Realização: Stephen Gaghan
Argumento: Stephen Gaghan
Elenco: George Clooney, Matt Damon, Jeffrey Wright, Amanda Peet, Chris Cooper, Mark Strong, Tim Blake Nelson, Christopher Plummer e William Hurt
Petróleo. O petróleo, hoje, é causa de ganância, corrupção, guerras, mortes. Mas isto não é novo. Antes era por sal, escravos, prata, cobre, ouro. Amanhã será por gás natural, cana de açucar, água. A única coisa que estas commodities têm em comum é simples: todas custam dinheiro. E quem está em cima quer dinheiro. Quem está em baixo, facilita a vida a quem está em cima por patriotismo, sentido de dever ou "idiotismo útil". E assim se vai mexendo o mundo. Motivado por interesses, cobiça, esquemas. Assim se tiram vidas, assim se comprometem nações. Os chineses com o seu dinheiro, os árabes com o seu petróleo, os muçulmanos com a sua fé, os americanos com o seu poder, os europeus em tentativas desesperadas de voltarem às glórias do passado. E, se analisarmos ao pormenor, todos desempenhamos o nosso pequeno papel na grande máquina humana. Dos políticos, aos empresários, aos jornalistas, aos advogados, médicos, farmacêuticos. Se investigarmos bem, descobrimos que o nosso canalizador tem responsabilidades na merda de mundo em que vivemos.
Syriana é um grande filme. É um filme que trata tudo, sem definir nada. É um filme que veste a pele da realidade que reflecte. Torna-se, por isso, um pouco confuso. Por não tentar transmitir uma mensagem, não tentar apontar uma culpa ou deixar uma conclusão mas, ao invés, mostrar apenas a complexa realidade do mundo em que vivemos, passando pelo papel de todas as nações, de todos os agentes económicos. No fundo, as situações descritas em Syriana são situações que, imagino, ocorrem todos os dias. Todos os dias morrem "idiotas úteis" como Bob (George Clooney). Todos os dias um advogado calculista (Jeffrey Wright) salva um oligopólio. Todos os dias se fazem fusões empresariais sob pretexto de serem consummer friendly, quando na realidade servem interesses maiores que qualquer lei de mercado. Todos os dias existem lutas de poder, casos de espionagem, vendas de armas por amigos ou amigos de inimigos. Todos os dias morre gente em nome do dinheiro, poder, religião, ressentimento. Cada dia que passa, o mundo torna-se um bocadinho menos bonito, em nome da sobrevivência dos mais fortes.
O filme envolve tantos personagens, tantas situações, tantos pormenores negociais e políticos que torna-se difícil acompanhá-los a todos em pormenor. Sugiro atenção, porque o filme merece-a. Ou talvez não seja suposto compreendermos tudo, mas irmos digerindo o que conseguimos. Porque é assim com as próprias personagens, nenhuma delas conseguindo ver "o filme todo", mas apenas a realidade que lhes está mais próxima. O objectivo, creio, é sermos apenas um espectador, não de um filme, mas de uma realidade que é demasiado variada e complexa para se compreender a fundo. O filme está cheio de grandes actores, grandes diálogos e grandes cenas. Mas um discurso, de um lobbyista interpretado por Tim Blake Nelson, parece-me uma boa forma de concluir este texto:
'Corruption charges. Corruption? Corruption ain’t nothing more than government intrusion into market efficiencies in the form of regulation. That’s Milton Friedman. He got a goddamn Nobel prize. We have laws against it precisely so we can get away with it. Corruption is our protection. Corruption is what keeps us safe and warm. Corruption is why you and I are prancing around here instead of fighting each other for scraps of meat out in the streets. Corruption... is how we win.'
Ouviram bem? 'Corruption... is how we win'.
Argumento: Stephen Gaghan
Elenco: George Clooney, Matt Damon, Jeffrey Wright, Amanda Peet, Chris Cooper, Mark Strong, Tim Blake Nelson, Christopher Plummer e William Hurt
Petróleo. O petróleo, hoje, é causa de ganância, corrupção, guerras, mortes. Mas isto não é novo. Antes era por sal, escravos, prata, cobre, ouro. Amanhã será por gás natural, cana de açucar, água. A única coisa que estas commodities têm em comum é simples: todas custam dinheiro. E quem está em cima quer dinheiro. Quem está em baixo, facilita a vida a quem está em cima por patriotismo, sentido de dever ou "idiotismo útil". E assim se vai mexendo o mundo. Motivado por interesses, cobiça, esquemas. Assim se tiram vidas, assim se comprometem nações. Os chineses com o seu dinheiro, os árabes com o seu petróleo, os muçulmanos com a sua fé, os americanos com o seu poder, os europeus em tentativas desesperadas de voltarem às glórias do passado. E, se analisarmos ao pormenor, todos desempenhamos o nosso pequeno papel na grande máquina humana. Dos políticos, aos empresários, aos jornalistas, aos advogados, médicos, farmacêuticos. Se investigarmos bem, descobrimos que o nosso canalizador tem responsabilidades na merda de mundo em que vivemos.
Syriana é um grande filme. É um filme que trata tudo, sem definir nada. É um filme que veste a pele da realidade que reflecte. Torna-se, por isso, um pouco confuso. Por não tentar transmitir uma mensagem, não tentar apontar uma culpa ou deixar uma conclusão mas, ao invés, mostrar apenas a complexa realidade do mundo em que vivemos, passando pelo papel de todas as nações, de todos os agentes económicos. No fundo, as situações descritas em Syriana são situações que, imagino, ocorrem todos os dias. Todos os dias morrem "idiotas úteis" como Bob (George Clooney). Todos os dias um advogado calculista (Jeffrey Wright) salva um oligopólio. Todos os dias se fazem fusões empresariais sob pretexto de serem consummer friendly, quando na realidade servem interesses maiores que qualquer lei de mercado. Todos os dias existem lutas de poder, casos de espionagem, vendas de armas por amigos ou amigos de inimigos. Todos os dias morre gente em nome do dinheiro, poder, religião, ressentimento. Cada dia que passa, o mundo torna-se um bocadinho menos bonito, em nome da sobrevivência dos mais fortes.
O filme envolve tantos personagens, tantas situações, tantos pormenores negociais e políticos que torna-se difícil acompanhá-los a todos em pormenor. Sugiro atenção, porque o filme merece-a. Ou talvez não seja suposto compreendermos tudo, mas irmos digerindo o que conseguimos. Porque é assim com as próprias personagens, nenhuma delas conseguindo ver "o filme todo", mas apenas a realidade que lhes está mais próxima. O objectivo, creio, é sermos apenas um espectador, não de um filme, mas de uma realidade que é demasiado variada e complexa para se compreender a fundo. O filme está cheio de grandes actores, grandes diálogos e grandes cenas. Mas um discurso, de um lobbyista interpretado por Tim Blake Nelson, parece-me uma boa forma de concluir este texto:
'Corruption charges. Corruption? Corruption ain’t nothing more than government intrusion into market efficiencies in the form of regulation. That’s Milton Friedman. He got a goddamn Nobel prize. We have laws against it precisely so we can get away with it. Corruption is our protection. Corruption is what keeps us safe and warm. Corruption is why you and I are prancing around here instead of fighting each other for scraps of meat out in the streets. Corruption... is how we win.'
Ouviram bem? 'Corruption... is how we win'.
Este filme é poderoso.
ResponderEliminarTenho uma embirração latente com a série Homeland (vá-se lá saber porquê, embirro e pronto!), que vai para lá da nulidade de representação que são Damian Lewis e Claire Danes. E é engraçado que sempre que alguém vem chatear-me a dizer-me maravilhas da série costumo soltar a mesma frase: "Perdes 2 horas a ver Syriana e poupas-te a 2 ou 3 seasons de Homeland!"
É o grande filme americano sobre as relações com o Médio Oriente.
Eu sei porque é que embirras com Homeland: porque não presta. lol Homeland é uma série no mesmo registo do Prison Break, mas mascarada de uma coisa melhor.
EliminarConcordo com esse conselho, e concordo que este é O filme sobre relações com o médio oriente. outro quase tão bom (na minha opinião) é o Body of Lies. Também um pouco ostracizado pela crítica...