Realizador: Quentin Tarantino
Argumento: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Kerry Washington e Leonardo DiCaprio
Não sou um fã de Tarantino, confesso. Para mim, tudo o que ele fez entre o Pulp Fiction e o Inglourious Basterds foi lixo - pura e simplesmente lixo. Jackie Brown é um mau filme de domingo à tarde - com a agravante de ter a Pam Grier como actriz principal - os Kill Bills são exercícios estéticos para nerds de anime sem qualquer valor cinematográfico, e prefiro não falar no Death Proof (para mim, não há nada mais irritante do que o conceito "é tão mau que é bom").
Dito isto, Django Unchained é uma obra-prima. Se é verdade que desisti de esperar pelo regresso do Tarantino de Reservoir Dogs e Pulp Fiction, também é verdade que estou a ver crescer um novo Tarantino - reinventado, mas sempre fiel a si mesmo.
O novo mote de Tarantino é "vingança, com estilo". Em Inglourious Basterds vimos um grupo de Judeus a encher a mala a Nazis e, imagine-se, a matar o próprio Fuhrer. "The Revenge of the Giant Head" foi o último capítulo desse filme, e aquele utilizado por Tarantino para re-escrever a História. É giro isso. Gosto da ideia! E agora vimo-lo a açoitar os cabrões dos fazendeiros sulistas que escravizaram milhares de negros antes da Guerra da Secessão. A meu ver, isto é uma premissa perfeitamente legítima para se fazer um filme. E fazê-lo com esta qualidade de diálogos, de realização, de banda-sonora, de actores, de tudo. Isto é cinema.
Desvalorizo categoricamente (como dizem os nossos políticos) toda e qualquer polémica levantada. Seja o excesso de violência que hipoteticamente resulta nos massacres de Columbine e Colorado, seja o uso constante da palavra nigger (desculpa Spike Lee, prometo que não repito) que provavelmente até está fiel à época social retratada. Desvalorizo tudo. Tarantino tem razão: arte é arte, e não deve ser misturada com política, religião, moral ou puritanismos de trazer por casa. Se for bem feita, eu gosto.
Para além de tudo isso, é óbvia a intenção de Tarantino ridicularizar os fazendeiros do Sul - ignorantes mas de "tendências francófonas" -, demonizar os negros traficantes de escravos - 'worst kinda nigger there is' - e, por outro lado, fazer as pazes com os alemães tão massacrados no seu último filme. É engraçado perceber isto. Se Christoph Waltz foi um alemão detestável nos Basterds, agora é o alemão adjuvante, sem o qual Django nunca poderia ter salvo a sua Broomhilda. Será isto por acaso? Não me parece. Tal como não é por acaso o nome Broomhilda Von Shaft estar associado a uma negra escrava. Ou Django ser comparado a Siegfried, o herói dos Nibelungos outrora utilizado para enaltecer o 3ºReich - Wagner ficaria para sempre manchado pelos Nazis, mas Tarantino salvou-o?!
Reparei ainda noutra cena de relevante ressalve. Lembram-se quando a cavalaria do KKK desce a colina gloriosamente para emboscar Django e Schultz? Ora bem, essa cena é decalcada de uma das cenas mais controversas da história do cinema. Passo a explicar. D W Griffith é considerado o pai do cinema, mas na realidade era um racista nojento do Kentucky, cuja principal obra é uma autêntica ode ao Ku Klux Klan. O que Tarantino faz, é uma cavalgada igual à de Griffith, interrompida a meio (numa espécie de "corte cómico"), e intercalada com uma das cenas mais cómicas do filme, em que os membros do KKK discutem os buracos mal-cortados nas suas máscaras. Brilhante!
E agora vou-me deixar de conteúdo político, e vou ao que interessa. É um spaghetti western reinventado. Tem Franco Nero (o primeiro Django do cinema), tem muitos tiros, muitos durões de barba rija, muita música country e, imagine-se, muito hip-hop. Com este filme, Tarantino mostrou-me que se pode fazer um grande filme, com muita piada, muito sangue e muito exagero. Basicamente, Django Unchained tem muito tudo, e não lhe falta nada.
Destaco ainda as interpretações incríveis de Leonardo DiCaprio (para quem dizia que ele fazia sempre o mesmo papel), Samuel L. Jackson (também para quem dizia que fazia sempre o mesmo papel) e Walton Goggins (parece que é um dos actores mais requisitados de 2012, e justamente).
Django Unchained é para se ver no cinema, com muitas pipocas e alguma resistência a sangue. Mas aguentem-se, porque vale a pena.
Golpes Altos: Argumento de um western clássico com um toque de autor. Kerry Washington é definitivamente um dos amores da minha vida. Banda-sonora espectacular.
Golpes Baixos: Não adoro o Jamie Foxx, mas confesso que aqui não está mal. Um bocadinho menos de sangue? Não, caga nisso. 'Tá bom assim.
Golpes Curiosos: O actor que faz de Butch é o mesmo que faz de um dos irmãos Speck (parece que o Tarantino gosta tanto dele que não o quis matar logo no início)
Argumento: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Kerry Washington e Leonardo DiCaprio
Não sou um fã de Tarantino, confesso. Para mim, tudo o que ele fez entre o Pulp Fiction e o Inglourious Basterds foi lixo - pura e simplesmente lixo. Jackie Brown é um mau filme de domingo à tarde - com a agravante de ter a Pam Grier como actriz principal - os Kill Bills são exercícios estéticos para nerds de anime sem qualquer valor cinematográfico, e prefiro não falar no Death Proof (para mim, não há nada mais irritante do que o conceito "é tão mau que é bom").
Dito isto, Django Unchained é uma obra-prima. Se é verdade que desisti de esperar pelo regresso do Tarantino de Reservoir Dogs e Pulp Fiction, também é verdade que estou a ver crescer um novo Tarantino - reinventado, mas sempre fiel a si mesmo.
O novo mote de Tarantino é "vingança, com estilo". Em Inglourious Basterds vimos um grupo de Judeus a encher a mala a Nazis e, imagine-se, a matar o próprio Fuhrer. "The Revenge of the Giant Head" foi o último capítulo desse filme, e aquele utilizado por Tarantino para re-escrever a História. É giro isso. Gosto da ideia! E agora vimo-lo a açoitar os cabrões dos fazendeiros sulistas que escravizaram milhares de negros antes da Guerra da Secessão. A meu ver, isto é uma premissa perfeitamente legítima para se fazer um filme. E fazê-lo com esta qualidade de diálogos, de realização, de banda-sonora, de actores, de tudo. Isto é cinema.
Desvalorizo categoricamente (como dizem os nossos políticos) toda e qualquer polémica levantada. Seja o excesso de violência que hipoteticamente resulta nos massacres de Columbine e Colorado, seja o uso constante da palavra nigger (desculpa Spike Lee, prometo que não repito) que provavelmente até está fiel à época social retratada. Desvalorizo tudo. Tarantino tem razão: arte é arte, e não deve ser misturada com política, religião, moral ou puritanismos de trazer por casa. Se for bem feita, eu gosto.
Para além de tudo isso, é óbvia a intenção de Tarantino ridicularizar os fazendeiros do Sul - ignorantes mas de "tendências francófonas" -, demonizar os negros traficantes de escravos - 'worst kinda nigger there is' - e, por outro lado, fazer as pazes com os alemães tão massacrados no seu último filme. É engraçado perceber isto. Se Christoph Waltz foi um alemão detestável nos Basterds, agora é o alemão adjuvante, sem o qual Django nunca poderia ter salvo a sua Broomhilda. Será isto por acaso? Não me parece. Tal como não é por acaso o nome Broomhilda Von Shaft estar associado a uma negra escrava. Ou Django ser comparado a Siegfried, o herói dos Nibelungos outrora utilizado para enaltecer o 3ºReich - Wagner ficaria para sempre manchado pelos Nazis, mas Tarantino salvou-o?!
Reparei ainda noutra cena de relevante ressalve. Lembram-se quando a cavalaria do KKK desce a colina gloriosamente para emboscar Django e Schultz? Ora bem, essa cena é decalcada de uma das cenas mais controversas da história do cinema. Passo a explicar. D W Griffith é considerado o pai do cinema, mas na realidade era um racista nojento do Kentucky, cuja principal obra é uma autêntica ode ao Ku Klux Klan. O que Tarantino faz, é uma cavalgada igual à de Griffith, interrompida a meio (numa espécie de "corte cómico"), e intercalada com uma das cenas mais cómicas do filme, em que os membros do KKK discutem os buracos mal-cortados nas suas máscaras. Brilhante!
E agora vou-me deixar de conteúdo político, e vou ao que interessa. É um spaghetti western reinventado. Tem Franco Nero (o primeiro Django do cinema), tem muitos tiros, muitos durões de barba rija, muita música country e, imagine-se, muito hip-hop. Com este filme, Tarantino mostrou-me que se pode fazer um grande filme, com muita piada, muito sangue e muito exagero. Basicamente, Django Unchained tem muito tudo, e não lhe falta nada.
Destaco ainda as interpretações incríveis de Leonardo DiCaprio (para quem dizia que ele fazia sempre o mesmo papel), Samuel L. Jackson (também para quem dizia que fazia sempre o mesmo papel) e Walton Goggins (parece que é um dos actores mais requisitados de 2012, e justamente).
Django Unchained é para se ver no cinema, com muitas pipocas e alguma resistência a sangue. Mas aguentem-se, porque vale a pena.
Golpes Altos: Argumento de um western clássico com um toque de autor. Kerry Washington é definitivamente um dos amores da minha vida. Banda-sonora espectacular.
Golpes Baixos: Não adoro o Jamie Foxx, mas confesso que aqui não está mal. Um bocadinho menos de sangue? Não, caga nisso. 'Tá bom assim.
Golpes Curiosos: O actor que faz de Butch é o mesmo que faz de um dos irmãos Speck (parece que o Tarantino gosta tanto dele que não o quis matar logo no início)
No dia em que fomos ver o Django tive essa discussão com o respectivo: O Death Proof não é um filme genial. E explicar isto?!
ResponderEliminarCheguei a perguntar se tivesse de escolher entre existir o Sin City por exemplo, ou o Death Proof, qual preferia, e responder o Death Proof à mesma.
Sem diálogo possível.
Para mim o melhor de Tarantino continua a ser o Inglorious Basterds, seguido de Pulp Fiction, Django e depois os Kill Bill (que eu gosto, por vá ser fã do género anime ;)).
Ahah estas minhas opiniões também raramente encontram consenso. Toda a gente que eu conheço adora Death Proof e Kill Bill's e etc. Eu continuo a achar que os Reservoir Dogs foi a obra-prima do Tarantino, e no dia em que a superar vai ser o dia em que se vai superar a si próprio.
ResponderEliminarPS - Sin City é fixe!
Falha minha: ainda não vi o Reservoir dogs. Mas está na lista, está na lista.
ResponderEliminarEste filme é uma maravilha e foi com muito gosto que vi contigo oh buddy (na verdade não porque és dos que leva coisas para comer e insiste em mastigar de boca aberta...).
ResponderEliminarCueca, é de louvar a coragem que tiveste para assumir que nunca viste tamanha obra da 7ª arte, quase tão louvável como o buddy gostar assumidamente do Lendas de Paixão.
PS: buddy, o Jackie Brown é um excelente filme onde ele se superou até esteticamente. Foi um risco por mim acertado e um excelente exercício. A actriz principal... ela é actriz? Péssima...
1º O Lendas de Paixão é um clássico imemorial e uma grande obra de cinema!
ResponderEliminar2º Jackie Brown é horrível (mais um grande papel do DeNiro?)
3º Também comeste das minhas gomas oh porco!
"Para mim, tudo o que ele fez entre o Pulp Fiction e o Inglourious Basterds foi lixo - pura e simplesmente lixo."
ResponderEliminarAté que enfim que encontro alguém que partilha da mesma opinião! Fogo, estava a pensar que era impossível... :P
Ainda não consegui ir ver o filme, mas estou curiosa, ver se não deixo passar mais uma semana! ;)
Buddy, os Kill Bill não têm valor cinematográfico?! Quero tanto concordar sempre com as tuas opiniões...:)
ResponderEliminarRespeito e admito a qualidade de Reservoir Dogs, mas a obra-prima foi, é e será, SEMPRE, Pulp Fiction.
Ahahah JP pah já sabes o que a casa gasta... Avisei à partida que tenho opiniões pouco consensuais, mas são genuínas. Os Kill-Bills são possivelmente um dos maiores ódios de estimação que eu tenho no cinema, mas também anda lado-a-lado com o meu ódio de estimação pelos anime, pelo kung-fu, pelo Naruto e pela Uma Thurman.
ResponderEliminarRelativamente ao Pulp Fiction, é indiscutivelmente o filme mais marcante do Tarantino. É um filme que vale pelo impacto que teve e pelo que veio acrescentar ao cinema. Mas vamos pôr os pontos nos i's... não chega aos calcanhares (sim, estou a medir bem as minhas palavras) do Reservoir Dogs. Este é indiscutivelmente o seu magnus opus.
Ódio pela Uma Thurman é coisa que não tenho de todo! Talvez ódio por nunca ter-me cruzado com ela na noite, mas ódio pela moça nem vê-lo, lol!
ResponderEliminarMas entendo-te bem, ódiozinhos de estimação todos temos. Um dia podia falar-te do que acho do Begnini...:)
P.S. - Repito exactamente o que disse anteriormente: respeito e admito a qualidade de Reservoir Dogs, mas a obra-prima foi, é e será, SEMPRE, Pulp Fiction.
o Begnini é um dos grandes cismas do séc. XXI, lado a lado com o 11 de Setembro. E odeio a merda da Vida é Bela.
ResponderEliminarQuanto ao segundo assunto: Não não não!!!!!
Adoro-te, adoro-te, adoro-te!! És a segunda pessoa que conheço (após ter-me conhecido) que odeia A Vida é Bela! Que merda de filme, foda-se!
ResponderEliminarObrigado!! Já te disse que te adoro?!
Sabia que ias encontrar "escolta" no buddy em relação a esse filme, mas acautela as palavras porque o Lendas de Paixão é dos filmes da vida dele...
ResponderEliminarCALMA! :)
PS: O Begnini é um ser um pouco irritante mas A Vida é Bela é do caralho! Mete o Pianista num chinelo que é um filme que me irrita solenemente... não é sequer um filme muito bom. Bora lá atirar velhos da janela para chocar.
Odeio o Pianista tanto como odeio a Vida é Bela. São dois filmes que me irritam solenemente. Quanto ao Lendas de Paixão... ÉPICO!!!
ResponderEliminarTambém não adoro The Pianist, é muita parra e pouca uva. Mas o Brody - que também não adoro, irrita-me até - vai forte, isso é indesmentível.
ResponderEliminarSempre gostei do Polanski naquela narrativa obsessiva e maquiavélica, com tiradas mordazes e cenas incómodas, mas sempre numa estória e num ambiente mais intimistas, manobrados por 3 ou 4 pessoas. Frantic, Bitter Moon ou Carnage óptimos exemplos disso. A ideia com que fico é que a 2ª Guerra Mundial e o Holocausto foram muita matéria para o registo que consegue trabalhar melhor e "afogou-se". Ficou só um óptimo papel do Brody.
JP 'tás a evitar falar sobre o Lendas de Paixão?
ResponderEliminarLol, não, não estou. É um bom filme, vi-o com 17 ou 18 anos e achei-o um épico memorável e hoje, à beira dos 30, já não tenho essa ideia.
ResponderEliminarMas não odeio o filme, longe disso. Acho-o até, como disse anteriormente, um bom filme. É uma odisseia bem contada. A puxar um pouco à novela e consequentemente à lágrima fácil, mas tem qualidade.
B. ouviste isto? Eat it fuckface! Lendas de Paixão é "um épico memorável". Obrigado JP!
ResponderEliminarEu adorei o Django. Tudo no filme. Os actores, as cenas, enfim, eu gosto muito do Tarantino, só me falta ver o Inglorious.
ResponderEliminarTens que ver o Inglorious! :)
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