Argumento: Julia Leigh
Elenco: Willem Dafoe, Frances O'Connor e Sam Neill
A figura é lendária. O "Grande Caçador Branco". Possivelmente a peça mais importante do meu imaginário infantil. Solitário, aventureiro, atormentado... letal. O homem muda, mas o mito é o mesmo. Desde 'As Minas de Salomão' de Haggard, até ao clássico 'White Hunter Black Heart' de Clint Eastwood, o cinema e a literatura exploram as trevas do coração humano ao colocar o caçador na selva, sozinho, contra a natureza.
Em The Hunter, Willem Dafoe interpreta um misterioso homem cujo passado e profissão não são inteiramente claros, e que é enviado para a imensidão da floresta da Tasmânia, em busca de um animal que se crê extinto há mais de 80 anos - o Tigre da Tasmânia. Como se a história não fosse cativante o suficiente, acrescenta-se o facto de este animal, o Tigre da Tasmânia, ter realmente existido e estar mesmo dado como extinto. Os únicos registos conhecidos podem ser encontrados no YouTube e parecem saídos de uma história de ficção científica. Está criado o ambiente para nos causar calafrios e curiosidades.
A autora desta história magnífica, Julie Leigh, realizou o seu primeiro filme o ano passado - um drama erótico chamado Sleeping Beauty. O filme deixou muito a desejar, e creio que Leigh terá aprendido a lição e limitar-se-á a escrever para que outros realizem. Neste filme, a realização é tão ou ainda mais importante que o guião. Daniel Nettheim é um newcomer que ainda vai dar que falar. Dafoe está perfeito e é entusiasmante vê-lo tão fora do seu habitat natural. Em The Hunter, interpreta uma mistura de Léon, o Profissional com um explorador saído de um livro de Hemingway. É contratado por um grande grupo farmacêutico para caçar o animal extinto, pois crê-se conter propriedades curadoras para um qualquer tipo de novo fármaco milionário.
Mas a viagem de Dafoe, como a de tantos homens antes dele, ultrapassa a sua missão, torna-se um dilema existencialista de um homem que afasta o sentimento do seu coração, se afasta das pessoas, prefere estar sozinho. Em último caso, a maior dificuldade do caçador solitário é olhar o animal nos olhos e premir o gatilho. Seria mais fácil matar uma pessoa. Porque olhar um animal nos olhos, para esta rara estirpe de homem, é como olhar-se a si próprio.
Este é honestamente um dos melhores filmes de 2011, e estreia hoje em Portugal com apenas 2 anos de atraso. É uma obra de beleza rara e profundidade perturbadora, que nos permite entrar dentro da alma do caçador, partilhar a sua solidão e, pelos seus olhos, contemplar a beleza do mundo natural enquanto afiamos a faca para a derrotar. O homem é feito de contradições, muitas vezes sente-se impelido a destruir aquilo que ama - Graham Greene falava de "destruição criativa", Bukowski referiu que a única forma de fazer arte é ateando fogo e até Tolstoy percebeu que a violência conhece razões que a própria razão desconhece. O caçador de Leigh está na génese da natureza humana. Somos lobos solitários, todos nós. Somos criados em alcateia mas sabemos que, na morte como na vida, estamos por nossa conta.
Golpes Altos: Um drama existencial com traços de thriller científico. Magnifico trabalho de realização e de actores. Um grande filme que nunca, nem no momento final, nos desilude.
Golpes Baixos: Ter estreado com 2 anos de atraso, por exemplo.
O Willem fez lá aquela "coisa" no Homem Aranha e marcou-me, pá, o tipo de verde, enfim...é como o Ryan Renolds, mas em feio.
ResponderEliminarDe qualquer maneira, o filme em si parece-me interessante e cheira-me que o marido vai querer passar um serão a ver isto.
Ahah eu não adoro o Willem Dafoe na maior parte dos papéis que faz- Insiste em fazer de mau, mas aqui vê-se que também é óptimo a fazer de bom. Mostra ao marido que ele vai gostar de certeza, e tu também! :)
ResponderEliminarJá vi isso há algum tempo, mais um que chega a Portugal quase de arrasto...
ResponderEliminarE tenho de rever porque vi esse filme numa noite em que estava a morrer de sono e a minha cabeça não estava ligada o suficiente. Mas sim, apesar de também não ser grande fã do Dafoe, tenho de reconhecer que ele está bem neste filme e foi bom ver uma outra faceta. :)
Revê isso!!! É incrível este filme! :)
EliminarThere's a new blog in town:
ResponderEliminarhttp://osomfuria.blogspot.pt/
;)
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ResponderEliminarosomfuria.blogspot.pt/ (assim é que é...acho eu)
;)
O Willem Dafoe pode fazer o que quiser, que para mim será sempre o Elias do Platoon, uma das minhas personagens preferidas do cinema. E isso dá-lhe crédito para fazer o quiser, incluindo ter participado num dos filmes mais merdosos de sempre: o Anticristo.
ResponderEliminarEpah palavras sábias!!! Eu odeio o Von Trier e, entre o Melancholia e o Anticristo, não sei qual deles o pior. Platoon = épico!
ResponderEliminarNa minha opinião diria que o Anticristo, por uma razão muito simples... Fiquei tão wtf? com o Melancholia que nem sei muito bem como classificar o filme!
EliminarO Melancholia irrita-me mais pela pretensão que o envolve. É o expoente máximo do pseudo-intelectualismo. Quando se espreme, não sai nada.
EliminarO Elias de Platoon e o Ward de Mississippi Burning são personagens que gostei bastante em filmes que gostei bastante.
ResponderEliminarE, acima de todos, o JC de The Last Temptation of Christ. ADORO o filme, é para mim um dos melhores e mais sobvalorizados Scorsese's, e Dafoe está épico.
Concordo e acrescento o Bobby Peru do Wild at Heart! Possivelmente o melhor papel de sempre do Dafoe, não propriamente pela densidade do personagem, mas pelos maneirismos.
ResponderEliminarHear, hear!!!
ResponderEliminarNuno Rechena