domingo, 3 de fevereiro de 2013

Golpes Indie - Celeste and Jesse Forever

Realização: Lee Toland Krieger
Argumento: Rashida Jones
Elenco: Rashida Jones, Andy Samberg, Elijah Wood, Chris Messina, Emma Roberts

Gostava de começar este texto com a premissa de que "este foi um ano especialmente bom para o cinema independente". Era uma boa maneira de introduzir este filme (e esta rubrica), mas não me parece legítimo. A verdade é que não me lembro do último ano em que os box office superaram os filmes indie.

Eu até desenvolvi um sistema. Utilizo anualmente o cinema independente para colmatar as frustrações e desilusões causadas pelos Óscares. Este ano não foi diferente.

Celeste and Jesse Forever é uma comédia romântica independente que sai quase totalmente do bolso de Rashida Jones. Quem é fã da série Office deve lembrar-se do seu début como "a gaja gira e fixe que ia estragando a série", mas quem tem acompanhado mais de perto a sua carreira está em riscos de se apaixonar pela mulher, e pela artista. Ela não se limita a protagonizar este filme, escreve-o também - uma comédia romântica, escrita por uma mulher para uma mulher, corre sérios riscos de se tornar uma comédia romântica para mulheres. Mas não. Rashida superou-se.

Celeste and Jesse parte de uma longa tradição de filmes de melhores amigos que se tornam namorados, mas inverte-a, e toca num ponto desconfortável. E namorados que se tornam melhores amigos? Pode parecer um lugar comum, mas é um daqueles que ninguém faz questão de explorar. É um assunto sórdido, e vai ser difícil mexer-lhe sem sujar as mãos.

Talvez por isso Celeste and Jesse não seja um filme cómico, nem um filme romântico. É um filme realista, e até demasiado duro para o formato que o envolve. E assim se torna uma boa ideia num bom argumento, junta-se uma boa realização - com um filtro de cores que fará os amantes do independente sentirem-se em casa -, um excelente elenco, escolhido a dedo, e uma banda-sonora tão alternativa quanto o filme, e temos a melhor comédia romântica do ano - mesmo que não tão cómica, e muito pouco romântica.

Para quem gostar do filme, aconselho espreitarem outro do mesmo realizador. Chama-se The Vicious Kind, e não os desiludirá. Só não esperem de Celeste and Jesse um filme leve e fixe, para ver com a namorada(o). Vai deixar-vos melancólicos, com um travo amargo na garganta - mas se o cinema é feito de memórias e sonhos, então Celeste and Jesse são seus dignos representantes.

Golpes Altos: Argumento, elenco secundário, banda-sonora, realização.
Golpes Baixos: Andy Samberg não é um excelente actor, mas neste filme também não precisa - a Rashida trata do resto.

28 comentários:

  1. "Utilizo anualmente o cinema independente para colmatar as frustrações e desilusões causadas pelos Óscares." AHAHAHAHAHHAH tanto pseudo intelectualismo...

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  2. Não, não. Não é pseudo. Gosto de ver o meu intelecto como um todo. Mas tens razão, os Óscares são uma cerimónia nobre e que reúne o melhor que se faz no cinema internacional. Espero que este ano ganhem os Miseráveis.

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  3. O buddy, também deixas entrar ursos? Eu disse-te para fechares a porta...

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  4. Realmente esses pseudo-intelectuais que não gostam dos Óscares e utilizam hífens para ligar palavras metem-me nojo... nojo!

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  5. A sério?! Eu podia pôr aqui uma lista dos filmes nomeados e premiados pela academia ao longo dos anos e todos iríamos constatar que são os maiores nomes da história do cinema. E agora pergunto: O que é que vão fazer na madrugada de 24 de Fevereiro?

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  6. Já vi o filme e também adorei! Muito bem conseguido, surpreendeu-me pela positiva!
    "Utilizo anualmente o cinema independente para colmatar as frustrações e desilusões causadas pelos Óscares." True story! :P

    Vou por o The Vicious Kind na watchlist! ;)

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  7. Anónimo, não podíamos constatar nada disso. O que podemos constatar é que para dizeres uma anormalidade dessas não percebes um cu de cinema. Vou só largar aqui alguns erros cómicos da Academia ao longo dos tempos (top of my head).

    Em 1941 ganhou o óscar de melhor filme "How Green Was My Valley" - nesse mesmo ano concorreu o Citizen Kane, que viria a ser considerado o melhor filme de sempre.
    ´
    Em 1963 ganhou melhor cinematografia o filme Cleopatra - nesse ano saíram filmes como o 8 1/5 do Fellini e o Leopardo do Viscontti (nenhum deles foi sequer nomeado).

    E, para não chatear muito, vou só referir aqui alguns Óscares de melhor filme que devem ficar para sempre na nossa memória: Titanic, Chicago, Shakespeare in Love, Mente Brilhante...

    Podia continuar a contar a triste história dos Óscares, mas é tarde e 'tou cansado. Anónimo, sabes o que separa um intelectual dum pseudo-intelectual? É que, enquanto o primeiro afirma o que sabe, o segundo afirma por fé ou fanfarronice. Não sei se és burro ou fanfarrão, mas devias ter mais cuidado com a merda que dizes.


    Mushroom, vê o The Vicious Kind, vais curtir. É mais pesado, mas igualmente bom ;)

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  8. http://pt.wikipedia.org/wiki/Citizen_Kane
    http://en.wikipedia.org/wiki/8%C2%BD
    http://shintocine.blogspot.pt/2009/10/vencedores-do-oscar-de-melhor-filme.html

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  9. Citizen Kane: esse artigo da wikipedia está mal. Ele só ganhou óscar de melhor argumento, o melhor filme foi o How Green Was My Valley. Não acredites em tudo o que lês na wikipedia, é tão fidedigna quanto a Academia.

    O resto é a lista de melhores filmes estrangeiros... eu falei em "cinematografia" para o 8 1/5, não "melhor filme estrangeiro".

    A sério, desiste.

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  10. Vai aqui uma discussão engraçada! Qualquer pessoa que perceba minimamente de cinema sabe que os Oscars são sempre aquela banhada do costume!
    Ainda me lembro em 2002, quando o Mente Brilhante ganhou melhor filme, haver imensa polémica porque nunca nenhum actor ou actriz de cor tinha ganho um óscar para melhor actor/actriz principal (à excepção do Sidney Poitier), nesse ano os óscares foram para a Halle Berry e para o Denzel Washington. Coincidência?
    E nem é preciso ir mais longe, basta ver a lista deste ano para Best Directing e ver que o nome do Ben Affleck não aparece lá!

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  11. Sim os "votos politicamente correctos" são uma constante nos Óscares. E nem sabia que ainda havia malta a defender a cerimónia. Os Óscares nunca foram justos, Cannes já foi e já não é. Agora resta-nos o Berlinale e Sundance para premiarem o que de bom se faz no cinema internacional. Resta saber até quando...

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  12. Nem tanto ao mar nem tanto à terra...

    Os Óscares galardoaram 90% dos melhores filmes de sempre... Estarmos a dizer que são uma merda porque se esqueceram de mencionar 10%... É preciso ter muita calma!

    Agora, há anos gritantes... O Ragging Bull perder para o Ordinary People ou o Rocky ganhar ao Taxi Driver...

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  13. Não digo que não haja Óscares bem atribuídos, claro que há! Mas todos os anos há grandes filmes ou grandes actores/realizadores/cinematógrafos que são completamente ignorados!

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  14. 90%? No way Jose! Na minha lista dos 10 melhores de sempre praticamente nenhum foi sequer nomeado, e os que foram foi como o La Dolce Vita: "Melhor Guarda-Roupa". Os Óscares são uma piada de mau gosto.

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  15. É cómico, é romântico e é realista... é isso tudo! Não é só realista.
    Gostei mesmo deste filme, mas eu sou target destas coisas.

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  16. Sim, mas percebeste o que quis dizer... é uma espécie de anti-herói das comédias românticas... acaba mal :/

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  17. O fim é o meu favorito... Não os queria juntos e isso ia rebentar o filme todo.
    A outra é mais gira e o outro é o maior!

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  18. Não... eu queria-os juntos. É o meu soft-spot

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  19. Hitchcock e Kubrick nunca venceram um Óscar de Melhor Filme, Melhor Realizador ou Melhor Argumento Original ou Adaptado.
    A cerimónia da Academia SEMPRE se moveu sob interesses económicos, políticos, sociais e até raciais mas regra geral, até há umas décadas atrás, mantinha a dignidade. Hoje em dia os critérios são só risíveis.

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  20. Eu sei que se propagou a ideia de que a academia é um bando de gente burra e submetida a interesses, mas não é bem assim. Basta comparar as nomeações e os prémios atribuídos pela academia com as nomeações e os prémios atribuídos por outros. E não nos devemos deter apenas neste ou noutro caso, mas sim no geral.
    Rebecca ganhou o Oscar de melhor filme em 1940 ( se não estou em erro ) e Kubrick, justiça seja feita, poucos reconheceram mais o seu trabalho do que a academia com inúmeras nomeações ao longo dos anos e talvez hoje não conhecêssemos tão bem a sua obra se assim não fosse. Porque os Oscars também servem para isso, divulgar bons filmes, realizadores, actores, etc (ou menos bons, como queiram) ao grande público e não apenas a um público mais informado.
    Pessoalmente, nem sempre concordo com as decisões da academia, mas reconheço -lhe o mérito. Por exemplo, gostava de ver O Mestre nomeado para melhor argumento original, mas também consigo entender porque não está. É um argumento demasiado aberto e cerebral que provoca várias sensações. É um magistral trabalho artístico, mas a nível cinematográfico falta-lhe corpo, matéria, é demasiado subtil e até curto no enredo ou demasiado plano, é basicamente um trabalho de actores. Não é à toa que Argo está a ganhar tudo. O cinema, gostemos ou não, é talvez a arte que menos admite abstraccionismo. No meu ponto de vista há cinema e há filmes. Nem sempre um filme é cinema.

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  21. Mea culpa, realmente Rebecca foi Melhor Filme em 41. Mas é engraçado tendo em conta que falamos do realizador de Rear Window, Vertigo, Psycho. Quanto a Kubrick, dizer que a Academia tem imenso mérito e foi extremamente reconhecedora e agradecida ao fazer de uma espécie de IMDb para um dos maiores - e porventura o mais inovador e vanguardista - realizadores norte-americanos deixa-me enternecido, no mínimo.
    Quanto aos últimos parágrafos, perdi-me no meio de tanta opinião radicalmente diferente da minha. Por pontos: 1) se há coisa que caracteriza The Master é ser duro, denso, complexo, onde temos de mastigar e digerir lentamente a temática e o trauma e o delírio inerentes à mesma. Dizer que não tem corpo, matéria e chamar-lhe até plano, resumindo-o a um trabalho de actores, é para mim sinal de que entrámos em salas de cinema diferentes; 2) Argo pode ganhar todos os prémios e mais algum que nunca deixará de ser uma obra artística, peça de cinema ou simplesmente filme - conforme o termo que preferir(em) - banal. Simplesmente isso, banal. Louva-se a vontade de contar uma história verídica duma forma séria, simples, humilde até, mas não vai para lá do mediano. E com uns últimos 30 minutos algures entre o atroz, risível e confrangedor; 3) Se o cinema é talvez a arte que menos admite abstraccionismo onde colocamos gente como Lang ou Ophüls, a Nouvelle Vague, Kubrick ou Malick?

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  22. Não acho o argumento do Mentor duro, denso, complexo, até o acho bastante simples e linear. Acho sim que os actores nos transmitem isso, por isso é que digo que é um trabalho de actores, retire-lhe aquelas representações e diga-me lá; o que é que fica? Sem elas talvez o filme não conseguisse provocar tudo o que provoca, talvez não conseguisse ser o filme que é. Provavelmente por isso o PTA os foi buscar e esperou um ano até que todos estivessem disponíveis.
    Mas entendeu o que eu quis dizer? Pessoalmente gostava de o ver nomeado para melhor argumento, porque gostei do resultado final e porque gosto de tudo o que PTA faz, mas também entendo perfeitamente porque não está. Também gostava que o Phoenix ganhasse o Oscar, mas admito que o papel de Lincoln requer mais técnica. Eu tenho a mania de fazer isto, gosto de observar todos os lados, de ir além das minhas impressões pessoais e de chavões.
    Quanto ao Kubrick acho que foi e continua a ser devidamente reconhecido, tal como Hitchcock e outros, e continuo a dizer, não fosse a indústria norte- americana e provavelmente hoje nem saberíamos que tinham existido.
    Quanto ao Argo concordo com tudo o que disse. Eu não gostei nada, aquilo não me interessa nada, etc etc… mas também entendo que possa ser um bom trabalho.
    Kubrick tem muito pouco de abstracto é até bastante concreto e directo e a Nouvelle Vague não tem mesmo nada. Mas digo isso porque, obras mais pessoais e abstractas ( mais fechadas no seu íntimo interpretativo) tendem a transformar-se em peças de museu. Enquanto que as mais viradas para fora, para o público, que contam uma história ou um episódio, continuam a ser vistas por todos. E se for uma história muito boa e muito bem contadinha, com umas belas de umas personagens, transforma-se num grande clássico do cinema.
    P.S : qual acha que é a temática de The Master?

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  23. Por pontos novamente (é mais simples para articular raciocínio e escrita):

    - Não estamos de acordo quanto à suposta simplicidade e linearidade do argumento de The Master. Temática: o lado negro do "American dream", a impossibilidade que isso representa para várias gerações por quaisquer que sejam as suas marcas. A alucinação, o vício e o espírito livre em contraste com a sociedade que o tenta refrear, amanssar, acorrentar. Mas que não sabe como fazê-lo - nem o lado "bom", a sociedade civil que não consegue incorporar os seus veteranos de guerra, os seus retornados, os seus emigrantes, as suas minorias raciais, etc.; nem o lado "mau" personificado num guru, misto de charlatão e curandeiro, com um poder retórico abismal e uma semelhante capacidade analítica para entender o tempo e o espaço à sua volta e a oprtunidade de ser reconhecido e fazer fortuna à custa da ignorância e fé de uns, dos traumas e medos de outros, e do reaccionarismo e ganância de ainda outros. É um poderoso filme sobre o lado sombrio da tão amada e admirada América. E por isso foi recebido com tanta estranheza e desconfiança nos EUA. E por isso é tão complexo e denso. E por isso é tão bom;
    - Ponto prévio: Day-Lewis é um génio vivo, Phoenix é um grandíssimo actor. Dito isto, o papel do britânico requer mais técnica (é um biopic de uma das personagens mais conhecidas dos EUA e do mundo moderno, não havia outra hipótese) mas o de Phoenix é uma ode à alucinação. É um daqueles murros no estômago que não se esquecem tão cedo;
    - Continuo a entender que nem Hitchcock nem Kubrick tiveram, em vida, o reconhecimento que mereciam ter por parte da Academia; continuo a entender que o facto de só reconhecer-se Kubrick com a dimensão merecida a título póstumo é uma enorme falha; continuo a entender que a Academia e mais especificamente a Cerimónia dos Óscares servem acima de tudo para galardoar e não para simplesmente dar a conhecer. A divulgação está primeiramente a cargo doutros meios (estúdios, produtoras, agentes, realizadores, actores, imprensa generalista e especializada, etc.) ou até dos outros festivais que regra geral antecedem e "preparam" o caminho para os Óscares. Os prémios da Academia são, supostamente, o topo, o cume da montanha. Chegados aí devem ser galardoados os melhores dos melhores. Kubrick foi um dos melhores de sempre e não venceu nada de importante numa carreira de algumas décadas;
    - Kubrick é concreto e directo? Dr. Strangelove, 2001 ou Eyes Wide Shut não são abstractos? Se não, então a nossa definição de "abstracto" não é a mesma;
    - A Nouvelle Vague não tem nada de abstracto? O rompimento com convenções comerciais, o dogma do "cinema de autor", o corte com a linearidade narrativa, a sátira, os excessos, o experimentalismo e a arrogância (Godard é obviamente o exemplo acabado). Como tão bem diz, o que é abstracto tende normalmente a tornar-se peça de museu. Foi exactamente no que se tornou a Nouvelle Vague, só ainda não perceberam os sobreviventes dessa geração.
    - Metropolis, A Clockwork Orange, The Tree of Life. Décadas de 20, 70 e 2010. Quase um século entre o primeiro e o último. Não são filmes virados para o público, não contam uma história ou um episódio demarcados, não foram, são ou serão vistos por todos. Ainda assim, clássicos de cinema. O cinema é abstracto até nisso: não há regras convencionadas para o que é ou não bom, para o que irá ou não perdurar na memória.

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  24. Estou inclinado para concordar maioritariamente com o JP, estes pontos que usou podiam ser palavras minhas.

    MAS... Nouvelle Vague não é abstracto... é do mais real que o Cinema já viu :)

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  25. Já desconfiava que iria reduzir a temática de um filme com tamanha carga poética a um tema tão mundano e politico.( e como é que eu desconfiava disso?! Ah… boa pergunta…) Antes de continuar deixe-me referir que tenho pena que a personagem do mentor lhe tenha transmitido tão pouco, aliás tenho pena que o filme lhe tenha transmitido tão pouco.
    Na minha opinião o filme resume-se a duas cenas:
    1º Quando Freddie volta para visitar a Doris, depois de abandonar o mentor ( que o adora) e é informado de que ela casou e mudou de cidade.
    2º a cena em que vemos Freddie prosseguir o seu caminho depois do último encontro com o mentor. Também de destacar a forma como Freddie de uma forma tão serena decide, apesar do pedido para ficar do mentor, ir embora. (talvez por já não precisar da cura, talvez por já não precisar daquelas pessoas?...)
    Continuo a dizer que os Oscar não só premeiam como servem para divulgar os melhores filmes, realizadores, etc ,principalmente às massas. Os Oscars avaliam, não é à toa que qualquer profissional de cinema ambiciona entrar para a galeria dos galardoados. Diz muito bem que Kubrick foi um dos melhores de sempre e nunca recebeu nada de importante, mas foi principalmente reconhecido pela academia e isso é um facto que ninguém pode negar.
    Kubrick criava atmosferas dúbias, mas não era abstracto. Até tinha por hábito concretizar sempre no final das suas histórias com uma cena ou uma frase. Abstracto não é o mesmo que irreal ou ficcional. O que diz da Nouvelle Vague não é abstraccionismo é inovação ou vanguarda, são conceitos diferentes. Por isso é que o movimento se denomina “ Nouvelle Vague”.
    Desconhecia por completo que A Clockwork Orange não contava uma história, para mim é uma novidade. É que eu sempre consegui ver uma história com princípio meio e fim, Quanto aos outros exemplos que cita eu encaro-os mais como exercícios artísticos que de uma forma ou de outra acrescentam alguma coisa de novo. Por exemplo, acha que podemos considerar Un Chien Andalou ( excelente exemplo de abstraccionismo) um clássico do cinema ou mais um exercício de expressão artística que veio trazer algo de novo?

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  26. Meu caro, folgo em saber que os seus dotes de Nostradamus funcionam às mil maravilhas! Até já sabia exactamente que interpretação supostamente minimalista e redutora é que tinha do filme e tudo! Por acaso não é familiar de Lancaster Dodd, não?!
    Adiante. Penso nas duas cenas que enumera (é curioso que supostamente o filme não me tenha transmitido nada quando o caro Anónimo consegue reduzi-lo a duas cenas) e não trazem nada de especial à memória. Arrisco-me a dizer que são até sequências lógicas.
    Não vimos com certeza The Master com os mesmos olhos. Como não interpretamos a função da Academia e da sua cerimónia da mesma forma. E como não concordamos com a definição de "abstracto".
    Terminando, e respondendo à última questão que coloca, reitero o que disse no post anterior: não há regras convencionadas para o que é ou não bom, para o que irá ou não perdurar na memória. O que para si podem ser "exercícios de expressão artística que de uma forma ou de outra acrescentam alguma coisa de novo" para mim podem ser clássicos de cinema. O que, na minha modesta opinião, não é o caso de Un Chien Andalou (era tão fácil ir buscar Buñuel, não era?!). Mas é efectivamente o caso dos três exemplos que dei anteriormente.

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  27. A primeira cena que eu refiro não lhe trás nada à memória!... É como lhe digo, tenho pena, porque menosprezou uma das cenas mais bonitas e impressionantes de que tenho memória e perdeu o filme todo. Realmente, sendo assim só podemos concordar em muito pouco, ou em coisa nenhuma. Eu dou-lhe um conselho para o futuro, evite ver filmes através dos olhos da crítica generalizada e veja com os seus próprios olhos. É possível que venha a ter experiências memoráveis.

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  28. Obrigado Anónimo, informação retida. Vou comprar uns olhos novos.

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