quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Argo


Realizador: Ben Affleck
Argumento: Chris Terrio
Elenco: Ben Affleck, Bryan Cranston, Alan Arkin, John Goodman, Tate Donovan e Chris Messina

Este filme é a mulher perfeita - séria, honesta, boa e que não se borra toda de maquilhagem.
Nos dias de hoje, parece que nós homens nos fixámos em mulheres de saia curta, lábios pintados, cara cor de laranja e decotes a bater no queixo. O mesmo está a acontecer com os filmes. Queremos é ver Tarantinadas, filmes cheios de efeitos especiais, catástrofes naturais, realizações dinâmicas, planos de autor... Mas eu pergunto: é isto o cinema? Não, não me parece que seja. Cinema é, como todas as artes deviam ser, um meio para contar uma história. Eu sou suspeito... Irrita-me a arte moderna, conceptual - pintinhas, bolinhas, cores e uma gaiola com um cagalhão lá dentro (sim, isto existe). Por isso, quando ontem me sentei a ver o último filme do Ben Affleck, senti respeito. Respeito por um artista que não fez um filme para se glorificar ou para mudar a história do cinema, mas simplesmente para contar uma história importante, da forma mais honesta e mais profissional possível.

Argo não é um filme "baseado em factos verídicos". É um filme que retrata factos verídicos, tal como aconteceram. É um filme político, sem nunca ser faccioso ou tentar passar apenas uma mensagem. Affleck teve o cuidado de mostrar os dois lados da mesma moeda e, num tema tão sensível quanto as relações EUA-Irão das últimas décadas, isso é essencial. Portanto, sem desvendar plot points, temos aqui um guião incrivelmente bem escrito, uma realização matura, profissional, eu diria clássica (se isso não afugentasse algumas almas pós-modernas), um elenco de luxo e, no fim do dia, um filme que se valoriza pela sua humildade e pelo seu trabalho.

Deus sabe (e nós também) que Ben Affleck teve o seu momento negro. A relação com a J-Lo tirou-lhe a vontade de fazer filmes decentes (mas Ben, eu percebo!), e vagueou por Hollywood sem eira nem beira. Mas eis que chega 2010, e com ele o regresso do Ben ao cinema de qualidade, com um projecto pessoal chamado The Town. E curiosamente, The Town em muito se assemelha a Argo. Tem a mesma simplicidade, o mesmo profissionalismo, e o mesmo leque de bons actores que todos dizem ter sido "uma experiência incrível trabalhar com Affleck". Portanto o que temos aqui é uma espécie de Cristiano Ronaldo do cinema - um gajo com talento, mas com uma capacidade de trabalho que lhe permitirá ficar na história.

Foi uma agradável surpresa, e decididamente um dos meus preferidos para os Óscars deste ano (não conseguindo obviamente destronar o Amour). Parabéns Ben. Parabéns pela Jennifer, pela outra Jennifer, pelo Good Will Hunting, e por estes dois últimos. És um standup guy!


Golpes Altos: Tudo o que referi em cima, mais as interpretações de gigantes como Alan Arkin e John Goodman, e novatos como Chris Messina e Tate Donovan (este último não é assim tão novato, mas aparece pouco).

Golpes Baixos: Corte de cabelo do Ben.

10 comentários:

  1. Gosto deste blog! Continua!
    Também sou uma amante de cinema, gostei da referência lá abaixo ao Black Cat, White Cat, infelizmente pouca gente conhece esse grande filme!

    Vou seguir! ;)

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    1. Somos dois! Vamos amuar porque um ficou esquecido no teu elogio...

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    2. Hahahaha! Continuem então, no plural! ;)

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  2. Buddy:

    O que é que tens contra as mulheres pouco sérias? Essa tua metáfora perece-me um pouco sexista...
    Isto for starters!
    Em segundo lugar: o CR7 não é apenas um jogador talentoso que exponencia ao máximos as suas capacidades pelo trabalho árduo. É um génio do futebol, o Mozart nesta nossa era de idólatras de pequenos Salieris...

    Quanto ao resto, concordo em absoluto. Um bom filme, sóbrio, profissional e, como bem disseste, honesto - preocupado em contar bem uma história, o que indiscutivelmente consegue.

    Não penso que o cinema tenha de ser apenas isto. Mas o que Affleck nos mostra é que o cinema também pode ser isto. Outro grande mérito deste filme.

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  3. Após reler o meu comentário, dei comigo a imaginar algumas objeções (de resto, bastante superficiais) que um espírito confuso e sem imaginação pode ser tentado a aviltrar em relação ao mesmo.

    Para melhor as refutar, e como forma de desenvolver o meu argumento, coloco na pena de um Anónimo Ranhoso uma súmula dessas perplexidades banais, facto pelo qual apresento desde já as minhas desculpas aos insígnes autores deste blogue.

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  4. Boas.

    Eu sou um Anónimo Ranhoso, e venho deste modo expressar a minha perplexidade pelo comentário do auto-intitulado "Mestre Fantasma" (que, ainda para mais, assina em inglês, numa demonstração de estrangeirismo que totalmente repudio).

    Comecei por não apreciar a ironia misógina do comentário, na linha das palavras pouco felizes do próprio artigo, que me parecem muito impróprias.

    Não percebo os méritos deste filme de propaganda aos EUA, o império da ganância, causador das principais guerras do século XX por puro interesse económico (notem que está nomeado outro filme do género para os Óscares deste ano).
    Como de costume, os americanos são os "bons" e os muçulmanos "os maus". Isto não vos parece uma visão do mundo a preto e branco, para além de ser claramente uma demonstração de islamofobia?

    Quanto ao Cristiano, ele é arrogante. Não gosto de pessoas com falta de humildade e que não sabem falar bem inglês (o Figo sim, era um "Senhor", dentro e fora de campo!!!)

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  5. Estimado ranhoso,

    Agradeço a ocasião que me dá para esclarecer alguns argumentos do meu comentário, porventura pouco claros para mentes menos subtis.

    Queria também dar aqui conta da minha profunda gratidão pela análise política que tão magnificamente expôs: a estupidez é uma coisa antiga, e como tal, muito necessária e muito útil. As pessoas inteligentes sentem-se melhor consigo próprias, e o humor barroco que raciocínio doente involuntariamente destila não tem preço.

    Quanto ao comentário original: este filme é bom porque é bom; e este filme é bom porque mostra que se podem fazer filmes bons desta maneira.
    O cinema é suficientemente grande para as genialidades de um Fellini e para a narrativa limpa e honesta de um filme como este.

    Concluindo com as sábias palavras do autor do artigo, uma mulher honesta é sempre mais interessante, mas nem sempre a mulher mais interessante é a mais honesta.

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  6. Reconheço agora a insignificância da minha pessoa e o fundo rasteiro da minha alma.

    Sempre odiei o que me é superior e sirvo-me de lugares comuns para tentar sujar o que é grande.

    Outras vezes sou apenas profundamente estúpido.

    Apesar de tencionar continuar a poluir o mundo com a minha mediocridade, agradeço ao Master as suas palavras sábias e profundas, que amanhã já estarão esquecidas.

    A.R.

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  7. "O Médico e o Monstro" do nosso blog! O Louis Stevenson está a dar voltas na campa!

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