

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    1. Pronto, pronto... sendo assim só nos resta acordar em discordar. O mesmo se aplica ao Man of Steel. Mas numa coisa estamos de acordo: a boca da Ruth Wilson. Porra.

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  7. Não estou com especial vontade de ver e, confesso, a razão é o Johnny. Vi o trailer e achei que era um Sparrow mal amanhado vestido de índio, com os mesmos trejeitos e maneirismos...enfim, não acho que agrade a quem goste dos bons velhos westerns e não acho que agrade sequer aos fãs dos Piratas das Caraíbas, muito porque me dá a sensação que já aqui foi referida, de um estilo e género muito indefinido, de querer ser interessante à força de uma história boa, mas que fica desvirtuada.

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