Realização: Guillermo del Toro
Argumento: Travis Beacham e Guillermo del Toro
Elenco: Charlie Hunnam, Idris Elba, Charlie Day, Ron Perlman e Rinko Kikuchi
Não há nada de pequeno no novo projecto de Guillermo del Toro. Nada de modesto, simples ou minimalista. Tudo é desproporcionado, caótico, gigante. À partida, isso não costuma funcionar como chamariz - pelo menos para mim. Se vejo um trailer em que robôs gigantes combatem monstros vindos das profundezas do oceano pacífico, a primeira reacção é torcer o nariz. Há uns anos atrás não seria assim. Quando era mais novo gostava tanto mais de um filme quanto maiores fossem os seus protagonistas e as suas explosões. Inevitavelmente, com a idade, os gostos começaram a mudar e parece-me que a qualidade dos filmes em questão também. A saga Star Wars transformou-se numa banhada cujo único ponto a favor é vermos a Natalie em fato de licra branco, e o remake do Godzilla fez-nos acreditar que secalhar já não tinhamos idade para estas merdas. Mas eis que chega Pacific Rim.
Del Toro quis dar-nos um épico blockbuster, com tudo aquilo a que temos direito - e mais. O formato híper-CGI, a banda sonora eléctrico-monstruosa, as porradas juro-por-Deus-mais-fixes-do-mundo fizeram-me sentir uma criança de 10 anos, colado ao sofá, de olhos arregalados para a fantástica brutalidade do cinema. Mas, e como se isto não fosse já suficiente, Pacific Rim esconde uma homenagem de um cineasta digital ao cinema analógico. É que a acção do filme esconde uma profundidade humana cuja mensagem principal é precisamente "o digital é sobrevalorizado, vamos voltar ao humano". Enquanto todos os Jaegers (robôs gigantes pilotados por dois humanos) digitais deixam de funcionar, a fé da humanidade resta no único Jaeger analógico e nos únicos pilotos com falhas humanas. E esta é uma homenagem, ainda falta o resto. Podem encontrar-se homenagens ao Metropolis de Fritz Lang, ao Evangelion dos anime-geeks, ao Frankenstein de Shelley, à Alice de Carroll, a Philip K. Dick. Meu Deus! E tudo feito com tão bom gosto, que se torna impossível não adorar.
E depois, temos a história. O ponto alto de Pacific Rim não são os efeitos espectaculares, a acção sempre surpreendente e inovadora, as referências geek-literárias ou os actores escolhidos a dedo (Charlie Day é um comic-relief fabuloso e Idris Elba é um dos homens com mais presença do cinema moderno). Não, o ponto alto de Pacific Rim é aquilo em que nos faz pensar nos intervalos da porrada. Pacific Rim, o paraíso CGI, é sobre relações humanas. Para guiar um Jaeger, são necessárias duas pessoas compatíveis em termos de memórias, de sentimentos, de intelecto, de combate e de alma. Em vez de cada uma das pessoas comandar uma parte do robô, ambos controlam o robô inteiro em sintonia. Para isso, é necessário um handshake que não é mais que um elo perfeito entre dois humanos. E, quando se perdem numa memória, diz-se que estão a "perseguir o coelho" - uma fantástica referência ao mundo de Lewis Carroll. Tudo neste filme sugere cooperação, coabitação. As nações metem os seus problemas de lado para combater a invasão, inimigos tornam-se amigos, dois cientistas percebem que não contam só os números nem só a biologia - têm que trabalhar em conjunto. A relação entre os dois protagonistas não é tanto amorosa mas mais afectiva, de compreensão e carinho. Tudo neste filme é sobre o ser-humano, por mais robôs e monstros que tenha. Quanto a mim, Del Toro está de parabéns. Se era um épico que queria, foi um épico que teve.
Golpes Altos: A inovação, a tecnologia, as homenagens, a história, os personagens, os conflitos, as porradas, as relações, os monstros, os robôs - a imaginação!
Golpes Baixos: A chinesa podia ser melhor actriz e Charlie Hunnam volta a mostrar o quão difícil é para um inglês fazer sotaque americano sem parecer um anormal.
Argumento: Travis Beacham e Guillermo del Toro
Elenco: Charlie Hunnam, Idris Elba, Charlie Day, Ron Perlman e Rinko Kikuchi
Não há nada de pequeno no novo projecto de Guillermo del Toro. Nada de modesto, simples ou minimalista. Tudo é desproporcionado, caótico, gigante. À partida, isso não costuma funcionar como chamariz - pelo menos para mim. Se vejo um trailer em que robôs gigantes combatem monstros vindos das profundezas do oceano pacífico, a primeira reacção é torcer o nariz. Há uns anos atrás não seria assim. Quando era mais novo gostava tanto mais de um filme quanto maiores fossem os seus protagonistas e as suas explosões. Inevitavelmente, com a idade, os gostos começaram a mudar e parece-me que a qualidade dos filmes em questão também. A saga Star Wars transformou-se numa banhada cujo único ponto a favor é vermos a Natalie em fato de licra branco, e o remake do Godzilla fez-nos acreditar que secalhar já não tinhamos idade para estas merdas. Mas eis que chega Pacific Rim.
Del Toro quis dar-nos um épico blockbuster, com tudo aquilo a que temos direito - e mais. O formato híper-CGI, a banda sonora eléctrico-monstruosa, as porradas juro-por-Deus-mais-fixes-do-mundo fizeram-me sentir uma criança de 10 anos, colado ao sofá, de olhos arregalados para a fantástica brutalidade do cinema. Mas, e como se isto não fosse já suficiente, Pacific Rim esconde uma homenagem de um cineasta digital ao cinema analógico. É que a acção do filme esconde uma profundidade humana cuja mensagem principal é precisamente "o digital é sobrevalorizado, vamos voltar ao humano". Enquanto todos os Jaegers (robôs gigantes pilotados por dois humanos) digitais deixam de funcionar, a fé da humanidade resta no único Jaeger analógico e nos únicos pilotos com falhas humanas. E esta é uma homenagem, ainda falta o resto. Podem encontrar-se homenagens ao Metropolis de Fritz Lang, ao Evangelion dos anime-geeks, ao Frankenstein de Shelley, à Alice de Carroll, a Philip K. Dick. Meu Deus! E tudo feito com tão bom gosto, que se torna impossível não adorar.
E depois, temos a história. O ponto alto de Pacific Rim não são os efeitos espectaculares, a acção sempre surpreendente e inovadora, as referências geek-literárias ou os actores escolhidos a dedo (Charlie Day é um comic-relief fabuloso e Idris Elba é um dos homens com mais presença do cinema moderno). Não, o ponto alto de Pacific Rim é aquilo em que nos faz pensar nos intervalos da porrada. Pacific Rim, o paraíso CGI, é sobre relações humanas. Para guiar um Jaeger, são necessárias duas pessoas compatíveis em termos de memórias, de sentimentos, de intelecto, de combate e de alma. Em vez de cada uma das pessoas comandar uma parte do robô, ambos controlam o robô inteiro em sintonia. Para isso, é necessário um handshake que não é mais que um elo perfeito entre dois humanos. E, quando se perdem numa memória, diz-se que estão a "perseguir o coelho" - uma fantástica referência ao mundo de Lewis Carroll. Tudo neste filme sugere cooperação, coabitação. As nações metem os seus problemas de lado para combater a invasão, inimigos tornam-se amigos, dois cientistas percebem que não contam só os números nem só a biologia - têm que trabalhar em conjunto. A relação entre os dois protagonistas não é tanto amorosa mas mais afectiva, de compreensão e carinho. Tudo neste filme é sobre o ser-humano, por mais robôs e monstros que tenha. Quanto a mim, Del Toro está de parabéns. Se era um épico que queria, foi um épico que teve.
Golpes Altos: A inovação, a tecnologia, as homenagens, a história, os personagens, os conflitos, as porradas, as relações, os monstros, os robôs - a imaginação!
Golpes Baixos: A chinesa podia ser melhor actriz e Charlie Hunnam volta a mostrar o quão difícil é para um inglês fazer sotaque americano sem parecer um anormal.
golpe baixo é é dizer que é chinesa!
ResponderEliminarchinesa, japonesa, coreana, árabe, qual é a diferença? :P
EliminarDe facto a gaja era fraquinha.
Eliminarverdade, assim como brasileiros, mexicanos, bolivianos e argentinos são todos iguais :D
EliminarO que gostei menos neste filme foram os dialogos. Muitos deles demasiado cliché. Mas tirando isso gostei do filme.
ResponderEliminar"...o quão difícil é para um inglês fazer sotaque americano sem parecer um anormal"
Só tenho uma resposta para ti: Hugh Laurie :P
É verdade, alguns conseguem. Mas o Hunnam é muito fraquinho também. Boa actriz é a japonesa pequenina! Até me fez impressão como é que metem uma miuda tao pequena a chorar daquela maneira.
EliminarNão achei os diálogos fraquinhos, achei-os adequados ao tipo de filme e até bastante consonantes com a narrativa. Mas claro que estão longe de serem brilhantes, também não é suposto.
Vi ontem e adorei! Que espetacularidade de filme! =D
ResponderEliminarConcordo com toda a análise que fizeste, sem dúvida que o Del Toro tem aqui um épico, também achei muito bem conseguida a cena com a "japonesa pequenina". O Charlie Day foi o que mais me fez rir quando vi o Horrible Bosses e acho que a dupla dele com o Burn Gorman neste filme está brilhante.
No final de tudo só tenho de discordar contigo numa coisa... Charlie Hunnam! Eu gostei bastante de tudo o que vi em relação a essa personagem! LOOL
Claaaaaro que não achaste falhas no bronco do Hunnam :P Mas a verdade é que ele, já que insiste em fazer filmes, ao menos que faça de inglês para não parecer um trissómico.
Eliminar*Tronco! Se achas que é mau a pronúncia dele a tentar falar americano, tens de ver o Killing Season e ver o Travolta a tentar falar uma mistura arranhada de americano+servo! :P
EliminarEpah vi o trailer disso e pareceu-me terrível! 'Tou fora! :P para além de que se vejo mais uma vez o DeNiro á frente corto os pulsos.
EliminarSim, é muito mau! Não perdes nada... loool
EliminarOh Garrido, "Epah vi o trailer disso e pareceu-me terrível! 'Tou fora!"... Se fizesses isto com o Pacific Rim nunca o tinhas visto!
EliminarÉ verdade... Mas o trailer do Pacific Rim era pouco exempleficativo do filme em si, era muito baseado nos efeitos e tal. O trailer do Killing Season tem diálogos tão maus que eu prefiro ignorar. Para além de que tem o "DeNiro Velho" que é lixo cinematográfico ;)
EliminarIsto é um high tech monster movie, pelo menos no meu livro. Vale pela espectacularidade e pelo gigantismo, quer de máquinas, quer de monstros. É uma espécie de Transformers vs Godzilla, mas com a vantagem de não termos que levar com o Matthew Broderick e o Shia dos Bofes.
ResponderEliminarÉ por isso que eu dou o desconto à história, aos diálogos e à formulação básica dos personagens. Eu fui lá para ver porradinha da boa e da antiga, mas na versão mais moderna que há.
E por falar em ingleses a falar "americano", no mesmo filme tens o Idris Elba, que é um actor do caraças que se vai entretendo a ganhar uns cobres sem suar muito em filmes do género (ver Prometheus).