Realização: Andrew Dominik
Argumento: Andrew Dominik
Elenco: Brad Pitt, Casey Affleck, Mary-Louise Parker, Sam Rockwell, Paul Schneider, Jeremy Renner, Garret Dillahunt e Sam Shepard
Há algo místico e sobrenatural na figura do velho Oeste. O herói senta-se, pensativo. A sua figura, esguia e funesta, sugere cansaço e morte. A cobra aos seus ombros coloca-o acima do resto do mundo, um semi-Deus - 'he had a condition that was referred to as granulated eyelids, that caused him to blink more than usual - as if he found creation slightly more than he could accept'. Há algo místico em Jesse James. No filme, a sua figura destaca-se das outras, como se caminhasse num plano diferente. Vimo-lo pelos olhos da criança, do seu maior fã, do fraco, do cobarde e, ultimamente, do seu assassino Robert Ford.
O Oeste aqui é árido, abandonado, quase ultrapassado. Jesse é o seu filho, sofre entre depressões e uma incerteza se será este ainda o seu lugar no mundo. Brinca com os seus filhos, faz amor com a sua mulher, mas desligado de uma realidade que não o reconhece. Ninguém sabe quem é Jesse James, só Robert. E, talvez por isso, Jesse deposite em Robert a sua confiança, o seu zelo e a sua morte. Jesse é como o César enfurecido que vê traição em cada esquina e, no momento final, escolhe dar a Brutus a sua vida e, com isso, amaldiçoá-lo para sempre. É o preço a pagar por matar um deus. Robert nunca se torna no homem que sonhou tornar-se. É uma sombra de Jesse e traz no seu semblante o peso da cobardia. É um rato, fraco e subserviente ao lado de um gigante.
Estamos perante uma rara obra de arte. The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford transcende o cinema, transcende a literatura. Atravessa vários campos sensoriais com a suavidade e a importância de quem sabe o que é e o que quer dizer. Para mim, é um dos melhores filmes de sempre. Um injustiçado, sem dúvida. Arrisco dizer que não se fez nada nos últimos 20 anos sequer parecido a isto. Talvez por isso tenha passado uma imagem de pretensão para quem não distingue pretensão de perfeição. Eu gosto de literatura. Gosto, porque me dá coisas que o cinema não me consegue dar. Dá-me uma profundidade que é difícil atingir com imagens. Com imagem, tudo se torna mais fácil, mais conquistável. Jesse James conseguiu o impensável.
O filme conta os últimos dias do bando dos irmãos James, ou do que resta deles. Cada personagem contém dentro de si o tamanho de um filme. É maravilhoso ver como os diálogos reflectem pessoas complexas. É difícil conhecer quem passa pelo filme e, talvez por isso, seja longo e tenha a ajuda de um narrador lírico. Em termos técnicos, podia dissecar cada elemento do filme e isto tornava-se num manual de cinema 101 para futuros génios. Mas seria injusto, o filme eleva-se a uma categoria de cânone que "é logo existe". Jesse James, o bandido, descansa em paz. Fez-se justiça na forma de um filme. Não é preciso dizer mais nada.
Argumento: Andrew Dominik
Elenco: Brad Pitt, Casey Affleck, Mary-Louise Parker, Sam Rockwell, Paul Schneider, Jeremy Renner, Garret Dillahunt e Sam Shepard
Há algo místico e sobrenatural na figura do velho Oeste. O herói senta-se, pensativo. A sua figura, esguia e funesta, sugere cansaço e morte. A cobra aos seus ombros coloca-o acima do resto do mundo, um semi-Deus - 'he had a condition that was referred to as granulated eyelids, that caused him to blink more than usual - as if he found creation slightly more than he could accept'. Há algo místico em Jesse James. No filme, a sua figura destaca-se das outras, como se caminhasse num plano diferente. Vimo-lo pelos olhos da criança, do seu maior fã, do fraco, do cobarde e, ultimamente, do seu assassino Robert Ford.
O Oeste aqui é árido, abandonado, quase ultrapassado. Jesse é o seu filho, sofre entre depressões e uma incerteza se será este ainda o seu lugar no mundo. Brinca com os seus filhos, faz amor com a sua mulher, mas desligado de uma realidade que não o reconhece. Ninguém sabe quem é Jesse James, só Robert. E, talvez por isso, Jesse deposite em Robert a sua confiança, o seu zelo e a sua morte. Jesse é como o César enfurecido que vê traição em cada esquina e, no momento final, escolhe dar a Brutus a sua vida e, com isso, amaldiçoá-lo para sempre. É o preço a pagar por matar um deus. Robert nunca se torna no homem que sonhou tornar-se. É uma sombra de Jesse e traz no seu semblante o peso da cobardia. É um rato, fraco e subserviente ao lado de um gigante.
Estamos perante uma rara obra de arte. The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford transcende o cinema, transcende a literatura. Atravessa vários campos sensoriais com a suavidade e a importância de quem sabe o que é e o que quer dizer. Para mim, é um dos melhores filmes de sempre. Um injustiçado, sem dúvida. Arrisco dizer que não se fez nada nos últimos 20 anos sequer parecido a isto. Talvez por isso tenha passado uma imagem de pretensão para quem não distingue pretensão de perfeição. Eu gosto de literatura. Gosto, porque me dá coisas que o cinema não me consegue dar. Dá-me uma profundidade que é difícil atingir com imagens. Com imagem, tudo se torna mais fácil, mais conquistável. Jesse James conseguiu o impensável.
O filme conta os últimos dias do bando dos irmãos James, ou do que resta deles. Cada personagem contém dentro de si o tamanho de um filme. É maravilhoso ver como os diálogos reflectem pessoas complexas. É difícil conhecer quem passa pelo filme e, talvez por isso, seja longo e tenha a ajuda de um narrador lírico. Em termos técnicos, podia dissecar cada elemento do filme e isto tornava-se num manual de cinema 101 para futuros génios. Mas seria injusto, o filme eleva-se a uma categoria de cânone que "é logo existe". Jesse James, o bandido, descansa em paz. Fez-se justiça na forma de um filme. Não é preciso dizer mais nada.
Casey Affleck é do cara*** neste filme (e em qualquer outro)
ResponderEliminarPeço desculpa pela linguagem...entusiasmei-me
Gena
O Casey Affleck é claramente o irmão actor. O outro já encontrou o seu sítio na realização/escrita. Neste filme é um escândalo não ter ganho Óscar de melhor secundário.
Eliminar"Arrisco dizer que não se fez nada nos últimos 20 anos sequer parecido a isto."
ResponderEliminarÉ melhor do que There Will Be Blood? Ou simplesmente diferente?
Para mim, é melhor. O There Will Be Blood é uma obra-prima, mas o Jesse James entra no meu top ten dos melhores de sempre. Está na mesma liga que filmes como Apocalypse Now, La Dolce Vita e Tokyo Story. Assumo que possam existir opiniões distintas à minha, mas não consigo compreender como no ano em que estes dois filmes saem, o Óscar de melhor filme foi para No Country For Old Men (filme espectacular, mas sem chegar aos calcanhares destes dois). Enfim, foi um bom ano para o cinema.
EliminarUm filme que AMO e que é simplesmente um estrondo... Faz realmente desse ano um dos melhores de sempre...
EliminarMAS, There Will Be Blood está no Olimpo no que toca às últimas décadas e mesmo este não passa de um discípulo... daqueles discípulos preferidos e que são muito amigos, MAS... discípulo...
Já falámos sobre isto, não é uma discussão quando estamos a falar de gigantes desta dimensão... é mero gosto...
Sendo que este pode ter um excelente Casey Affleck mas não tem um incrível Paul Dano e o melhor actor vivo a interpretar o melhor papel da vida dele... o eterno Day-Lewis. Acho que isto e a sequência final do TWBB fazem dele algo que nunca mais será feito.
PS: A cena da chegada do comboio neste filme é simplesmente uma lição de humildade para quase todos os Realizadores vivos e mortos...
É isto... quando se trata de dois filmes desta categoria, fica uma questão de opinião e perspectivas diferentes.
EliminarA cena da chegada do comboio!!!!!! Gigante!!!!!! Até me vêm as lágrimas aos olhos!!!
Está na lista de filmes "perdidos" que infelizmente nunca vi... :(
ResponderEliminarVou conseguindo ver alguns desses filmes à medida que me vão aparecendo pelas mãos, esperar que esse seja então o próximo!
Muhsroom, vê isto já!!!! É obrigatório, vais ficar apaixonada! Diz quando tiveres "comprado o dvd" :)
EliminarAcabei de ver o filme! Que verdadeira sessão de cinema! Tenho pena de não o ter visto mais cedo...
EliminarA única falha que consigo encontrar no filme é achar que é um bocadinho longo de mais, mas ainda assim vale a pena ver todos os minutos. Ainda assim, concordo com o B., para mim o TWBB consegue superar este!
E acho que assim ficam vistos os tops de filmes de 2007! :)
... e uma banda sonora de arrepiar todos os pêlinhos !!!!!!!!!!!
ResponderEliminarTinha este filme perdido na watchlist há anos, mas depois de ler este post tive de o ver. Acabei agora mesmo, e, bem... QUE FILME. Há muito que não via um filme tão bem feito! É tudo perfeito, a cinematografia, a realização, o som, a banda sonora, todas as peças encaixam perfeitamente umas nas outras. O Casey está simplesmente fenomenal. Fiquei colada à personagem dele em todas as cenas em que entra, sem conseguir desviar o olhar - e a última vez que isto me aconteceu foi precisamente quando vi o Day-Lewis no There Will Be Blood. Sinceramente, não sei dizer qual destes filmes é melhor, e também acho que não é preciso. Estão os dois no topo do que melhor se fez no cinema nos últimos anos.
ResponderEliminarSe tivesse que lhe atribuir um ponto mais fraco, seria o Brad Pitt. Eu gosto dele como actor, e reconheço-lhe talento, mas acho que este Jesse James merecia um actor com outra categoria (menos conhecido, talvez?).
Continuem com as boas sugestões! E venham mais filmes do Casey! :)
Hopscotch!: é tudo verdade, é um dos melhores filmes de sempre. só n~so posso concordar com essa questao do pitt. para mim, nem dava para escolher mais ng. casting perfeito :)
ResponderEliminarMushroom: eu disse que ias adorar! Mas fico fdd com essa historia de concordares com o B, ele nunca tem razão em nada e eu tenho em tudo. É essa a nossa dinâmica. Logo, o Jesse James é melhor que o TWBB!