Realização: Jacques Audiard
Argumento: Jacques Audiard
Elenco: Marion Cotillard e Matthias Schoenaerts
Esta é a história de dois corpos. Duas massas, duas matérias e duas forças. As almas, essas ficaram para trás. De Rouille et d'Os trata da fragilidade humana. Do que o nosso corpo consegue ou não suportar, e da vida que existe para além dele.
Stéphanie trabalha no jardim zoológico. Comanda um exército de baleias assassinas, treinando-as para saltar, acenar, e avançar ao seu comando. E fá-lo com a determinação e a graciosidade que faltam à sua vida. Ali é um perdedor. Um vagabundo com uma criança ao colo. Uma besta que conta apenas com a sua força para ganhar a vida. Ali não pensa, age. Tudo o que faz é físico. Para trabalhar, luta. Para amar, fode. Ela chama-o assobiando, como às suas orcas. O animal terno e imprevisível. Conhecem.se fruto de violência, de sangue, de incapacidade - e a viagem que os espera vai fazê-los crescer como seres humanos, sentindo o seu próprio corpo como divino, sagrado. E é maravilhosa a forma como o realizador acompanha este filme, sempre no mesmo tom, sempre no mesmo sentido. Nunca parecendo deslocado.
Estamos perante uma obra-prima e definitivamente o segundo melhor filme do ano. Haneke fica no pódio, mas Audiard ganhou o segundo lugar. E eis que a Europa renasce das cinzas. Passaram os anos 60 e o tempo da contestação social. Os franceses largaram a ideologia e agora falam de pessoas - o cinema só tem a ganhar com isso.
Ao longo do filme, a realização de Audiard vai-nos transmitindo sensações que por palavras soariam falsas. Ele é uma rocha, ela está deprimida - mas nós vamos percebendo o que pensam, vamos conhecendo o que são e, acima de tudo, vamos sentindo o que sentem. Sentimos o sol a queimar-lhe a cara quando ela sai de semanas fechada no quarto, sentimos os dentes dele a bater no alcatrão enquanto lhe partem a cara num combate de rua - sentimos o gelo a abrir-lhe a mão enquanto tenta furiosamente salvar a vida ao seu filho.
Olhos mais sensíveis devem ter precaução. Este não é um filme fácil. Mostra-nos a vida tal como ela é: o melhor e o pior, o feio e o bonito, o bom e o mau, o forte e o fraco. Odiamos e amamos os dois personagens à medida que os conhecemos. Respeitamos as suas potencialidades e desprezamos as suas incapacidades. Mas somos seres-humanos. Somos multi-dimensionais, e também o são os personagens.
A história evolui ao longo de duas horas, e quando acaba parece que os conhecemos há anos. Ficamos a querer ver mais, a querer saber mais. A querer continuar a olhar o mundo através dos olhos de Audiard. É um mundo mais seco, mas mais resolúvel. À semelhança dos seus outros dois sucessos - Un Prophet e De Battre Mon Coeur S'est Arrêté - este filme faz-nos acreditar que tudo na vida tem uma solução, que todo o caminho acaba - e o fim só depende de nós.
Golpes Altos: Interpretações dignas de dois Óscares (ou secalhar são os Óscares que não são dignos destas duas interpretações). Realização de autor perfeita. É isto: perfeita!
Golpes Baixos: Algum conteúdo social a mais. A história dos dois bastava. Banda sonora de baixa qualidade para um filme desta categoria.
Argumento: Jacques Audiard
Elenco: Marion Cotillard e Matthias Schoenaerts
Esta é a história de dois corpos. Duas massas, duas matérias e duas forças. As almas, essas ficaram para trás. De Rouille et d'Os trata da fragilidade humana. Do que o nosso corpo consegue ou não suportar, e da vida que existe para além dele.
Stéphanie trabalha no jardim zoológico. Comanda um exército de baleias assassinas, treinando-as para saltar, acenar, e avançar ao seu comando. E fá-lo com a determinação e a graciosidade que faltam à sua vida. Ali é um perdedor. Um vagabundo com uma criança ao colo. Uma besta que conta apenas com a sua força para ganhar a vida. Ali não pensa, age. Tudo o que faz é físico. Para trabalhar, luta. Para amar, fode. Ela chama-o assobiando, como às suas orcas. O animal terno e imprevisível. Conhecem.se fruto de violência, de sangue, de incapacidade - e a viagem que os espera vai fazê-los crescer como seres humanos, sentindo o seu próprio corpo como divino, sagrado. E é maravilhosa a forma como o realizador acompanha este filme, sempre no mesmo tom, sempre no mesmo sentido. Nunca parecendo deslocado.
Estamos perante uma obra-prima e definitivamente o segundo melhor filme do ano. Haneke fica no pódio, mas Audiard ganhou o segundo lugar. E eis que a Europa renasce das cinzas. Passaram os anos 60 e o tempo da contestação social. Os franceses largaram a ideologia e agora falam de pessoas - o cinema só tem a ganhar com isso.
Ao longo do filme, a realização de Audiard vai-nos transmitindo sensações que por palavras soariam falsas. Ele é uma rocha, ela está deprimida - mas nós vamos percebendo o que pensam, vamos conhecendo o que são e, acima de tudo, vamos sentindo o que sentem. Sentimos o sol a queimar-lhe a cara quando ela sai de semanas fechada no quarto, sentimos os dentes dele a bater no alcatrão enquanto lhe partem a cara num combate de rua - sentimos o gelo a abrir-lhe a mão enquanto tenta furiosamente salvar a vida ao seu filho.
Olhos mais sensíveis devem ter precaução. Este não é um filme fácil. Mostra-nos a vida tal como ela é: o melhor e o pior, o feio e o bonito, o bom e o mau, o forte e o fraco. Odiamos e amamos os dois personagens à medida que os conhecemos. Respeitamos as suas potencialidades e desprezamos as suas incapacidades. Mas somos seres-humanos. Somos multi-dimensionais, e também o são os personagens.
A história evolui ao longo de duas horas, e quando acaba parece que os conhecemos há anos. Ficamos a querer ver mais, a querer saber mais. A querer continuar a olhar o mundo através dos olhos de Audiard. É um mundo mais seco, mas mais resolúvel. À semelhança dos seus outros dois sucessos - Un Prophet e De Battre Mon Coeur S'est Arrêté - este filme faz-nos acreditar que tudo na vida tem uma solução, que todo o caminho acaba - e o fim só depende de nós.
Golpes Altos: Interpretações dignas de dois Óscares (ou secalhar são os Óscares que não são dignos destas duas interpretações). Realização de autor perfeita. É isto: perfeita!
Golpes Baixos: Algum conteúdo social a mais. A história dos dois bastava. Banda sonora de baixa qualidade para um filme desta categoria.
De rouille et d'os é, para mim, um dos melhores filmes do ano passado. Uma maravilha.
ResponderEliminarMan, tás a brincar? Banda sonora de baiza qualidade? Além de ser o desplat, tem coisas tão boas como Bon Iver, por exemplo. Acho a banda sonora perfeita, até a canção da Katy Perry nas baleias. Não percebes nada de música, pá. E tb não acho que "mostre a vida tal como ela é". A vida é muitas coisas, pá. esta é só uma outra visão. de resto, perfeito.
ResponderEliminarLol epah katy perry? katy perry não fica bem em lado nenhum, muito menos num filme destes. e bon iver é um engodo. não gostei mesmo da banda sonora.
ResponderEliminarquanto à vida, não estava a insinuar que o filme fale de tudo o que existe no mundo - até porque isso é um bocadinho difícil -, estava só a referir que nos mostra o melhor e o pior que há nas pessoas.
Ah, finalmente a review deste filme! Tive oportunidade de o ver há algum tempo, adorei e sempre fiquei à espera de uma nomeação pelo menos para a Marion Cotillard! Enfim, sem comentários... Não sei se diria que foi o 2º melhor filme do ano, sem dúvida o 2º melhor estrangeiro, isso sim. :)
ResponderEliminarEste ano (passado) foi talvez o ano que mais me surpreendeu a nível de filmes estrangeiros. Amour, este filme, Intouchables, A Royal Affair... Tudo excelentes filmes!
Intouchables não gostei. O Royal Affair ainda não vi, tenho que ver. Mas eu ponho este à frente do The Master, do Django, do Killing them Softly e do Argo. Por isso para mim é o 2º melhor do ano (até agora).
ResponderEliminarAgora fiquei curiosa para ver uma review do Intouchables aqui! :)
ResponderEliminarAhah epah não estava a pensar fazer porque já não está no cinema. Fiz agora deste porque supostamente estreou agora (e aqui ninguém saca filmes ilegalmente. tudo no cinema :P)
ResponderEliminarClaro! :P
ResponderEliminarE por ter falado em filmes estrangeiros, esqueci-me de referir o Les petit mouchoirs, adoro cinema francês e adoro a Marion e ainda não tive oportunidade de o ver. Já viste? As críticas são positivas. :)
Já vi e é bom! Uma espécie de "Amigos de Alex" (The Big Chill), mas menos brilhante! :)
ResponderEliminarVi ontem. Audiard é de longe um dos meus realizadores favoritos e, embora não ache que assine aqui a sua obra-prima - dificilmente alguma vez tocará a brutalidade conceptual, estética e narrativa de Un Prophète - deixa-nos com mais um enorme pedaço de cinema.
ResponderEliminarComo o Buddy referiu e bem, fabuloso trabalho de actores (todos, até os secundários), com uma Cotillard que há muito me parecia brilhante mas que aqui se confirma definitivamente e um Schoenaerts poderosíssimo no papel de homem que sempre foi rude, sempre foi pobre, sempre foi iletrado, e que, dum momento para o outro, descobre uma luz ao fundo do túnel num tríptico tão distinto como humano: um filho pequeno que não quer, uma mulher sem pernas que mal conhece e o boxe.
Arrebatador.
Um óscar para a Marion Cotillard? Tanto quanto é do meu conhecimento, o Oscar ainda é de melhor actriz, não de melhor atrás, e portanto não vejo como é que essa aventada possibilidade algum dia se poderá concretizar.
ResponderEliminarPequeno disclaimer: não vi o filme em causa (mas devo ir ver) e digo o que acabei de dizer com base no historial de canastrice que a Marion Cotillard vem garbosamente edificando desde que foi filmada pela primeira vez. Lembro, a este propósito, a morte da sua personagem no último Batman. Aquilo era suficiente para lhe exigir o caché de volta.
Uma sugestão para o estimável Buddy (sem comentários nem adjectivações para não condicionar): vai ver a Caça.
Fraternas saudações cinéfilas do one and only
MASTER ÓSCAR PILANTRA
Master Óscar Pilantra e JP:
ResponderEliminar1º - Sou o primeiro gajo a dizer que a Marion Coutillard é péssima. Tenho-o dito desde que a vi no La Vie En Rose (papel altamente sobrevalorizado, if you ask me), passando pelo Inception e pela sua desastrosa actuação neste último Batman (que quase ia destruindo a grandiosidade da película).
Mas... a verdade é que ela neste filme está óptima. Mas mesmo óptima. Uma interpretação digna de Oscar, sem qualquer dúvida.
2º - JP concordo que o Un Prophéte talvez seja ainda melhor que este. Mas para mim são os dois obras-primas.
3º - Master Pilantra, tenho isso já sacado e pronto para ver! Faça favor o senhor de ver este, e depois comentar a actuação da Coutilard (ela neste não morre, por isso a coisa melhora)
Gosto muito da Cotillard de La Môme e De Rouille et d'Os. E gosto q.b. da Cotillard de Public Enemies, Les Petits Mouchoirs e Midnight in Paris.
EliminarSe teve um ou outro papel fracote? Claro que sim, mas quem não tem?
Não a tenho como uma Katharine Hepburn, mas daí a dizer que é péssima ou canastrona vai um mundo.
Epah não gosto nada dela no Midnight in Paris (outro grande filme envenenado pela sua actuação). Honestamente acho que o problema dela é quando tem que falar inglês. Chamo-lhe "Síndrome Penelope Cruz" - só é boa actriz na sua própria língua.
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